Academia de Saúde da MSF visa a capacitação de profissionais locais

O programa não só melhora a qualidade dos cuidados providenciados a pacientes, como também contribui para recursos humanos mais bem formados para o sistema de saúde

© Alicia Gonzalez/MSF, 2023

Changkuoth Yoal é um enfermeiro recém-formado na Academia de Saúde da Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Lankien, no estado de Jonglei, Sudão do Sul. Numa região gravemente afetada por conflitos intercomunitários e um sistema de saúde frágil, Changkuoth está entre 88 formandos que completaram com sucesso o programa intensivo de dois anos de formação clínica. Este programa é composto por cinco módulos de aprendizagem sobre cuidados básicos de enfermagem e centra-se em 85 competências.

A paixão de Changkuoth Yoal pelos cuidados de saúde desenvolveu-se aos 19 anos quando testemunhou a mãe a lutar pela vida contra a kala azar (também conhecida como leishmaniose visceral), a segunda doença parasitária mais mortífera a nível mundial. Durante o tratamento da mãe, observou a dedicação de profissionais de saúde e sentiu-se inspirado a seguir uma carreira na área.

“A aprendizagem na academia teve um grande impacto em mim”, refere Changkuoth Yoal, de 26 anos. “Aprendi imensas coisas que nunca tinha praticado antes. Com esta formação, estou um passo mais perto do meu sonho de salvar vidas na minha comunidade e providenciar cuidados dignos e de qualidade.”

A MSF tem mais de 3 000 profissionais no Sudão do Sul, mais de 90 por cento dos quais recrutados localmente. Apesar disso, encontrar pessoas que trabalhem na área da saúde e sejam qualificadas para providenciar serviços essenciais permanece um grande desafio, dado que décadas de conflito e pouco investimento nos cuidados de saúde deixaram o país com uma grave escassez de infraestruturas médicas e de profissionais qualificados. Assim, a organização médica-humanitária viu a necessidade de investir na formação e na capacitação da força de trabalho médica, através da Academia de Saúde da MSF.

Trabalhando em colaboração com o Ministério da Saúde do país, a Academia de Saúde da MSF iniciou este programa na República do Sudão do Sul e na Área Administrativa Especial de Abyei, em 2019. Até à data, a MSF tem formado profissionais de saúde em sete regiões que incluem Lankien e Old Fangak, no estado de Jonglei, Maban e Malakal, no estado do Alto Nilo, Pibor, Maruwa e Boma, na Área Administrativa de Greater Pibor, e também em Agok, na Área Administrativa Especial de Abyei.

A Academia da MSF tem como objetivo profissionalizar a formação de trabalhadores da área da saúde. Tem-se focado principalmente em trabalhadores locais que providenciam cuidados de enfermagem, assistência a partos ou cuidados a pacientes em regime ambulatório. As especificidades da abordagem adotada pela Academia da MSF residem no apoio prestado aos formandos no local onde trabalham,” referiu a representante da MSF no Sudão do Sul que tutela o projeto da Academia de Saúde, Serviour Dombojena.

Os formandos de Lankien são o segundo grupo a completar esta aprendizagem de capacitação no Sudão do Sul, dado que 35 o fizeram em Old Fangak no ano passado. A maioria continua a trabalhar com a MSF, enquanto outras pessoas trabalham para o Ministério da Saúde e outras organizações no país. Assim, o programa não só melhora a qualidade dos cuidados providenciados a pacientes, como também contribui para recursos humanos mais bem formados para o sistema de saúde. Estão atualmente integrados na Academia da MSF mais de 100 formandos no curso básico de cuidados de enfermagem e 27 no currículo do departamento de consultas externas.

“Venho de uma zona onde não há médicos. Quero muito ajudar a minha comunidade como profissional de enfermagem. É a coisa mais pequena que posso fazer para mudar a vida das pessoas na minha comunidade. Ter esta possibilidade de estudar, de ganhar competências, é uma grande oportunidade. Acredito que vai fazer de mim uma pessoa que realmente ajuda na comunidade”, explica Jal Gatkek, que está a ter formação na Universidade de Enfermagem e Assistência a Partos de Juba, no Sudão do Sul, através de um programa de bolsas de estudo atribuídas pela Academia da MSF.

À volta do mundo, a Academia da MSF opera em países onde não existe capacidade para investir totalmente no sistema de saúde e que têm imensas necessidades médicas. Atualmente tem programas a decorrer na República Centro-Africana, Guiné, Mali, Nigéria, Iémen e Serra Leoa, e está a equacionar a expansão para países como o Burkina Faso, Afeganistão e outros.

O objetivo final da Academia da MSF é promover melhorias duradouras na qualidade dos cuidados providenciados e diminuir progressivamente a pegada de trabalhadores internacionais, assistindo profissionais de saúde dos próprios países a alcançar novos níveis de competências e autonomia.

À medida que Changkuoth Yoal e outros colegas profissionais de saúde, que trabalham nas primeiras linhas de resposta às necessidades existentes, se vão formando na Academia da MSF, este programa dá-lhes mais esperança para continuar a prestar serviços comunitários e a oferecer melhores cuidados de saúde às pessoas.

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