Deslocações em larga escala no Norte da Cisjordânia têm impacto devastador nos palestinianos

As equipas da MSF confirmam um padrão sistemático de repressão por parte de Israel contra profissionais de saúde e pacientes

As forças israelitas destruíram as ruas e o campo de Jenin, e fecharam todas as entradas do campo. A entrada no campo agora é restringida pelas forças israelitas.
©️ Oday Alshobaki/MSF

A organização médico-humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) alerta para a situação crítica de dezenas de milhares de pessoas deslocadas no Norte da Cisjordânia, Palestina, que se encontram sem abrigo adequado, sem acesso a serviços essenciais e a cuidados de saúde.

Após o cessar-fogo em Gaza, em janeiro de 2025, Israel lançou a operação militar  “Muralha de Ferro” na Cisjordânia ocupada. Milhares de pessoas foram deslocadas à força e encontram-se agora numa situação extremamente precária. Israel deve pôr termo imediato ao deslocamento forçado de palestinianos na Cisjordânia. A resposta humanitária tem de ser urgentemente reforçada e alcançar quem precisa de apoio.

 

Os campos tornaram-se em ruínas e pó.”

 

“Não se via esta escala de deslocação forçada e destruição dos campos há décadas. As pessoas não conseguem regressar a casa porque as forças israelitas bloquearam o acesso aos campos, destruíram habitações e infraestruturas. Os campos tornaram-se em ruínas e pó”, conta o diretor de operações da MSF, Brice de la Vingne. “Israel tem de parar com isto e a resposta humanitária tem de ser reforçada.”

 

Destruição da entrada do campo de Jenin, na Cisjordânia. As forças israelitas destruíram o campo e fecharam todas as entradas.
Destruição da entrada do campo de Jenin, na Cisjordânia. As forças israelitas destruíram o campo e fecharam todas as entradas. Março de 2025. ©️ Oday Alshobaki/MSF

 

Desde o início da guerra em Gaza, em outubro de 2023, as forças israelitas aumentaram o uso de violência física extrema contra palestinianos na Cisjordânia ocupada, como destacou a MSF no seu relatório “Inflicting Harm and Denying Care” (“Infligir o Mal e Impedir Apoio”, na tradução para o português). De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 930 palestinianos foram mortos, incluindo 187 crianças.

 

Ser deslocado é sofrer. É uma angústia silenciosa, uma dor profunda no coração de todos.”

 

O acesso a cuidados de saúde encontra-se gravemente comprometido. As equipas da MSF confirmam um padrão sistemático de repressão por parte de Israel contra profissionais de saúde e pacientes. A situação agravou-se após o cessar-fogo em Gaza e com a “Muralha de Ferro” de Israel, que esvaziou por completo os três principais campos de refugiados do Norte da Cisjordânia — Jenin, Tulkarem e Nur Shams — deslocando à força mais de 40 mil palestinianos, segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários.

“O exército [israelita] invadiu a nossa casa e ordenou-nos que saíssemos. Não nos deixaram levar nada – nem sequer os documentos. Apenas nos disseram: ‘Saiam’”, relata Issam, de 55 anos, um paciente da MSF deslocado do campo de Nur Shams. “Ser deslocado é sofrer. É uma angústia silenciosa, uma dor profunda no coração de todos. Veem-se as lágrimas nos olhos das pessoas, mas seguramo-las.”

A situação de saúde mental é preocupante. Muitos pacientes apresentam sintomas de stress, ansiedade e depressão, provocados pela violência e pelo carácter imprevisível das incursões e deslocações.

“As pessoas não sabem o que aconteceu às suas casas e perderam quase tudo, incluindo o sentido de propósito”, refere o educador comunitário de saúde da MSF Mohammad, de 30 anos.

“Drones sobrevoavam as casas e ordenavam aos residentes que saíssem. Eles costumam destruir coisas, mas nunca aconteceu nada assim”, partilha Abdel, um residente do campo de Jenin.

 

MSF presta apoio à população

A MSF prestava apoio nos três campos, mas adaptou as suas atividades devido aos riscos de segurança e à deslocação das populações. Atualmente, as equipas têm clínicas móveis a funcionar diariamente em Tulkarem e Jenin, onde prestam cuidados médicos a pessoas deslocadas.

 

Uma médica MSF presta atendimento a um paciente na clínica da MSF em Jenin, no Norte da Cisjordânia.
Uma médica MSF presta atendimento a um paciente na clínica da MSF em Jenin, no Norte da Cisjordânia. Março de 2025. ©️ Oday Alshobaki/MSF

 

As equipas tratam doenças crónicas como diabetes e hipertensão, agravadas pela falta de acesso à medicação, bem como infeções respiratórias e problemas osteomusculares. Também distribuem kits de higiene e alimentos para apoiar quem teve de abandonar a casa onde vivia, sem recursos ou bens essenciais.

A MSF fornece ainda água ao hospital Khalil Suleiman, o principal hospital de Jenin, para mitigar as falhas frequentes no abastecimento causadas pelos danos das ações militares.

A MSF continua a responder às necessidades mais urgentes, mas a escala do deslocamento e a crescente crise humanitária, agravadas por uma resposta internacional inadequada, representam um enorme desafio. As necessidades na Cisjordânia continuam a aumentar.

 

▶️ Veja também um história de ficção baseada em factos reais: Uma história de violência perpétua na Cisjordânia

 

Partilhar