Como é a vida num centro para pessoas refugiadas na Grécia?

Nesta peça, damos destaque ao testemunho de Zeinab e Mahmut: um casal afegão que vive há um ano sob restrições num Centro de Acesso Fechado e Controlado na ilha grega de Lesbos, onde já enfrentaram todo o tipo de emoções e situações

Refugiados Grécia
©️ Evgenia Chorou/MSF

Zeinab e o marido, Mahmut, chegaram há mais de um ano à ilha grega de Lesbos. Partiram de casa, no Afeganistão, em busca de estabilidade e segurança, e foi na Turquia que finalmente se fizeram ao mar com o destino final em mente: a Europa.

Ao contrário de muitos outros, foram bem sucedidos na primeira tentativa de atravessar o mar Egeu e chegar a território grego. São também a exceção, quando nos contam que não enfrentaram incidentes de violência, como outras pessoas que tentam atravessar as fronteiras europeias.

Estão abrigados num Centro de Acesso Fechado e Controlado (CCAC, na sigla original em inglês). Um ano depois, continuam a viver numa tenda, sem condições de habitabilidade, sem água quente durante o duche, sem asilo e com muitas marcas psicológicas.

A equipa da MSF em Lesbos fornece serviços de saúde primária com cuidados integrados de saúde mental e de saúde sexual reprodutiva, assim como apoio médico de emergência para os recém-chegados. Além disso, para garantir que as pessoas recebem um apoio adequado, a assistência da MSF inclui também promoção de saúde, mediação intercultural e serviços legais e sociais.

Com poucas, mas suficientes palavras, Zeinab e Mahmut contaram-nos o que têm enfrentado no seu primeiro ano na ilha grega de Lesbos.

 

Condições de habitabilidade nos centros:

Centro para refugiados Grécia
Centro de Acesso Fechado e Controlado de Zervou, na ilha de Samos. ©️ Myrto Mouzaki/MSF, 2023

Cerca de 1 686 pessoas vivem sob restrições no Centro de Acesso Fechado e Controlado de Mavrovouni. As condições de habitabilidade melhoraram ligeiramente desde o ano passado, pois o número de habitantes do centro reduziu – em 2023, estavam lá abrigadas 2 325 pessoas. Mesmo assim, as nossas equipas ouvem relatos de habitantes que vivem completamente expostos aos elementos, quer esteja demasiado frio no inverno, ou calor no verão.

As pessoas reportam também não ter água quente durante o duche. Higiene e saneamento são também um problema: a acumulação de lixo nos centros torna-se frequentemente num habitat ideal para a procriação de baratas, ratos e percevejos.

Mahmut contou-nos:

 

“Quando chegámos ao centro, havia água quente nos chuveiros, mas agora já não a temos há imenso tempo. As sanitas estão sujas. Assim que desligamos as luzes, começam a aparecer baratas em todo o lado.”

 

Asilo: uma, duas, três, quatro vezes rejeitado

Há falhas bem patentes nos procedimentos acelerados de requerimento de asilo, que colocam em risco o direito de obtê-lo.

Nos centros gregos, as pessoas que procuram tratamento junto da MSF relatam receber pouca ou nenhuma informação sobre os processos de asilo. Contam assinar frequentemente documentos que não compreendem, ou que são chamadas para entrevistas sem aconselhamento legal prévio, ou sem a presença adequada de um intérprete.

Esta situação de limbo, a arbitrariedade dos processo de asilo acelerados, o medo de serem deportados e as condições de vida precárias têm, obviamente, graves repercussões na saúde física e mental das pessoas, que  não têm outra escolha senão submeter-se a um sistema de acolhimento que lhes mina a dignidade e identidade.

 

“Quando alguém embarca nesta viagem, parte com esperança. Depois da nossa primeira rejeição, disseram-nos para não a perdermos, porque com a próxima entrevista talvez conseguíssemos obter asilo. Com a segunda, tivemos esperança, mas depois fomos rejeitados novamente. Fizemos a terceira, esperámos novamente. Depois da quarta, perdemos toda a esperança. Estamos desesperados.”

– Mahmut

 

Acesso a cuidados de saúde, intérpretes e mediadores culturais

Refugiados Grécia
Equipa da MSF presta apoio psicológico a recém chegado na ilha de Samos. ©️ Myrto Mouzaki/MSF, 2024

Nos centros, a escassez de recursos e a falta de capacidade dos serviços nacionais de saúde são enormes barreiras para as pessoas acederem a cuidados médicos. Como se não bastasse, a falta de intérpretes e mediadores culturais em unidades de saúde públicas aumenta os desafios que os requerentes de asilo têm de enfrentar.

O resultado? Um sofrimento evitável e a deterioração do estado de saúde para todos os habitantes que têm condições graves ou fatais.

Zainab é afegã e não fala grego. Está grávida de cinco meses e, por isso, recorreu aos serviços de saúde mental da MSF, além de estar também a receber das nossas equipas cuidado de saúde primários e apoio sociojurídico.

 

“Como estou grávida, fui a uma consulta na clínica do campo às 05h da manhã. O médico prescreveu-me umas vitaminas e fui à farmácia do campo. Estavam esgotadas. Fui depois à clínica da MSF para ver se me podiam fornecê-las e deram-me algumas.”

– Zainab

 

Saúde mental fragilizada

As pessoas que vivem nos Centros de Acesso Fechado e Controlado em Lesbos enfrentam situações desumanas durante as viagens em busca de segurança. Chegam à ilha grega com a saúde mental fragilizada, o que dificulta a superação das inevitáveis adversidades por que terão de passar durante a estada nos Centros.

Mahmut e Zeinab vivem no centro há mais de um ano e já experienciaram todo o tipo de emoções e de situações: flutuações na população do campo, falta de serviços essenciais, infraestruturas de saneamento inadequadas, privação de alimentos e múltiplas rejeições de requerimentos de asilo.

 

“Quando cheguei a Lesbos, disse-lhes que queria estar num país onde pudesse estar a salvo. Um país onde pudesse continuar os meus estudos de medicina dentária, encontrar trabalho, ter segurança e um futuro para meu filho.”

– Mahmut

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