Desnutrição: uma situação crítica no sul do Sudão

O alerta tem como base uma pesquisa nutricional realizada por MSF em junho que revela que 4% das crianças da região estão severamente desnutridas. Além de centros nutricionais que MSF mantém na região, 60 mil cestas de alimentos serão distribuídas

Os números falam por si próprio: 4% das crianças estão severamente desnutridas; 26% estão desnutridas; 60-70 crianças são admitidas por semana no centro de nutrição suplementar de MSF; 40-50 crianças são admitidas por dia no centro de nutrição terapêutica de MSF. Tudo indica que a situação nutricional é particularmente crítica neste período em Akuem, Aweil East County e Bahr-el-Gazal.

Em Bahr-el-Ghazal este é um período comum de insegurança nutricional crônica. "Em anos ‘normais’ os estoques de sorgo, o principal produto da região, já começam a diminuir em janeiro e fevereiro”, explica Claire Magone, coordenadora geral de MSF no sul do Sudão. "Isto leva a população a depender de frutas silvestres, pesca, leite de cabra ou de vaca, assim como de outros tipos de produto (milho, quiabo, gergelim) que são colhidos no final de julho. Entre o fim dos estoques de sorgo e a próxima colheita, o período da fome costuma ser um período turbulento – especialmente em junho e julho”.

Além desta insegurança nutricional crônica, há fatores adicionais que aumentam o risco de desnutrição: acesso restrito a água e cuidados de saúde, condições inadequadas de higiene, e práticas mal adaptadas de desmame.

A última gota…

Apenas um fator agravante pode tornar esta insegurança nutricional relativa numa situação real de emergência. No ano passado o baixo índice pluviométrico e a seca que se seguiu resultaram numa colheita pobre e numa redução dos estoques de alimentos, comparados ao ano anterior. A seca dá início a um círculo vicioso, já que reduz o pasto disponível para o gado.

Piorando ainda mais a situação, com a assinatura de um processo de paz entre o norte o sul do país em janeiro deste ano muitos dos que foram deslocados, fugindo da guerra em Bahr-el-Gazal para se refugiar no norte, começam a retornar para suas casas. Essas pessoas montam suas casas próximas a de seus familiares.

Nos primeiros três meses de 2005 pelo menos 87 mil pessoas retornaram para a região de Bahr-el-Gazal, e 25 mil para Aweil. Hoje, uma pequena quantidade de comida disponível tem que ser repartida com muito mais gente do que antes.

4% de pessoas severamente desnutridas

Como conseqüência os centros de nutrição de MSF veêm observando um aumento drástico no número de admissões nas últimas semanas. No final de junho, havia 232 crianças sendo tratadas no centro de nutrição terapêutica; a grande maioria delas necessitou de internação, enquanto outras receberam cuidados ambulatoriais. Há ainda 600 crianças que já deram entrada no centro de nutrição suplementar.

A pesquisa nutricional realizada pelo Centro de Epidemiologia que presta serviços para MSF, Epicentre, entre os dias 18 e 22 de junho, revelou uma situação bastante crítica. Nos quatro distritos onde foi realizada a pesquisa nutricional, a população total estimada é de pouco mais de 200 mil habitantes. As equipes acreditam que terão que tratar mais de mil crianças severamente desnutridas e sete mil crianças com desnutrição moderada.

Reforços

Uma operação para suprir a necessidade nutricional está sendo planejada no momento (distribuição de 60 mil cestas básicas para as famílias) com o objetivo de impedir a desnutrição moderada e evitar que as crianças se tornem severamente desnutridas.

"Isto nos ajudará atender um número maior de crianças do que a capacidade dos centros de nutrição suplementar, mesmo que nossa prioridade ainda seja tratar aquelas com desnutrição severa e manter o índice de mortalidade baixo”, diz Pauline Horrill, gerente de projeto de MSF.

As equipes de MSF irão reforçar a capacidade de tratamento dos centros de nutrição terapêutica. O tratamento foi desenhado para ser aplicado em duas fases: a primeira para as crianças que precisam de internação, e a segunda para as crianças com desnutrição severa que não precisam ser mantidas no centro – elas serão examinadas uma vez por semana e receberão uma cesta básica por família.

Foto: Juan Carlos Tomasi

Partilhar