Em crianças, teste comum de TB falha 9 a cada 10 vezes

Novo estudo multinacional de MSF sobre coinfecção por TB/HIV pediátricas confirma a crise dos casos não diagnosticados em crianças

Dados do maior grupo de crianças de diversos países infectadas simultaneamente com tuberculose (TB) e HIV divulgados pela organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) mostra que há uma demanda urgente por melhores testes de tuberculose para crianças.

O estudo, apresentado na 43ª Conferência da União Mundial de Saúde Pulmonar em Kuala Lumpur, baseia-se em dados coletados durante três anos de 2.451 crianças com TB em 13 projetos de MSF em seis países. Ele mostra que crianças coinfectadas com HIV e TB estavam sob um risco de morte muito maior (12,8%) se comparado às infectadas somente com tuberculose (5,2%). E enquanto mais da metade do grupo estava infectado com TB pulmonar, apenas 6,4% testaram positivo para TB, utilizando-se o exame mais comum de microscopia de escarro.

“Quando você detecta TB em uma a cada dez crianças, pode ter certeza de que muitas  outras não estão inseridas neste cenário simplesmente por não estarem sendo diagnosticadas, o que resulta em mortes desnecessárias e na disseminação da doença para outros”, afirma o Dr. Philipp Du Cros, coordenador da unidade de MSF de Manson. “O fato mais surpreendente dessa triste realidade é que, até o último mês, havia poucos dados sobre a carga global de TB pediátrica.”

A maioria dos testes de TB mais utilizados atualmente depende de uma amostra de escarro expelida pelo paciente, proveniente de seu pulmão. Contudo, isso não funciona bem para crianças, seja pelo fato de que elas frequentemente apresentam TB fora dos pulmões, seja pela quantidade insuficiente de bactérias para detecção por esse método. Também há problemas no momento da coleta das amostras, uma vez que as crianças raramente estão aptas a expelir o escarro.

“Em uma tentativa de conseguir amostras adequadas, agentes de saúde são forçados a usar meios invasivos e dolorosos, envolvendo a introdução forçada de vapor em seus pulmões para fazê-las expelir o escarro, ou sugá-lo de seus estômagos”, declarou a Dr.ª Martina Casenghi, consultora científica da Campanha de Acesso a Medicamentos de Médicos Sem Fronteiras. “Nós precisamos urgentemente de um exame de tuberculose para crianças que não dependa de escarro e que possa se utilizar de amostras de mais fácil obtenção, como sangue, urina ou fezes.”

Enquanto novos testes de TB, como o Xpert MTB/RIF, podem aumentar significativamente o número de crianças diagnosticadas com tuberculose e apontar resultados em menos de um dia, eles não são capazes de confirmar o diagnóstico em um número expressivo de crianças com suspeita clínica de TB por uma série de razões, incluindo o fato de elas não conseguirem oferecer uma amostra de escarro. Enquanto é importante garantir o acesso a melhores testes para crianças agora, mais trabalho precisa ser feito para avaliar o desempenho do Xpert MTB/RIF em amostras que não sejam o escarro e, assim, otimizar seu uso para diagnóstico de TB em crianças.

Uma das principais barreiras para o desenvolvimento de um exame que funcione em crianças tem sido a falta de um padrão de alto nível para avaliar o desempenho de novas ferramentas de diagnóstico. Em um processo liderado pelos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, um consenso quanto à definição clínica de casos e das abrodagens metodológicas a serem aplicadas na evolução de novos exames de TB em crianças foi desenvolvido.

Esse consenso deveria abrir o caminho para grupos acadêmicos e desenvolvedores de exames para trabalharem em busca de melhores testes de TB para as crianças.

“O que precisamos ver agora são desenvolvedores de testes demonstrando que as crianças são uma prioridade, e que isso significará o desenvolvimento de testes que respondam às suas necessidades”, disse a Dra. Grania Brigden, consultora de TB para a Campanha de Acesso a Medicamentos de MSF. “Nós precisamos evitar ter de submeter crianças a processos penosos para conseguir amostras laboratoriais que, no fim das contas, não nos fornecem um diagnóstico.”

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