5 países que enfrentaram outras epidemias junto com a COVID-19

Epidemias, muitas de doenças evitáveis, desafiaram o sistema de saúde de países já afetados pela COVID-19; conheça também as respostas de MSF a esses surtos.

5 países que enfrentaram outras epidemias junto com a COVID-19

Desde o início da pandemia de COVID-19, em março de 2020, sistemas de saúde em todo o mundo têm sido sobrecarregados pela alta necessidade de suprimento vitais para o tratamento de pacientes e pelo ritmo lento de vacinação em muitos países. Ao mesmo tempo, a pandemia afetou o acesso de comunidades a outros serviços essenciais de saúde, já que grande parte dos profissionais de saúde foram alocados para o tratamento de pessoas infectadas pela COVID-19. Em alguns países, essa realidade é ainda mais agravada pela presença de demais surtos que ocorreram no decorrer da pandemia.  

Médicos Sem Fronteiras (MSF) tem trabalhado a todo vapor para conter as epidemias que colocam milhares de vidas em risco pelo mundo. Conheça alguns países que lidaram ou ainda estão enfrentando altos números de casos de outros surtos além da COVID-19, e como nossas equipes estão atuando em resposta a essas realidades.  

1. Surto de sarampo na Somália

Devido à falta de um programa de vacinação de rotina e ao sistema de saúde precário, o sarampo é altamente prevalente na maior parte da Somália. A doença afeta crianças de todas as idades durante vários períodos do ano. Desde 2014, surtos em Jubalândia registraram 3.904 crianças infectadas com sarampo e 29 mortes em instalações médicas, de acordo com o Ministério da Saúde. Acredita-se que muitos outros casos não foram relatados. Durante o último pico da doença na cidade de Dhobley, entre março e abril deste ano, duas crianças menores de cinco anos morreram de sarampo.

Em maio de 2021, Médicos Sem Fronteiras (MSF) apoiou a equipe do Ministério da Saúde para realizar uma campanha de vacinação contra o sarampo de um mês em Dhobley, na região de Lower Juba, na Somália. Ao todo, 7.859 crianças entre seis meses e 15 anos foram imunizadas. Como o sarampo constantemente resulta em carência de vitamina A, o que pode levar à cegueira, a população atendida também recebeu suplementos vitamínicos, e as menores de cinco anos foram examinadas para desnutrição. “Acredita-se que o sarampo seja responsável por mais mortes de crianças do que qualquer outro micróbio, devido a complicações de pneumonia, diarreia e desnutrição. Portanto, é importante ter uma alta cobertura vacinal entre a população”, disse o consultor para assuntos médicos de MSF, Adan Abdi.

2. Epidemias de Ebola e sarampo na República Democrática do Congo

De janeiro a maio deste ano, mais de 13 mil casos de sarampo foram relatados da República Democrático do Congo (RDC) e, entre 2018 e 2020, o país viveu sua pior epidemia da doença já registrada. Neste período, 460 mil crianças contraíram sarampo e quase 8 mil delas morreram. Em dezembro de 2020, MSF enviou equipes a áreas fortemente afetadas pelo surto para levar cuidados médicos e vacinação à população. Os profissionais também ofereceram treinamento para os times de saúde locais com o objetivo de conter novos picos de sarampo.

Em 7 de fevereiro, a RDC declarou um novo surto de Ebola na província de Kivu do Norte, no nordeste do país. MSF trabalhou para responder à epidemia desde seu início e recebeu com alegria a declaração do fim do surto, em 3 de maio. Kivu do Norte – juntamente com as províncias de Kivu do Sul e Ituri – foi também o local da epidemia de Ebola mais devastadora do país, que ocorreu entre agosto de 2018 e junho de 2020. Neste período, 3.470 casos e 2.287 mortes por Ebola foram registrados.

3. Casos de sarampo, meningite e malária no Níger

“O Níger, na África, sofre com epidemias de sarampo anualmente, mas, este ano, ela está descontrolada como consequência da insegurança causada por conflitos e dos efeitos indiretos da COVID-19”, disse o coordenador médico de MSF François Rubona. No primeiro trimestre de 2021, o país registrou 3.213 casos da doença, em comparação aos 1.081 notificados no mesmo período do ano passado, segundo dados do Ministério de Saúde Pública. MSF trabalhou para conter a falta de imunização de rotina com campanhas de vacinação em massa durante o período.  

A carência de cobertura vacinal também é motivo de outras complicações médicas no país, como a meningite. Rubona relatou ter presenciado alguns diagnósticos da doença durante o trabalho em Níger e 1.100 casos de meningite já haviam sido registrados até maio deste ano. “Ao mesmo tempo, estamos monitorando de perto outras doenças sazonais que atingem a população, como a malária e a desnutrição. No ano passado, o pico do surto de malária foi extremamente grave, pois foi mais alto, com maior número de casos, e durou por mais tempo do que o normal, terminando apenas em 2021″.

4. Epidemia de hepatite E em Burkina Faso

Entre julho de 2020 e janeiro de 2021, nossas equipes na cidade de Barsalogho atenderam 730 pessoas com sintomas de icterícia, a maioria diagnosticada com hepatite E. A doença costuma ser leve, mas é particularmente ameaçadora para gestantes e lactantes, causando complicações e, em alguns casos, a morte. Em Burkina Faso, mais de um milhão de pessoas foram deslocadas por conta da violência e da falta de recursos. Muitos vivem com pouco acesso à água potável, saneamento e higiene no país, aumentando a exposição à hepatite E, normalmente transmitida através da água contaminada.

“No combate à hepatite E em Barsalogho, imediatamente isolamos as pessoas infectadas, tratamos e iniciamos a triagem no restante da comunidade. Os agentes comunitários de saúde encaminharam mais de 470 pessoas aos centros de saúde, reduzindo, pelo menos um pouco, a transmissão da doença. As pessoas que tratamos em ambulatórios e no centro de saúde, bem como as comunidades em geral, receberam aconselhamento sobre medidas de higiene e fatores de risco relacionados à hepatite E”, contou a epidemiologista de MSF Brama Diarra. As equipes também atuaram para melhorar o acesso à água potável, construíram latrinas em locais para deslocados e distribuíram kits de higiene na região.

5. Cólera no Quênia

Em 2020, chuvas intensas provocaram inundações e o deslocamento de muitas pessoas no Quênia. E, no nordeste do condado de Marsabit, a cidade de Telesgaye enfrentou um surto de cólera em maio daquele ano. Os primeiros casos da doença foram registrados em dezembro de 2019, em Silicho, a seis quilômetros de Telesgaye. Desde que o surto foi declarado, 274 casos foram registrados até maio de 2020, desafiando o sistema de saúde local, já frágil por conta da COVID-19.  

Em resposta ao surto, MSF apoiou as autoridades médicas do condado no centro de saúde de Telesgaye.  O trabalho incluiu a estruturação de uma unidade de tratamento de cólera de 10 leitos e a adição de mais seis leitos para complementar os quatro existentes na unidade de saúde de Illeret, a 10 quilômetros de Telesgaye.

 

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