Elevadas necessidades de tratamento para a leishmaniose cutânea

No Paquistão, a leishmaniose cutânea, uma doença tropical negligenciada, é considerada um problema de saúde pública. Esta doença afeta a pele e causa úlceras ou lesões no corpo. É mais endémica nas províncias do Baluchistão e de Khyber Pakhtunkwa, mas Sindh e as regiões central e Sul do Punjab também são afetadas.
© Saiyna Bashir

No Paquistão, a leishmaniose cutânea, uma doença tropical negligenciada, é considerada um problema de saúde pública. Esta doença afeta a pele e causa úlceras ou lesões no corpo. É mais endémica nas províncias do Baluchistão e de Khyber Pakhtunkwa, mas Sindh e as regiões central e Sul do Punjab também são afetadas.

A leishmaniose cutânea é o tipo de leishmaniose mais comum entre os seres humanos. É também conhecida como “saal dana” or “kaal dana” nas línguas urdo e pashto, e resulta da transmissão de um parasita unicelular através da picada do insecto flebótomo fêmea. Apesar de não implicar risco de vida, a doença pode gerar desfiguração física grave, levando a estigma e a discriminação.

 

O técnico médico da MSF Muhammad Feroze Shah presta atendimento a Sudais, de 10 anos, no centro de tratamento da leishmaniose cutânea no Hospital Memorial Naseerullah Khan Baber, em Peshawar, no Paquistão.
O técnico médico da MSF Muhammad Feroze Shah presta atendimento a Sudais, de 10 anos, no centro de tratamento da leishmaniose cutânea no Hospital Memorial Naseerullah Khan Baber, em Peshawar, no Paquistão. © Saiyna Bashir

 

A prestação de cuidados médicos

A Médicos Sem Fronteiras (MSF) providencia cuidados médicos para a leishmaniose cutânea, em colaboração com as autoridades de saúde de Khyber Pakhtunkhwa e do Baluchistão, em que se inclui apoio psicológico para as pessoas que mais o necessitam.

No Baluchistão, a MSF é a maior prestadora de diagnósticos e de tratamento desta doença em três locais na cidade de Quetta. A MSF providencia também serviços médicos para o diagnóstico e tratamento da leishmaniose cutânea no Hospital Memorial Naseerullah Khan Baber, em Peshawar, capital da província de Khyber Pakhtunkhwa. E em outubro de 2021, para expandir os cuidados médicos às pessoas na região, a MSF abriu clínicas satélite no Centro Rural de Saúde em Badaber e na unidade básica de saúde em Telaband.

“A doença é considerada endémica nas áreas em redor de Peshawar, como Badaber e Telaband, e as pessoas tinham de percorrer longas distâncias para aceder a tratamento na cidade principal. Ter estas clínicas satélite perto de onde moram melhorou o acesso a cuidados de saúde de qualidade”, frisa o médico Haiat, coordenador das atividades médicas da MSF em leishmaniose cutânea na província de Khyber Pakhtunkhwa.

Num primeiro momento, os pacientes recebem o diagnóstico no Hospital Memorial Naseerullah Khan Baber, em Peshawar, e seguem depois para tratamento na clínica satélite que lhes está mais próxima, permitindo-lhes poupar tempo e custos de deslocação. Em conjunto, estas clínicas satélite tratam, em média, 30 pacientes por mês.

 

A técnica médica da MSF Sharafat Bibi conversa com Humaira, de 13 anos, enquanto trata a sua lesão no Hospital Memorial Naseerullah Khan Baber, em Peshawar, no Paquistão.
A técnica médica da MSF Sharafat Bibi conversa com Humaira, de 13 anos, enquanto trata a sua lesão. © Saiyna Bashir

 

Falta de profissionais e de disponibilidade de medicamentos significam dificuldade no acesso a tratamento

A leishmaniose cutânea é uma doença que tem cura. O medicamento antiparasitário antimoniato de meglumina é injetado diretamente nas lesões ou no músculo, diariamente durante 20 a 28 dias, ou duas vezes por semana, entre quatro a seis semanas, dependendo da gravidade da infeção.

Porém, este tratamento não é amplamente disponibilizado nas estruturas públicas de saúde do país, dado que não é produzido no Paquistão. Quando está disponível em clínicas privadas, é, por norma, dispendioso. Atualmente, no Paquistão, existem apenas duas entidades que fornecem este muito necessário medicamento: a MSF e a Organização Mundial de Saúde. Se esta medicação fosse disponibilizada de forma mais vasta, mais pessoas teriam acesso a cuidados médicos de qualidade e haveria mais probabilidades de as curar da leishmaniose cutânea.

Além disso, mesmo quando o tratamento está disponível, a falta de conhecimentos e de competências dos profissionais médicos para tratar a leishmaniose cutânea de forma segura e eficaz ainda é uma realidade. Um tratamento insuficiente ou mal executado acarreta custos monetários, dispêndio de tempo e tem também um custo emocional para os pacientes.

Para além do tratamento, as equipas da MSF providenciam formações sobre a gestão de casos de leishmaniose cutânea aos profissionais de saúde do Departamento de Saúde no Baluchistão e em Khyber Pakhtunkhwa.

Em 2022, a MSF iniciou testes clínicos para investigar modalidades alternativas de tratamento da doença no Paquistão. Os novos métodos vão ser comparados com os medicamentos de primeira linha atualmente utilizados. Estes medicamentos de primeira linha são, desde há muitas décadas, o único tratamento eficaz para a leishmaniose cutânea no Paquistão. Presentemente, há 71 pacientes integrados nos testes clínicos.

 

O técnico de laboratório da Médicos Sem Fronteiras Waseem Iqbal escreve os resultados dos testes de um paciente com leishmaniose cutânea no laboratório da MSF no Hospital Memorial Naseerullah Khan Baber, em Peshawar, no Paquistão.
O técnico de laboratório da Médicos Sem Fronteiras Waseem Iqbal escreve os resultados dos testes de um paciente com leishmaniose cutânea no laboratório da MSF no Hospital Memorial Naseerullah Khan Baber, em Peshawar, no Paquistão. © Saiyna Bashir

 

A doença afeta a saúde e a vida das pessoas

A leishmaniose cutânea afeta frequentemente pessoas com recursos muito limitados, que vivem em condições precárias ou em locais onde a doença é altamente endémica. Apesar de a doença não colocar risco de vida, pode ter um efeito esmagador nos pacientes. A leishmaniose cutânea causa lesões em áreas visíveis do corpo como a cara, as mãos e os pés, que muitas vezes resultam em desfiguração física, cicatrizes para toda a vida e enorme estigma.

É por esta razão que pacientes com leishmaniose cutânea passam frequentemente por situações de sofrimento psicológico, desde discriminação por familiares, amigos e colegas nas escolas até à exclusão pela comunidade. Confrontados com marcas visíveis na pele, muitas pessoas deixam mesmo de sair à rua, ir à escola ou frequentar eventos a que costumavam ir antes de contrair a doença.

“Colegas meus na escola faziam-me perguntas e tentavam esmurrar-me no nariz. Deixei de ir à escola e só vou voltar quando as minhas lesões estiverem curadas”, conta Idrees, uma criança de 10 anos que está a ser assistida no centro da MSF em Quetta de tratamento de leishmaniose cutânea, mostrando uma lesão no nariz.

 

O tratamento inclui apoio em saúde mental

Em 2022, a MSF tratou 3 481 pacientes no Baluchistão e 1 645 pacientes em Khyber Pakhtunkhwa com leishmaniose cutânea. Os centros providenciam diagnósticos, tratamento especializado, medicação segura e eficaz, e educação em saúde sobre a doença, o tratamento e a prevenção. A MSF disponibiliza também apoio em saúde mental a pacientes com leishmaniose cutânea nos centros que opera no Baluchistão. No ano passado, as equipas da MSF de saúde mental em Quetta prestaram aconselhamento a 1 150 pacientes.

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