Haiti: pacientes dão passos para a recuperação

Haitianos feridos pelo terremoto são acompanhados de perto por MSF, desde os primeiros cuidados até a fase pós-operatória.

Jerry tem sete anos. Ele foi severamente ferido no terremoto do dia 12 de janeiro que devastou Porto Príncipe. Preso nos destroços quando sua casa ruiu, ele sofreu uma grave fratura exposta no fêmur.

Lousimerre, a mãe de Jerry, perdeu duas de suas cinco crianças no tremor. Determinada a não ver a terceira criança morrer, ela imediatamente trouxe Jerry para um dos hospitais de Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Porto Príncipe, onde ele recebeu cuidados médicos de emergência.

MSF medicou Jerry com antibióticos o mais rápido possível para manter a infecção em sua ferida aberta sob controle. Ele foi levado para uma sala de cirurgia onde o cirurgião realizou uma limpeza completa do ferimento. Alguns dias depois, levaram o menino de volta à sala de operação para uma nova checagem e uma nova limpeza da ferida. Eles descobriram que a infecção ainda estava grave e ficaram extremamente preocupados de que ela pudesse se espalhar para o resto do corpo e ameaçar a vida de Jerry.

 “A ferida estava muito perto da virilha, então, se a infecção tivesse subido mais um pouco, seria muito mais difícil salvar a vida dele. Nós sabíamos que tínhamos que amputar para mantê-lo vivo”, disse a médica de MSF Karin Lind, em Porto Príncipe.

Nos vinte dias que se seguiram ao terremoto, as equipes de MSF trataram mais de 11 mil pacientes. Durante este período, os cirurgiões de MSF trabalharam contra o relógio, realizando cerca de 1,3 mil operações cirúrgicas. Apenas um pouco mais de um décimo (140) dessas operações foram amputações, e elas eram sempre o último recurso no esforço para salvar a vida ou os membros do paciente. Entretanto, em alguns casos, MSF não tinha outra escolha a não ser fazer a amputação.

 “Nós cuidamos de dezenas de fraturas expostas resultantes deste desastre, e nós conseguimos salvar membros de muitas pessoas”, explica Rosa Crestani, coordenadora da emergência médica de MSF no Haiti. “Mas algumas vezes um médico não tem outra escolha a não ser realizar a amputação – tanto porque um membro está em um estado tão ruim que é impossível salvá-lo, quanto porque a ferida está tão gravemente infectada que manter o membro significa arriscar a vida do paciente.”

Uma amputação só acontece quando os cirurgiões de MSF recebem o consentimento do paciente. Então, psicólogos de MSF trabalham com as pessoas antes de suas operações, para ajudá-las a lidar com a perda dos membros. Os psicólogos também trabalham com a família do paciente para tentar prepará-los mentalmente sobre o que isso acarretará na convivência futura.

 “Eles já tem que lidar com o trauma do terremoto e da perda de entes queridos, então a amputação é ainda outro estágio para o sofrimento deles”, diz a psicóloga de MSF Renaud Sander. “Após a amputação, nós tentamos garantir que a família vai apoiar o paciente. Mas é muito difícil dizer a uma mãe que seja forte pelo seu filho após ela ter perdido no terremoto o marido e tudo mais que ela tinha.”

Uma vez que a amputação está finalizada, a fisioterapia começa. Ela é essencial para aumentar a mobilidade e preparar o paciente para a prótese (o substituto artificial de um membro perdido).

 “É crucial começar cedo a preparar o paciente para um membro artificial. Com fisioterapia nós trabalhamos para fortalecer os músculos na região que receberá a prótese, e também realizamos exercícios para fortalecer os outros braços e pernas. Depois de três meses a cicatriz já teve tempo suficiente para se curar, e a pele já fica forte o suficiente para que o paciente receba a prótese”, explica Viviane Hasselmann, fisioterapeuta do Handicap Internacional que está trabalhando junto com o pessoal de MSF no hospital de Isaie Jeanty em Porto Príncipe.

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