A equipa da MSF presta atendimento ao paciente Antonio Castro, de 99 anos, no centro de cuidados de saúde da MSF para COVID-19 em São Gabriel da Cachoeira, no estado do Amazonas, Região Norte do Brasil. Julho, 2020.
© Diego Baravelli

Exclusão no acesso a cuidados de saúde

As equipas da Médicos Sem Fronteiras levam cuidados a populações que, por quaisquer motivos, estejam privadas do acesso a serviços de saúde.

São diversos os fatores que podem inviabilizar este acesso: durante conflitos armados, a insegurança limita as deslocações e a ameaça de violência cria medo; por vezes, esta insegurança e violência motivam, também, a fuga maciça de profissionais de saúde de uma determinada localidade; a inexistência de um sistema de saúde público institucionalizado e a escassez de profissionais de saúde é comum em diversos países de baixos rendimentos; os desastres naturais podem destruir infraestruturas de saúde; a falta de recursos financeiros pode impossibilitar o uso de qualquer tipo de transporte para se chegar às poucas unidades de saúde disponíveis em regiões de difícil acesso; e, por vezes, a cobrança de taxas referentes às consultas e aos medicamentos pode restringir o acesso à saúde.

Na tentativa de providenciar serviços essenciais e superar estes obstáculos, as equipas da MSF avaliam o contexto para pôr em prática a solução que melhor se adapte ao cenário encontrado. A organização pode investir na construção de equipamentos de saúde permanentes ou provisórios, de acordo com a necessidade de saúde identificada no local, e mobilizar clínicas móveis, que têm por objetivo levar cuidados até às regiões e comunidades mais remotas.

Annie Kashung, coordenadora das atividades médicas da MSF, presta atendimento durante um surto de malária no Norte de Darfur, no Sudão. Outubro de 2019.
© Igor Barbero/MSF

No sistema de saúde da República Centro-Africana, por exemplo, os pacientes têm de pagar do seu próprio bolso para financiar o custo que o seu atendimento representa. O sistema não funciona. Nem para os pacientes, nem para o sistema de saúde. Na realidade, num país como a República Centro-Africana, onde o Estado é frágil, a população é pobre e a prevalência de doenças é grande, o sistema da política de contrapartidas contribui para abandonar a prestação de cuidados de saúde primários à maioria da população. As taxas bloqueiam o acesso a cuidados de saúde. No entanto, em muitos países, elas ainda existem.

A violência urbana presente no quotidiano de vários países também pode ser uma limitação para o acesso a cuidados de saúde. “Independentemente dos recursos que o México tem como país, parte da população tem de enfrentar diretamente situações de extrema violência e encontra dificuldades no acesso ao sistema de saúde. Organizações criminosas que operam em grande parte do país usam métodos e estratégias que têm consequências médicas e humanitárias graves para a população. Há programas de promoção e prevenção que foram suspensos e infraestruturas de saúde que já não estão operacionais devido à falta de pessoal com formação. Estas pessoas geralmente têm de reduzir a sua carga horária e ficam expostas a roubos ou são ameaçadas nas regiões afetadas pela violência. Tudo isto afeta os pacientes, que têm cada vez menos acesso a serviços de saúde”, explica Emiliano Lucero, que foi coordenador médico por um ano, entre 2013 e 2014, no México.

No Afeganistão, cujo sistema de saúde teve recentemente iniciativas bem-sucedidas, a falta de recursos e os altos custos dos serviços disponíveis foram apontados como as principais barreiras no acesso a cuidados de saúde, de acordo com o estudo publicado pela Médicos Sem Fronteiras em fevereiro de 2014.