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Por Margaret BellEnfermeira / obstetriz registrada Assessora Médica de Saúde da Mulher Médicos Sem Fronteiras
Um dos primeiros bebês nascidos em uma clínica de Médicos Sem Fronteiras este ano foi o pequeno menino de Raheema*, uma refugiada rohingya que agora vive em Bangladesh. Nossa equipe médica descobriu que Raheema estava sofrendo de pré-eclâmpsia, uma complicação da gravidez que ameaçava sua vida, e lhe forneceu atendimento de emergência antes de ajudá-la a trazer uma nova vida ao mundo no dia de ano novo.
Raheema é uma em quase 700 mil pessoas que fugiram da violência extrema em Mianmar desde agosto do ano passado, buscando segurança em Bangladesh. Globalmente, ela é uma dos 65,6 milhões de pessoas que estão atualmente deslocadas à força devido a violência, perseguição ou violações de direitos humanos. Nunca na história tantas pessoas estiveram deslocadas. E cerca de metade dos deslocados são mulheres e meninas.
As mulheres deslocadas têm muitas das mesmas preocupações de saúde que mulheres em qualquer lugar, como a necessidade de acesso ao planejamento familiar e um lugar seguro para dar à luz seus bebês. Mas as necessidades específicas de saúde das mulheres são exacerbadas por estarem em movimento e o acesso a cuidados médicos é reduzido ou inexistente ao longo da jornada de deslocamento. Enquanto cada mulher deslocada segue uma jornada diferente, muitas fogem devido a conflitos. Essas circunstâncias podem ter um efeito devastador sobre a infra-estrutura da saúde, o que significa que as mulheres perdem o acesso aos cuidados de saúde antes mesmo de deixarem seus lugares de origem. Uma vez em movimento, os cuidados de saúde podem estar fora do alcance devido à falta de serviços, distância, barreiras de transporte, falta de recursos financeiros ou incerteza sobre os serviços disponíveis. A insegurança predominante também pode dificultar o acesso.
Qualquer população deslocada incluirá mulheres grávidas como Raheema, mas muitas delas não têm acesso aos cuidados médicos que ela conseguiu receber. A gravidez traz riscos para qualquer mulher, e ainda mais quando são deslocadas. Essas mulheres são mais vulneráveis a abortos e partos prematuros, mas têm menos acesso a cuidados pré-natais, um ambiente de parto seguro ou cuidados obstétricos de emergência. Para as mulheres em qualquer lugar, sabemos que 42% de todas as gravidezes terão uma complicação e 15% terão uma complicação potencialmente fatal – de modo que a falta de acesso a cuidados obstétricos de emergência é extremamente perigoso para as mulheres deslocadas.
As mulheres em movimento também podem querer adiar a gravidez até que suas vidas estejam mais estáveis e seguras, mas não têm acesso a métodos contraceptivos. Elas podem começar sua jornada com anticoncepcionais, mas perder ou ficar sem eles no caminho. Essa falta de planejamento familiar pode levar a gravidezes indesejadas, o que aumenta o risco de abortos inseguros. Isso pode ter consequências perigosas, uma vez que os abortos inseguros contribuem muito para a mortalidade materna, representando 13% de todas as mortes maternas.
Muitas mulheres e meninas deslocadas sofrerão violência sexual. Embora este tipo de violência ocorra em qualquer lugar, as mulheres são mais vulneráveis quando estão em movimento, especialmente se viajam sozinhas ou se são adolescentes. A violência sexual pode ser usada, por exemplo, como uma estratégia deliberada para punir ou controlar comunidades durante conflitos; pelos guardas de fronteira abusando do seu poder; ou em troca forçada de necessidades básicas, como alimentos. A violência sexual é uma emergência médica que pode levar a infecções sexualmente transmissíveis, como HIV, gravidez indesejada e consequências a longo prazo para a saúde mental.
Durante meu trabalho no terreno com MSF, encontrei muitas mulheres deslocadas que foram expostas à violência sexual. Lembro-me de uma mulher que estava grávida como resultado de estupro. Ela só havia sido deslocada a uma curta distância devido a um desastre natural, mas seu marido estava desaparecido, deixando-a sozinha e vulnerável à violência em um campo de pessoas deslocadas. Ela veio à nossa clínica para um teste de HIV, mas também porque estava determinada a manter seu bebê, tendo perdido dois filhos anteriores na infância. Como tantas mulheres, ela tinha uma variedade de necessidades de saúde interdependentes. Nós lhe fornecemos cuidados pré-natais regulares, mas, em última instância, era do nosso apoio psicológico que ela mais precisava.
A saúde mental é outra das principais atividades de Médicos Sem Fronteiras para mulheres e meninas deslocadas, que muitas vezes foram expostas a traumas, como testemunho de violência extrema. A incerteza da vida em um campo de refugiados é outro fator de estresse. As famílias são muitas vezes separadas, deixando as mulheres solteiras com a pressão de apoiar as crianças em um ambiente desconhecido com poucos recursos ou serviços. As mulheres podem preterir seus próprios cuidados de saúde, e particularmente seu bem-estar mental, porque estão muito ocupadas atendendo às necessidades básicas de seus filhos.
À medida que o deslocamento global aumentou nos últimos anos, o trabalho de Médicos Sem Fronteiras também se concentra nas necessidades dos migrantes, dos requerentes de asilo e dos refugiados. Nossas atividades respondem às necessidades específicas das mulheres em vários pontos da jornada, sejam elas deslocadas em seus países de origem, como o Iraque ou o Sudão do Sul, em países de trânsito como a Grécia ou o México, ou em países onde se estabeleceram como a Jordânia ou a Tanzânia.
Embora não haja soluções fáceis para os conflitos prolongados que provocaram esta enorme onda de deslocamento global, os migrantes e os refugiados também estão sujeitos a políticas restritivas que colocam sua saúde e vidas em risco. É nesse contexto que atua Médicos Sem Fronteiras, fornecendo cuidados médicos críticos a mulheres, como Raheema, para reduzir seu sofrimento e, em última instância, evitar que morram enquanto buscam segurança.
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