Haiti: Casos de cólera diminuem, mas a vigilância permanece

MSF reestrutura sua resposta à epidemia, mas continua acompanhando a doença que se tornou endêmica no país

MSF está reestruturando sua resposta à epidemia de cólera no Haiti. Nas próximas semanas, a organização médico-humanitária vai repassar para outros agentes nacionais e internacionais a responsabilidade pela assistência aos novos pacientes de cólera. Enquanto isso, equipes de MSF seguem realizando cirurgias e outros atendimentos de emergência nos projetos criados em resposta ao terremoto de janeiro de 2010. Um ano depois do tremor, o acesso a cuidados especializados em saúde no país ainda é restrito.

Desde o começo da epidemia, mais de 110 mil pacientes já foram tratados pelas equipes médicas de MSF. Por volta do dia 6 fevereiro, seis das oito províncias do Haiti tiveram uma baixa no número de novas internações. No entanto, o número de pacientes admitidos a cada semana triplicou no sul do país. Ainda assim, em geral, o número semanal de internações por cólera nas instalações de MSF diminuiu cerca de 70% quando comparado ao início da epidemia, passando de 12 mil pacientes por semana em outubro para 3.118 no começo de fevereiro. Na região de Artibonite, as equipes médicas, que já chegaram a tratar cerca de 4.500 casos por semana, hoje registram apenas 500 casos semanais. Além disso, MSF registrou que a distribuição dos casos de cólera é irregular no país.

Como consequência, MSF reajustou seus programas a fim de responder de forma mais adequada à realidade atual no Haiti, reduzindo, em tamanho e quantidade, os centros de tratamento. De acordo com Caroline Séguin, coordenadora da resposta à emergência de cólera, a decisão se baseia em dois fatores: a situação epidemiológica, mais precisamente a mudança no número de casos assistidos, e a existência de outros centros de tratamento próximos capazes de atender a demanda.

Os agentes que substituírem MSF receberão medicamentos e suprimentos médicos. “Nossa retirada está sendo preparada. Nós estamos nos assegurando que as estruturas que vão nos substituir sejam capazes de absorver os novos casos de cólera. Após a nossa partida, uma equipe de MSF irá monitorar a situação epidemiológica. Nós vamos manter contato com essas equipes, e pedimos que nos contatassem em caso de um novo aumento de casos”, explicou Dominique Bernard, coordenador de MSF em Port-de-Paix.

Entre os motivos que podem explicar a diminuição de novos casos está a chegada da estação seca no Haiti, que dá condições menos propícias à propagação da doença. Além disso, o isolamento dos pacientes dentro dos Centros de Tratamento de Cólera (CTC), o tratamento dos lugares contaminados, a cloração da água em diferentes lugares e os amplos esforços de conscientização das pessoas promovidos por MSF e outros agentes tiveram um impacto positivo na contenção da epidemia. “No começo, a população não sabia nada sobre cólera, e estava amedrontada”, disse Caroline Séguin. “É muito diferente agora que as pessoas sabem a importância do trabalho de cloração”.

Mas é preciso ainda monitorar de perto o quadro, uma vez que a cólera se tornou endêmica no Haiti e que a estação de chuvas já vai começar, aumentando, assim, os riscos da epidemia ressurgir. Caroline Séguin ponderou: “Os números podem aumentar ou diminuir, então nós vamos continuar a monitorar a situação nos próximos meses no Haiti. Nós estaremos prontos para intervir caso haja um novo fluxo de doentes”.

Desde o começo da epidemia, mais de 110 mil casos de cólera foram tratados pelas equipes médicas de MSF, em 47 Centros de Tratamento de Cólera (CTC) espalhados pelo Haiti (cerca de 60% dos casos em todo o país). MSF conta com uma capacidade hospitalar de mais de 4 mil leitos para a epidemia. Nestas instalações, a taxa de mortalidade se mantém menor que 2% to total de casos.

Enquanto se adapta à nova realidade da epidemia e reduz as instalações criadas para responder à emergência de cólera, MSF dá continuidade aos projetos de tratamento de traumas físicos, cirurgias, obstetrícia e emergências. Para 2011, o orçamento previsto é de 46 milhões de euros, que serão alocados no gerenciamento de uma rede de seis hospitais, com capacidade de mil leitos, em Porto Príncipe e um em Leogane. Os recursos também serão utilizados para apoiar dois hospitais do Ministério da Saúde, além de para dar suporte aos novos agentes que lidarão com casos de cólera.

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