MSF fornece assistência a 240 vítimas de trauma em hospital no Sudão

Em apenas uma semana, uma equipa da Médicos Sem Fronteiras (MSF) a trabalhar num hospital em Cartum forneceu tratamento a 240 vítimas de trauma, com o apoio de profissionais sudaneses e voluntários. Muitas delas tinham sofrido ferimentos de balas ou lesões resultantes de explosões, devido aos constantes ataques aéreos e bombardeamentos na capital.

Desde que os confrontos eclodiram na capital sudanesa no passado mês de abril e se espalharam consecutivamente para outras áreas do país, os hospitais e as instalações de saúde têm enfrentado imensos desafios para continuar a funcionar. Enquanto que umas unidades ficaram praticamente destruídas, outras têm falta de profissionais, visto que imensas pessoas fugiram da cidade ou não se sentem seguras para sair de casa. O Hospital Universitário de Bashair, no Sul de Cartum, foi uma das instalações que teve de encerrar totalmente durante um tempo.

“Alguns médicos, enfermeiros e jovens da comunidade, tomaram a decisão de tentar reabrir este hospital após ter encerrado, porque os profissionais deixaram de trabalhar para se protegerem da violência. Então, quando a equipa cirúrgica chegou à região Sul da cidade, deparámo-nos com um hospital onde as pessoas estavam a trabalhar imenso e a correr grandes riscos. Juntámo-nos a eles para prestar apoio e reforçar os cuidados médicos e cirúrgicos vitais para as pessoas nesta área”, sublinha o coordenador de emergências da MSF, Will Harper.

“Quando chegámos, era um caos”, acrescenta o médico da MSF, Hiham Eid. “O hospital não estava operacional. Alguns médicos e voluntários faziam o melhor que conseguiam para fornecer assistência a um grande número de pacientes, apesar de faltarem todo o tipo de provisões e equipamentos, incluindo eletricidade. Agora está a melhorar e conseguimos atender os pacientes de forma eficaz.”

Quando a equipa cirúrgica chegou à região Sul da cidade, deparámo-nos com um hospital onde as pessoas estavam a trabalhar imenso e a correr grandes riscos” – Will Harper, coordenador de emergências.

Foram realizados mais de 240 procedimentos cirúrgicos desde que a equipa da MSF começou a trabalhar no hospital a 9 de maio. Casos críticos eram bastante frequentes e, em média, foram realizados cerca de quatro procedimentos complexos por dia.

“Vimos vários pacientes com ferimentos de balas e facadas em estado crítico, que não sobreviveriam sem cirurgia”, frisa o cirurgião da MSF, Shahzid Majeed. “Tratámos ferimentos no peito, abdómen, fígado, baço, rins e intestinos. Realizámos também cirurgias reconstrutivas e vasculares, sem as quais os pacientes teriam morrido ou perdido um membro.”

Garantir que a equipa de cirurgias e os restantes profissionais médicos têm as provisões certas para continuar a providenciar cuidados de saúde é difícil. A MSF e outras organizações têm realizado doações de equipamentos e artigos médicos que já estavam armazenados no país a hospitais em Cartum e noutras regiões. Mas os constantes atrasos no envio de provisões para áreas do país em situações mais vulneráveis são um verdadeiro desafio. O combustível para os geradores é uma das principais preocupações, assim como o fornecimento de eletricidade, que é quase sempre intermitente.

“Conseguimos reforçar a prestação de cuidados e as capacidades de alguns voluntários e profissionais aqui. Já realizámos procedimentos cirúrgicos complexos, por causa da violência. Contudo, deparamo-nos sempre com obstáculos quando queremos ampliar os cuidados pós-operatórios, o controlo de infeções… todas estas coisas que são um desafio em qualquer hospital tornam-se ainda mais complicadas quando temos acesso limitado a água, eletricidade e provisões médicas”, explica Will Harper.

Sem fim à vista, o conflito continuará a criar necessidades médicas e a deixar pessoas em situações cada vez mais vulneráveis. O fornecimento de provisões e o reforço das capacidades das equipas médicas são essenciais para garantir que as pessoas feridas pela violência têm acesso a cuidados de saúde vitais.

As atividades cirúrgicas em Cartum são um dos projetos levados a cabo pela MSF no Sudão. A organização trabalha em Cartum, Darfur do Norte, Darfur Ocidental, Darfur Central, e nos estados de Al-Jazeera, Nilo Azul e Al-Gedaref, prestando apoio às comunidades em hospitais e clínicas, mas também através de clínicas móveis. As equipas distribuem artigos não-alimentares e realizam atividades de água e saneamento. A MSF está comprometida a permanecer no Sudão e a continuar a fornecer assistência médica e humanitária às pessoas afetadas pela crise no país.