É hora de assumir a verdade: a tuberculose está fugindo do controle

Nos países em desenvolvimento, milhões de pessoas ainda morrem de tuberculose, doença que tem cura. MSF apela por investimentos em novos tratamentos e testes diagnósticos, e reivindica que todas as pessoas infectadas pela TB tenham acesso ao tratamento.

Na véspera de uma importante conferência internacional sobre tuberculose (TB) e saúde pulmonar *, a organização Médicos Sem Fronteiras faz um alerta: nos países em desenvolvimento, milhões de pessoas continuam morrendo de TB, uma doença que tem cura. É necessária uma mudança radical na forma como se aborda a tuberculose (TB) no mundo.

“A tuberculose é uma das maiores frustrações que nós, profissionais de saúde, enfrentamos”, disse Dr. Jean-Hervé Bradol, presidente de MSF França. “Nos países onde MSF atua, a TB mata milhares de pessoas sem que sejamos capazes de detectá-la ou tratá-la de forma adequada e no tempo necessário”.

“É hora de admitir abertamente que jamais seremos capazes de controlar a TB simplesmente prescrevendo mais dos mesmos medicamentos. São necessários investimentos maciços no desenvolvimento de novos testes diagnósticos e medicamentos, para que possamos diagnosticar e tratar efetivamente todos os que têm tuberculose no menor tempo possível”, diz Dra. Francine Matthys, consultora de TB da Campanha de Acesso a Medicamentos Essenciais de MSF.

A maioria dos programas de TB em países em desenvolvimento depende de exame microscópico de escarro para detectar a doença. Desenvolvido em 1882, este método detecta os bacilos em apenas 50% dos casos e sua performance é ainda pior em crianças e pacientes HIV positivo. Este dado é alarmante, uma vez que o próprio HIV/aids transformou o perfil da TB.

O tratamento da tuberculose é longo e depende de medicamentos que foram inventados entre 40 e 60 anos atrás. “Na Guiné, e em muitos outros países em desenvolvimento, costumamos ver pessoas que já foram tratadas de tuberculose retornarem um ou dois anos depois com novos sintomas de TB”, diz Dra. Ilse Ramboer, uma médica do programa de TB da Guiné. “Esses poderiam ser casos de re-infecção. Mas esses pacientes poderiam também estar desenvolvendo uma tuberculose multi-resistente – não há como saber, pois o teste para detectar a sensibilidade aos medicamentos não está disponível na maioria dos locais com poucos recursos”. A combinação de tuberculose multi-resistente com HIV/aids é como uma bomba-relógio prestes a explodir na África.

MSF reconhece a importância de iniciativas como a Aliança Global de Luta Contra a TB (GATB) e a Fundação para Novos Diagnósticos Inovadores (FIND), que estão desenvolvendo novos testes e medicamentos para TB. No entanto, mais esforços e novas estratégias são necessários para enfrentar o desafio da tuberculose hoje. Todos aqueles que oferecem atendimento a pacientes de TB, em todo o mundo devem igualmente aumentar a pesquisa operacional em inovação no tratamento e administração para TB, bem como buscar meios para assegurar que todas as pessoas infectadas tenham acesso ao tratamento.

MSF trata aproximadamente 20 mil pacientes de TB todos os anos em mais de 30 projetos no mundo. As equipes de MSF atuam em vários contextos, desde situações de conflito crônico e prisões, a países com prevalência de HIV/aids acima de 20% (por exemplo, África sub-saariana) e países com crescente número de pessoas com TB multi-resistente (tais como Abkázia, Uzbequistão e Costa do Marfim). Em muitos países, MSF apóia os programas nacionais de tuberculose em centros de saúde ou hospitais.

(*) 35ª Conferência Mundial sobre Saúde Pulmonar, Paris, 28 de outubro – 1º de novembro de 2004.

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