Condenados ao afogamento ou à detenção forçada na Líbia

“Por que as pessoas são trazidas de volta para cá? Por que os italianos não nos salvaram? É desumano sermos deixados durante todo esse tempo no mar. Eu estava lá, vi pessoas morrendo. Menos de 100 pessoas sobreviveram. Havia muitas crianças no barco. A maioria delas morreu. Eu não teria me arriscado se não houvesse uma guerra em Trípoli. Mesmo que a Europa não quisesse nos dar asilo, eles não deveriam nos deixar morrer no mar.”

“Nós fomos abandonados no mar. As pessoas perderam a esperança. Por que deixamos as pessoas morrerem no mar? Eles têm todos os meios para nos resgatar. Somos todos humanos. Se tentamos ir à Europa é para ter uma vida melhor. As pessoas continuarão atravessando o mar. Há pessoas que estão fugindo da guerra, outras da pobreza. Elas devem ser resgatadas e, posteriormente, cada caso individual deve ser analisado. Nós não estamos na Líbia para ficar aqui, queremos ir à Europa. Nós não somos criminosos."

Mãe: “Nós fugimos porque não nos sentimos seguros na Líbia. Temos medo de sermos vítimas do tráfico de pessoas. As pessoas têm medo. Não há liberdade para nós. Meu menino nasceu na prisão.”Filho: “Estou aqui com minha mãe e minha irmã. Nós atravessamos o mar para ir à Europa. Passamos muitas horas no bote. Não tínhamos água para beber, então bebemos água salgada. Eu achei que a guarda costeira italiana iria nos resgatar, mas vimos os líbios chegando e eles nos trouxeram de volta. Vi os corpos de duas pessoas que morreram durante a travessia e muitas pessoas choravam.”

“No barco havia muitos idosos, mulheres e crianças. Apenas alguns estavam com coletes salva-vidas. A maioria das pessoas não sabe nadar. Imagine: você vai atravessar o mar e não sabe nadar. Elas se afogaram imediatamente. Eu me lembro dos corpos flutuando. Havia também uma família líbia conosco. Eles perderam a filha no naufrágio.”

“Pedimos ajuda e eu estava dizendo à mulher no telefone: 'por favor, venha e nos salve'. Ela não sabia falar árabe, ela estava falando inglês. Eu repetia: 'por favor, há muitas crianças e mulheres'. Já era tarde. As pessoas começaram a se afogar. Muita gente morreu. Por que eles não nos salvaram? Nós vimos um avião. Eles jogaram botes e embarcamos. Eu gritava pedindo ajuda. Todo mundo naquele barco estava tentando salvar sua própria vida. Eu perdi meu marido, mas graças a Deus ainda estou viva. Eu não estava de colete salva-vidas, mas havia uma mulher ao meu lado que só tinha uma perna, lembro que ela não sabia usar o colete nem nadar. Eu a ajudei a vesti-lo e consegui me salvar graças a ela, segurando seu colete. Finalmente entrei em um pequeno bote salva-vidas que o avião lançou e consegui me salvar.”

“O sol estava muito forte e o barco começou a desinflar. Todos os bebês morreram. Como podemos ficar tantas horas na água sem sermos resgatados? As pessoas começaram a beber água salgada. Por que eles nos deixaram morrer no mar?”