Um grupo de mulheres recolhe água num ponto designado pela MSF em Jerbana, no Sudão do Sul, onde a falta de água é o principal problema da população.

Falhas na prestação de cuidados de saúde ameaçam vidas no Sudão do Sul

Novo relatório da MSF alerta para uma resposta internacional insuficiente face às necessidades humanitárias

A população do Sudão do Sul enfrenta uma situação humanitária cada vez mais deteriorada, enquanto o interesse e o apoio internacionais continuam a diminuir, alerta o novo relatório da Médicos Sem Fronteiras (MSF), intitulado “Deixados para trás na crise: a escalada da violência e o colapso dos cuidados de saúde no Sudão do Sul”.

Com base em dados médicos de rotina e em testemunhos de pacientes, cuidadores, membros da comunidade e profissionais de saúde que vivem nas áreas onde a MSF trabalha, o relatório expõe o impacto humano de um sistema de saúde em colapso e de uma resposta humanitária insuficiente.

 

O sistema de saúde do Sudão do Sul está no limite da rutura.

Sigrid Lamber – responsável de operações da MSF no Sudão do Sul

 

“Em todas as localidades onde a MSF está presente, as nossas equipas testemunham falhas enormes nos serviços de saúde. As unidades de saúde são inexistentes ou estão gravemente carenciadas. A escassez crónica de medicamentos e de profissionais significa que pessoas estão a morrer de doenças evitáveis e tratáveis. As unidades de saúde precisam de apoio no local, não apenas no papel”, ressalva a responsável de operações da MSF no Sudão do Sul,  Dra. Sigrid Lamberg.

Este ano, a violência entre as forças governamentais, grupos de oposição e grupos armados não estatais aumentou de forma acentuada, o que representa a pior escalada desde a assinatura do acordo de paz de 2018. A intensificação da violência, os ataques às instalações de saúde por todas as partes em conflito e as restrições de acesso estão a impedir ainda mais a prestação de cuidados de saúde e de ajuda humanitária.

 

Um posto de saúde da MSF ficou destruído após combates na aldeia de Wunpeth, em Abyei. Agosto de 2023.
Um posto de saúde da MSF ficou destruído após combates na aldeia de Wunpeth, em Abyei. Agosto de 2023. © Sean Sutton/Panos Pictures

 

Segundo as Nações Unidas, desde janeiro, novas vagas de violência provocaram o deslocamento de mais de 320 mil pessoas e causaram a morte de 2000. Em Malakal, entre abril e novembro de 2025, as equipas da MSF trataram 141 pacientes com traumatismos, incluindo mulheres e crianças, muitos com ferimentos por arma de fogo.

Em flagrante violação do direito internacional humanitário, 2025 registou também um aumento acentuado nos ataques às instalações de saúde por todas as partes em conflito. Só a MSF sofreu oito ataques contra as instalações e equipas em Equatória Central, Jonglei e Alto Nilo, o que levou ao encerramento de dois hospitais, em Ulang e Old Fangak. A 3 de dezembro, uma das nossas instalações foi atingida por um ataque aéreo na cidade de Pieri, no estado de Jonglei. No mesmo dia, após o ataque em Pieri, as equipas da MSF testemunharam outros ataques aéreos em Lankien, onde a organização também gere instalações de saúde.

As comunidades enfrentam múltiplas crises sobrepostas: conflito, deslocamentos em larga escala, cheias, desnutrição e surtos de doenças,  incluindo o maior surto de cólera da história do país. Apesar disto, o apoio internacional continuou a diminuir em 2025, mesmo com o agravamento das condições de vida e do acesso a serviços essenciais.

 

A equipa da MSF trabalha incansavelmente para salvar uma menina de 3 anos, que chegou ao hospital em Abyei, no Sudão do Sul, com dificuldades respiratórias.
A equipa da MSF trabalha para salvar uma menina de 3 anos, que chegou ao hospital em Abyei com dificuldades respiratórias. Agosto de 2023. © Sean Sutton/Panos Pictures

 

O Health Sector Transformation Project (HSTP), uma iniciativa de vários doadores, que foi lançada em julho de 2024, permanece o principal mecanismo de prestação de cuidados de saúde no Sudão do Sul. Liderado pelo governo, com a OMS, a UNICEF e outros parceiros, o projeto previa inicialmente apoiar 1158 instalações de saúde em dez estados e três áreas administrativas. Contudo, devido a limitações de financiamento, apenas 816 instalaçãos estão atualmente a receber apoio, e mesmo estas enfrentam uma escassez persistente de medicamentos e profissionais.

“Vim de Keurdeng, demorou uma hora. Há uma pequena unidade de saúde em Keurdeng, mas não tem todos os medicamentos – às vezes, ficam sem stock muito rapidamente. Levei a criança ao centro de saúde, mas não havia medicamentos”, contou uma cuidadora em Toch às equipas da MSF.

 

O pequeno Alnel, de 1 ano, está no colo da mãe, Nyanbeny, enquanto passa pelo exame de rastreio da desnutrição no Hospital Ameth Bek, em Abyei, no Sudão do Sul.
Alnel, de 1 ano, está no colo da mãe, Nyanbeny, enquanto passa pelo exame de desnutrição no Hospital Ameth Bek. Agosto de 2023. © Sean Sutton/Panos Pictures

 

A malária continua a ser um desafio enorme, mantendo-se como a principal causa de morbilidade e mortalidade no Sudão do Sul, particularmente entre mulheres e crianças. Apesar disso, pelo segundo ano consecutivo, 2025 registou ruturas de stock de medicamentos para a malária em todo o país durante a época de pico. Sem tratamento atempado, a malária pode ser rapidamente fatal. Entre janeiro e setembro de 2025, as equipas da MSF trataram 6.680 pessoas com malária grave que necessitaram de hospitalização.

Há anos que a população do Sudão do Sul enfrenta algumas das maiores necessidades médicas e humanitárias do mundo. Em 2025, a situação agravou-se significativamente. O aumento das necessidades exige ação urgente. Os doadores internacionais devem cumprir os compromissos de apoiar os esforços de saúde e humanitários, e as falhas nos programas existentes precisam de ser corrigidas de forma urgente.

No mínimo, é necessário garantir a entrega atempada de medicamentos essenciais, de equipamento médico e o pagamento dos salários dos profissionais de saúde. No meio da escalada de violência, o acesso humanitário, a proteção civil e o respeito pelas instalações de saúde devem ser assegurados. A MSF insta também o governo do Sudão do Sul a aumentar o orçamento nacional para a saúde, em conformidade com a Declaração de Abuja, que prevê a alocação de 15 por cento do orçamento para a saúde. Atualmente, apenas 1,3 por cento do orçamento nacional é dedicado a este setor.

“A situação no país é catastrófica”, avança Lamberg. “As necessidades urgentes da população do Sudão do Sul exigem uma resposta coordenada, compromisso renovado e uma solidariedade internacional genuína. O mundo não pode desviar o olhar, especialmente agora.”

 

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