Dez anos depois da operação da ONU, Somália é abandonada ao sofrimento

Somalis são vítimas da guerra e da negligência internacional

Há dez anos, começava a intervenção militar das Nações Unidas nas praias da Somália, com o objetivo de resgatar a população civil da fome e da violência. Uma década depois, a organização internacional da área da saúde Médicos Sem Fronteiras (MSF), que tem trabalhado no país durante todo esse tempo, diz que a situação humanitária na Somália demanda hoje uma séria atenção.

A contínua guerra civil teve um enorme impacto na saúde e no bem-estar do povo Somali. Enquanto a maior parte do mundo virou as costas, MSF acredita que o povo Somali precisa e merece uma ajuda renovada.

“A vida é difícil na Somália e os últimos dez anos tiveram um peso terrível”, diz Ayham Bayzid, chefe de missão de MSF em Galcayo. “Os feridos ou mortos em guerra na Somália contabilizam dezenas de milhares. 3/4 dos Somalis não conseguem chegar a instalações de saúde devido à violência contínua. Em Mogadíscio, todos os anos, MSF tem que ajudar na luta contra uma epidemia de cólera, enquanto a população vive em condições de extrema insegurança. Em Middle Shabelle, apenas algumas semanas atrás, homens armados mataram um paciente dentro de uma clínica de MSF. Eu já trabalho na Somália há anos, mas o sofrimento não parece acabar.”

Como uma conseqüência da guerra, que começou em novembro de 1990, centenas de milhares de Somalis foram deslocados e todos os dias as pessoas continuam a fugir de suas casas. As próprias equipes de MSF têm sido forçadas regularmente a evacuar e fechar clínicas e projetos devido à violência. A disseminação de doenças infecciosas como cólera, diarréia, febre tifóide, meningite ou tuberculose é acelerada em função da destruição dos serviços básicos e da falta de água.

A mortalidade materno-infantil está entre as mais altas do mundo. 1/4 das crianças não chega aos 5 anos de idade. Ao mesmo tempo, há atualmente cerca de 500 mil pessoas ameaçadas por graves deficiências de alimentos.

Desde o fracasso da missão militar das Nações Unidas, a comunidade internacional vem se isentando de responsabilidade, de forma lenta mas estável. O número de agências internacionais de ajuda humanitária trabalhando na Somália caiu drasticamente de mais de 200, em 1992, para 61 hoje. Enquanto isso, os financiamentos foram reduzidos em 90% durante o mesmo período. As necessidades permanecem, excedendo a capacidade operacional de todas as agências que trabalham na Somália hoje, juntas.

Após 12 anos de conflito e anarquia, a população Somali precisa mais do que nunca de ajuda. MSF faz um apelo às facções em guerra que respeitem a Lei Humanitária Internacional, segundo a qual civis devem ser protegidos da violência e receber ajuda para ter acesso aos cuidados de saúde e suprimentos de que precisam tão desesperadamente.

MSF também faz um apelo aos doadores e às agências internacionais de ajuda, para que reconheçam e reajam ao fato de que a Somália está embrenhada em uma séria crise humanitária.

MSF trabalha na Somália desde 1986, quando deu início a intervenções médicas de emergência em Somalilândia. A organização está atualmente baseada em seis diferentes regiões da Somália: Bakool, Bay, Mudug, Benadir and Middle Shabelle.

MSF responde a emergências (feridos de guerra, epidemias, deslocamento, desnutrição) enfoca os cuidados básicos de saúde, saúde materno-infantil, programas de vacinação e vigilância epidemiológica.

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