Após passagem do ciclone Chido, MSF realiza atividades para melhorar o acesso da população a cuidados de saúde em Moçambique

O ciclone agravou os desafios existentes em Cabo Delgado, onde o sistema de saúde já estava gravemente enfraquecido pelo conflito

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As equipas da MSF doaram kits de emergência e medicamentos ao Ministério da Saúde de Moçambique, na província de Cabo Delgado, na sequência do impacto devastador do ciclone Chido.
©️ Marília Gurgel/MSF

A Médicos Sem Fronteiras (MSF) lançou uma resposta de emergência, em dezembro passado, em parceria com o Ministério da Saúde de Moçambique (MISAU), para garantir que as pessoas tenham acesso adequado a cuidados de saúde, na zona mais afetada pelo ciclone Chido no Norte do país.

O ciclone Chido, que atingiu Moçambique a 15 de dezembro, causou devastação e afetou centenas de milhares de pessoas, além agravar ainda mais a situação do sistema de saúde no país, atingido por conflitos. A MSF apela aos doadores e outras organizações humanitárias para que mobilizem rapidamente apoio para responder às necessidades das pessoas afetadas por esta emergência.

As equipas móveis da MSF vão concentrar-se na prestação de cuidados de saúde mental e no apoio logístico. No principal centro de saúde do distrito de Mecufi, na província de Cabo Delgado, a MSF também vai ajudar a continuar a gerir a sala de emergências, as enfermarias pediátricas e de maternidade, além de prestar cuidados de saúde gerais, de saúde sexual e reprodutiva, tratamento do VIH, da tuberculose e de doenças crónicas, e a avaliar a desnutrição.

 

As equipas da MSF doaram kits de emergência e medicamentos ao Ministério da Saúde de Moçambique, na província de Cabo Delgado, na sequência do impacto devastador do ciclone Chido. ©️ Marília Gurgel/MSF

 

“Desde o início do ciclone, mobilizámos equipas já presentes noutras áreas de Cabo Delgado, em meio ao conflito em curso, para avaliar o impacto da tempestade nos distritos afetados de Pemba, Metuge e Mecufi”, avança Jacinta Francisco, responsável pela equipa de avaliação. “Todos os centros de saúde visitados em Metuge e Mecufi foram danificados pelo ciclone, com os serviços sendo prestados atualmente em tendas doadas, e os profissionais de saúde estão sobrecarregados pelo volume de trabalho e pelas perdas sofridas.”

O ciclone agravou os desafios existentes em Cabo Delgado, onde o sistema de saúde já estava severamente enfraquecido pelo conflito. Além da necessidade de reparos estruturais, serviços básicos como água potável e eletricidade também foram interrompidos em muitos centros de saúde, o que limitou ainda mais a oferta de cuidados. Essa situação é exacerbada pela falta de atenção à província, refletida na redução de recursos financeiros, dificultando a resposta de outras entidades humanitárias que já operam com recursos limitados.

 

O ciclone Chido deixou um rasto de destruição, agravando a pressão sobre um sistema de saúde já enfraquecido pelo conflito em curso em Cabo Delgado. No centro de saúde de Murrebue, ventos fortes arrancaram o telhado, deixando toda a instalação gravemente danificada.
O ciclone Chido deixou um rasto de destruição, agravando a pressão sobre um sistema de saúde já enfraquecido pelo conflito em curso em Cabo Delgado. No centro de saúde de Murrebue, ventos fortes arrancaram o telhado, deixando toda a instalação gravemente danificada. ©️ Marília Gurgel/MSF

 

Até o dia 23 de dezembro, 622 610 pessoas foram afetadas no Norte de Moçambique, principalmente em Cabo Delgado, mas também nas províncias de Nampula e Niassa. No total, 116 pessoas morreram, 877 ficaram feridas; 140 000 casas, 250 escolas e 52 unidades de saúde foram parcial ou completamente destruídas. Estes números devem aumentar à medida que novas avaliações forem realizadas. A maioria das casas, feitas de barro e bambu, mostrou-se altamente vulnerável à tempestade.

“As pessoas estão divididas entre procurar alimento e reconstruir as suas vidas”, conta Jacinta. “Muitos sobreviventes perderam familiares, casas e meios de subsistência. O apoio em saúde mental é crucial, não apenas para as comunidades afetadas, mas também para os profissionais de saúde, exaustos e com recursos limitados para responder à situação atual.”

Em dezembro, as equipes da MSF doaram ao Ministério da Saúde medicamentos como antibióticos e kits de emergência, incluindo artigos para tratar ferimentos, material de sutura e conjuntos de infusão.

 

As pessoas estão divididas entre procurar alimento e reconstruir as suas vidas”

 

A MSF também doou e instalou uma tenda para ser utilizada como maternidade no centro de saúde de Nanlia, apoiou a infraestrutura no centro de saúde de Mecufi e consertou a conexão de cabos entre o gerador de energia e o prédio do centro de saúde na cidade de Metuge, tornando a sala de cirurgia novamente funcional.

Moçambique é um país altamente vulnerável à crise climática e frequentemente enfrenta o risco de ciclones nesta altura do ano. A tempestade impactou o acesso da população a água potável, aumentando o risco de doenças transmitidas pela água.

“Estamos particularmente preocupados com o potencial surgimento de doenças como cólera, que é endêmica na região”, explica Luisa Suárez, coordenadora médica da MSF em Moçambique. “Ou com o aumento dos casos de malária, que já estavam em alta nas instalações de saúde apoiadas por nós antes do ciclone.”

 

O centro de saúde da cidade de Mecufi, em Cabo Delgado, após a passagem do ciclone Chido.
O centro de saúde da cidade de Mecufi, em Cabo Delgado, após a passagem do ciclone Chido. ©️ Marília Gurgel/MSF

 

O ciclone Chido adicionou um novo fardo a Cabo Delgado, onde, segundo a ONU, 576 000 pessoas permanecem deslocadas em diferentes partes da província devido ao conflito iniciado em 2017. Além disso, 630 000 pessoas regressaram a zonas previamente afetadas pela violência.

“Este desastre natural vem juntar-se à crise provocada pelo homem, deixando as pessoas no Norte de Moçambique, que já estavam em uma situação frágil devido à violência, ainda mais vulneráveis”, frisa Suárez. “É crucial mobilizar o apoio de outras organizações humanitárias para responder rapidamente a esta crise.”

 

A MSF realiza atividades médicas e humanitárias em Cabo Delgado desde 2019 para auxiliar pessoas afetadas pelo conflito, por meio de serviços comunitários e apoio a centros e hospitais de saúde. Operamos projetos nos distritos de Palma, Mocímboa da Praia, Mueda, Muidumbe e Nangade, fornecendo apoio em saúde mental, melhorando sistemas de água e saneamento, consultas de saúde sexual e reprodutiva, e assistência a pessoas que vivem com VIH e tuberculose, entre outras atividades.

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