Escalada militar no Noroeste da Síria agrava a já terrível situação humanitária

A escalada das hostilidades no Noroeste da Síria, desde 3 de outubro, está a ter um impacto enorme nas pessoas que vivem na área e infligiu consequências devastadoras nas instalações de saúde. Pelo menos 78 000 pessoas tiveram de deslocar-se e os esforços para prestar assistência estão atualmente dificultados devido à violência em curso.

De acordo com as autoridades de saúde locais, pelo menos 46 pessoas foram mortas e 279 feridas, incluindo mulheres e crianças. Nas estruturas apoiadas pela Médicos Sem Fronteiras (MSF) foram tratadas 60 pessoas, incluindo duas mulheres, e cinco pessoas morreram.

As instalações de saúde não foram poupadas nos bombardeamentos feitos pelas forças governamentais sírias. Três hospitais em Idlib – o Hospital Universitário, o Hospital Nacional e o Hospital Al-Mohafatha – foram atingidos, afetando a capacidade de trabalho e deixando estas estruturas parcialmente sem poder funcionar.

“Estes ataques são inaceitáveis e têm consequências desastrosas para pessoas que já estão em situação de vulnerabilidade e também no já frágil sistema de saúde no Noroeste da Síria. Repudiamo-los nos mais fortes termos”, frisou a coordenadora-geral da MSF para o Noroeste da Síria, Siham Hajaj. “Todas as partes em conflito têm de respeitar a Lei Internacional Humanitária, proteger as pessoas e as infraestruturas civis, e salvaguardar as instalações médicas”, sustenta.

Acresce que aproximadamente 19 hospitais em Idlib e Alepo Ocidental deixaram de prestar serviços não essenciais e estão atualmente exclusivamente dedicados a providenciar cuidados de emergência, o que torna o acesso a cuidados de saúde num desafio ainda maior. As autoridades de saúde locais instam à utilização eficiente do pessoal médico e ao envolvimento de especialistas nos principais hospitais de referência em Idlib e em áreas mais próximas da linha da frente.

“Estamos em contacto com hospitais e estruturas médicas nas linhas da frente e informámo-los que estamos totalmente a postos para receber pacientes diretamente transferidos por eles”, explica o responsável pelas atividades médicas da MSF em Idlib, Abo Mahmood Al Homsi*.

O campo para pessoas deslocadas Al-Sanaa, em Daret Ezza, onde a MSF desenvolve atividades junto da comunidade, foi bombardeado. Mulheres e crianças neste campo foram transferidas para áreas mais seguras. Porém, as condições nestas áreas são extremamente desafiantes devido à falta de serviços essenciais como água, latrinas, alimentos e abrigos. E as condições de sobrelotação agravam ainda mais as dificuldades.

A MSF fez entrega de medicamentos e provisões em múltiplos centros de receção de pessoas deslocadas na região. Nestes incluem-se os centros em Mashhad Ruhein, Termanin e Kafr Beni. Além disso, foi feita a doação de sacos para transporte de sangue ao banco de sangue de Atarib.

Foram ainda providenciados medicamentos e kits de cirurgia, a par de outras provisões, a cinco hospitais e dois postos médicos em Idlib, e expandido o apoio em logística ao Hospital de Caridade Atmeh.

“É necessária ação urgente para melhorar as capacidades de traumatologia e de cirurgia em Idlib. Estes recursos já são limitados na área. Isto é importante para que seja possível prestar cuidados às pessoas feridas na guerra, assim como para lidar com os efeitos a longo prazo do aumento explosivo de contaminação nas áreas povoadas”, avança Siham Hajaj.

Em Ariha, onde os disparos de artilharia e mísseis causaram mortos e numerosos feridos, a MSF, em colaboração com parceiros locais, prestou cuidados essenciais a quatro pessoas feridas no centro de saúde da cidade, enquanto outros feridos foram transferidos para hospitais em Idlib de forma a receber mais tratamentos.

Este novo ciclo de violência vai agravar ainda mais a já terrível situação humanitária no Noroeste da Síria resultante de mais de uma década de guerra. A MSF está empenhada em avaliar as necessidades médicas e humanitárias das comunidades afetadas e permanece diligente em providenciar cuidados que salvam vidas às pessoas em necessidade.

*nome alterado por razões de segurança