Equipas da MSF providenciam acesso a água limpa no estado de Bolívar

As histórias das pessoas nas comunidades de Tumeremo, em Bolívar, um dos maiores estados da Venezuela, retratam a realidade da falta de acesso a recursos vitais, como a água, a que estão expostas

© Jesùs Vargas, 2022

Carlos, de 4 anos, olha para um grupo de crianças um pouco mais velhas, que tomam banho e brincam no poço de água estagnada mesmo em frente à casa dele, na comunidade rural de La Montañita, onde vivem centenas de famílias, no estado de Bolívar, Sudeste da Venezuela.

Enquanto Carlos anseia por se juntar ao grupo de crianças, a mãe, Kavilis, junto do pai, não autoriza que ele tome banho no poço que é conhecido na comunidade como “el tapón”, e é um potencial vetor de risco para a saúde das pessoas e da comunidade em geral.

No Hospital José Gregorio Hernández, em Tumeremo, capital do município de Sifontes, a Médicos Sem Fronteiras (MSF), em conjunto com uma equipa do Instituto de Saúde Pública deste estado, recebe pacientes expostos a doenças relacionadas com a água na região.

Desde 2019, a MSF tem estado a trabalhar com as autoridades de saúde deste estado venezuelano para fortalecer o sistema de saúde, apoiando as atividades médicas no hospital em Tumeremo, o qual serve entre 250 000 a 300 000 habitantes, a maior parte sendo pessoas em movimento, que se deslocam para trabalhar na zona de mineração. A MSF também apoia projetos de água e de saneamento que salvam vidas, e presta atividades de promoção de saúde na região para garantir a prevenção e o controlo de infeções.

Para uma comunidade rural que não tem distribuição de água canalizada nem um sistema convencional de fornecimento de água, o “tapón” é, muitas vezes, um local alternativo para banhos e providencia água para cozinhar e limpar as casas. É o único poço de água na região, mas não tem sistema de drenagem e muitas vezes torna-se o destino dos resíduos dos animais de uma quinta localizada nas proximidades.

“Muitas vezes, ficamos com feridas na pele porque não temos escolha, temos de ir ao poço quando não chove há dias. Fazemos tudo o que podemos para o Carlos não ter de ir lá, mas às vezes não temos alternativa“, explicam o pai e a mãe de Carlos.

Água de qualidade é indispensável para cuidados de saúde eficazes

Para qualquer centro de saúde, o acesso a água segura é essencial. Ter água de forma regular e com qualidade previne a propagação de doenças não só no hospital, mas também na comunidade e nas populações em movimento que recorrem aos cuidados de saúde prestados pelas estruturas de saúde do município.

De entre os muitos projetos que têm sido levados a cabo, a MSF tem dado especial atenção à componente de água e saneamento, assegurando a disponibilidade constante de água tratada e com qualidade no hospital – 24 horas por dia, sete dias por semana –, através da substituição da rede de canalização de água limpa e do sistema de distribuição dessa água para todas as partes do hospital. A MSF também doa produtos essenciais, presta formação às equipas médicas e outras e gere a eliminação de resíduos hospitalares. Em conjunto com o pessoal do centro de saúde, as equipas da MSF reabilitaram a sala de esterilização e contruíram uma lavandaria onde também são disponibilizados produtos de limpeza.

“O impacto que a sala de esterilização tem tido é muito importante. Ter água de qualidade de forma consistente permite ao hospital receber pacientes e providenciar-lhes cuidados em segurança”, explica a supervisora da MSF em controlo e prevenção de infeções, Evelyn Palacios.

Todas as pessoas que se deslocam ao hospital podem lavar as mãos, tomar os medicamentos graças aos pontos de água potável disponíveis, e aceder aos espaços limpos e desinfetados no hospital. Tudo nesta estrutura de saúde está higienizado, desde uma maca, antes e depois do parto, até aos corredores das emergências. A desinfeção profunda não se limita aos instrumentos médicos e às instalações do hospital, mas também à higiene e desinfeção que mantém as equipas de saúde em segurança.

Promoção de saúde e envolvimento comunitário também salvam vidas

As equipas da MSF de promoção de saúde visitam comunidades onde levam a cabo sessões educativas acerca do tratamento adequado de água, purificação de água potável, doenças relacionadas com a água e práticas de higiene pessoal e nos agregados familiares.

Estas sessões de aconselhamento providenciam alternativas práticas às pessoas que vivem em áreas rurais, de modo a que possam elas mesmas gerir o acesso a água segura. Em conjunto, reforçam a importância de um bom tratamento, eliminação, armazenamento e consumo de água, de modo a capacitar as comunidades para assumirem o controlo da própria saúde.

Em 2022, a MSF sensibilizou 130 264 pessoas, através da promoção de saúde, e distribuiu 11 350 pastilhas purificadoras de água no estado de Bolívar. A organização médica-humanitária também instalou 31 zonas de lavagem das mãos e 211 pontos de água potável para pacientes e familiares. Carlos e a família estão entre os milhares de pessoas em Bolívar que tiram partido das melhores condições e acesso à água, as quais permitem ao hospital ser operacional e providenciar cuidados médicos de qualidade. Nas casas nestas comunidades, a informação tem-se espalhado e há cada vez mais pacientes a confiar num sistema de saúde que providencia espaços seguros para trabalhadores, pacientes e famílias.

 

Em cada um dos estados onde a MSF trabalha na Venezuela, promovem-se atividades de água e saneamento para assegurar a prevenção e o controlo de infeções. Durante 2022, só no estado de Bolívar, a organização apoiou 212 853 consultas médicas, prestadas a 185 910 pacientes. A MSF tem projetos na Venezuela desde 2015 e atualmente trabalha nos estados de Amazonas, Anzoátegui, Bolívar e Delta Amacuro.

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