Comida não é suficiente

Médicos Sem Fronteiras alerta que sem os nutrientes necessários milhões de crianças vão morrer

Altos e persistentes índices de mortalidade na África Subsaariana e no Sul da Ásia não serão reduzidos se a desnutrição não for combatida de maneira mais agressiva. Essa é uma emergência médica, alertou nesta quarta-feira a organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF).

Equipes de MSF vêem o impacto devastador da desnutrição sobre a infância todos os dias, tendo tratado mais de 150 mil crianças em 99 programas de alimentação em 2006. A desnutrição diminui a resistência e aumenta o risco de morte por pneumonia, diarréia, malária, sarampo e Aids, cinco doenças que são responsáveis por metade das mortes entre as crianças com menos de cinco anos.

Apesar da enorme contribuição para mortalidade infantil e seu impacto a longo prazo na saúde, o tratamento de desnutrição não tem sido uma grande prioridade nos planejamentos e programas de saúde nacionais e internacionais.

Sem acesso aos nutrientes essenciais, uma criança pode parar de crescer. Aqueles que sobrevivem são freqüentemente assombradas por seqüelas a longo prazo, que incluem problemas de crescimento e atrasos no desenvolvimento. Podem apresentar ainda risco de desenvolver doenças crônicas e menor expectativa de vida que os adultos.

Desgaste severo no começo da infância é comum em grandes áreas como o Sahel, o Chifre da África e o Sul da Ásia, que são os "principais focos de desnutrição" do mundo. Se as deficiências nutricionais tornam-se intensas, a criança começa a sofrer desgaste, ou seja, passa a consumir seus próprios tecidos para obter os nutrientes necessários. A Organização Mundial de Saúde (OMS) acredita que existam 20 milhões de crianças que sofram de desnutrição aguda severa em algum momento de sua vida.

Uma nova geração de alimentos simples, altamente nutritivos e prontos para usar (RUF, na sigla em inglês) especialmente elaborado para crianças expandiu consideravelmente o potencial nutricional das intervenções. Apesar das evidências acumuladas com relação à eficácia dos RUFs – altos índices de cura, baixa mortalidade e baixa taxa de erro – apenas 3% das crianças com desnutrição severa aguda têm acesso ao RUF terapêutico.

Políticas inadequadas aumentam o risco de mortes infantis

As políticas atuais nacionais e internacionais para lidar com a desnutrição têm defeitos fatais. Muitos programas desenvolvidos para reduzir a mortalidade das crianças com menos de cinco anos por desnutrição são focados na mudança de comportamento das mães, suprimentos de diferentes tipos de farinhas e abordagem da pobreza ou da segurança alimentar. Essas estratégias são importantes, mas não atendem de maneira eficaz às necessidades das crianças desnutridas com menos de três anos de idade.

As mães de Sahel, do Chifre da África ou do Sul da Ásia não precisam de conselhos sobre como alimentar seus filhos. Elas precisam ter acesso aos alimentos altamente nutricionais e alimentos suplementares.

Alimentos prontos para o uso em emergências médicas

Nos últimos cinco anos, o uso de alimentos terapêuticos prontos para usar mudou radicalmente a abordagem do tratamento de desnutrição severa aguda. Agora é possível tratar casos simples ou estáveis de desnutrição severa sem internação. A grande maioria das crianças desnutridas pode agora realizar o tratamento em casa, sob a supervisão de sua mãe ou de seu responsável, em vez de ficar no hospital.

Há acúmulo de evidências sobre a eficácia dos RUFs terapêuticos. Quando o assunto é o tratamento das formas fatais de desnutrição nos principais focos do problema no mundo, os RUFs terapêuticos deviam ser considerados um medicamento essencial.

Devido a sua eficácia, o uso do RUF não deveria ser limitado às crianças com desnutrição severa aguda. Deveria ser usado também para combater a desnutrição em crianças, antes que o problema evoluísse para um estágio capaz de ameaçar a vida do paciente.

Embora alternativas eficazes de RUF existam, doadores e agências das Nações Unidas continuam a enviar por navio centenas de milhares de toneladas de farinha enriquecida para serem distribuídas como alimentação suplementar, mesmo depois da eficácia dessa estratégia ter se provado limitada para crianças com menos de três anos.

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