Bloqueio limita acesso a apoio e alimentos para a população de Djibo, no Burkina Faso

As dificuldades de acesso à cidade provocaram uma grave crise alimentar e nutricional, cuja dimensão é difícil de calcular

© MSF/Nisma Leboul, 2023

O Burkina Faso está a enfrentar uma crise humanitária sem precedentes: quase 2 milhões de pessoas foram obrigadas a deslocar-se internamente (dentro do país) para fugir à violência infligida por grupos jihadistas. No Norte, a cidade de Djibo enfrenta um bloqueio por grupos armados não estatais há mais de um ano, o que tornou extremamente difícil fazer chegar comida e apoio humanitário à população.

Devido às restrições na cidade, as pessoas não se podem deslocar livremente e o acesso aos serviços essenciais ficou altamente condicionado. Para quem vive em Djibo, a comida e a água tornaram-se bens limitados, bem como o acesso aos meios de comunicação e a eletricidade.

Os confrontos em curso nos arredores de Djibo entre as forças de defesa e segurança do Burkina Faso e os grupos armados não estatais levaram muitas pessoas a procurar refúgio na cidade. Conforme o Conselho Nacional de Assistência e Reabilitação de Emergência, dos mais de 300 000 habitantes, quase 270 000 estão internamente deslocados – metade são crianças a viver em acampamentos, ou com famílias locais.

Com as pessoas encurraladas pelo conflito, as condições de habitabilidade na cidade agravaram-se rapidamente e o apoio humanitário é cada vez mais necessário. Os recursos são tão escassos, que até é dificil encontrar sal e, por vezes, os habitantes de Djibo não têm outra escolha senão comer folhas de árvores.

Não tinha mais nada para dar às minhas crianças”, conta Safi, que teve de fugir com os cinco filhos. Partiu de Yalanga, a aldeia onde vivia, e percorreu 100 km com a família inteira até chegar a Djibo. Durante o caminho, o marido foi morto por grupos armados.  Agora, o dia a dia de Safi é pautado por distribuições de comida do Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas, ao mesmo tempo que vai procurando pequenos trabalhos domésticos.

“Ficou um pouco melhor nos últimos dias”, considera Safi. Pela primeira vez em quatro meses, uma caravana de alimentos e artigos essenciais chegou a Djibo, sob escolta armada. A melhoria é notável, mesmo que os efeitos combinados da crise alimentar e de segurança permaneçam preocupantes.

As dificuldades de acesso a Djibo provocaram uma grave crise alimentar e nutricional, cuja dimensão é difícil de calcular. Sem informação suficiente sobre o estado nutricional das pessoas, as entidades que prestam apoio depararam-se com imensas dificuldades em adaptar as respostas. Várias organizações mobilizaram-se quando soaram os primeiros alarmes em outubro de 2022, mas a assistência continua insuficiente. As atividades de nutrição iniciadas nas últimas semanas estão a responder às necessidades de crianças desnutridas, mas a falta de comida continuará a marcar um futuro incerto nos próximos meses.

Nos dias 8 e 9 de abril, as equipas da Médicos Sem Fronteiras (MSF) distribuíram 57 toneladas de barras de nutrição BP-5 a 14 456 crianças entre os 6 meses e os 5 anos de idade, o que equivale a um mês de alimentação. Estas barras são uma comida enriquecida usada como suplemento nutricional para prevenir a desnutrição, cujos ingredientes são: farinha de trigo, gordura, óleo vegetal, açúcar, proteína de soja, vitaminas e minerais. As barras BP-5 contribuíram temporariamente para responder às necessidades imediatas de uma grande parte da população.

Dificuldades na prestação de cuidados de saúde

O acesso a cuidados de saúde está também fortemente condicionado pelo bloqueio. A maioria dos profissionais médicos saiu da cidade e as dificuldades em obter medicamentos levaram ao encerramento de várias instalações de saúde. As unidades que continuam abertas, funcionam com capacidade limitada e continuam sem responder adequadamente às necessidades da comunidade, que se encontra numa situação de extrema vulnerabilidade. “Estamos a viver em grande sofrimento”, sublinha um líder comunitário.

Desde 2018, a MSF, em colaboração com o Ministério da Saúde, presta apoio no centro médico de Djibo com uma unidade cirúrgica, dois postos de saúde avançados e três locais comunitários de saúde.

No centro médico, os cuidados não têm custos e os pacientes e respetivas famílias recebem três refeições por dia. As unidades de cirurgia e emergência funcionam de forma autónoma, devido as paines solares instalados pela MSF.

A organização está também a trabalhar na reabilitação de pontos de água e na construção de poços, para facilitar o acesso a água potável para os habitantes e reduzir os riscos para as mulheres, que não precisarão de caminhar longas distâncias para obter água.

Hamadoum Moussa, supervisor de promoção de saúde da MSF, explica que o apoio também se estendeu aos profissionais da organização.“Além do que a MSF está a fazer pelo povo de Djibo, também as nossas equipas foram apoiadas. Não nos podemos esquecer de que esta situação teve um impacto em nós e nossas famílias”, frisa.

Nas alturas em que o bloqueio foi mais severo, foram providenciadas provisões de alimentos às equipas, que continuaram a trabalhar para responder às necessidades das pessoas na região. Apesar do contexto extremamente difícil, a solidariedade e a coesão social prevalecem na cidade e nas equipas da MSF.

 

*Dados do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários, 31 de março

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