Haiti: violência coloca pacientes, atividades médicas e equipes de MSF em risco

Desde o início de junho, confrontos em Porto Príncipe deixaram várias pessoas feridas e desalojadas, incluindo pacientes e profissionais de saúde

Haiti: violência coloca pacientes, atividades médicas e equipes de MSF em risco

Porto Príncipe, 11 de junho de 2021O aumento da violência na capital do Haiti está colocando as atividades médicas em risco, afirma a organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF), alertando que o atendimento médico não pode ser mantido enquanto confrontos armados e assaltos afetam as instalações de saúde, veículos, pacientes e funcionários.

Na primeira semana de junho, confrontos no bairro de Martissant, e em outros distritos de Porto Príncipe, deixaram muitos feridos e desalojaram mais de mil pessoas, incluindo pacientes e funcionários de MSF. De 2 a 4 de junho, o centro de emergência de MSF em Martissant recebeu 42 pacientes com ferimentos à bala e os casos mais graves foram transferidos para o hospital de trauma de MSF no bairro de Tabarre. Durante o mesmo período, o hospital de Tabarre recebeu 42 pacientes no total, incluindo 38 feridos por arma de fogo, forçando MSF a aumentar sua capacidade de 50 para 68 leitos.

“Estamos testemunhando uma deterioração extremamente preocupante na situação da segurança”, disse Alessandra Giudiceandrea, coordenadora-geral de MSF. “Alguns confrontos armados ocorreram perto do centro de emergência e escritórios de MSF em Martissant, onde a equipe precisou se proteger de balas perdidas. Indivíduos armados roubaram dois motoristas de ambulância de MSF entre outros veículos que viajavam de Martissant. Para proteger nossa equipe, tivemos que reduzir nossas atividades, mas ainda estamos tratando emergências com base em nossos critérios iniciais de admissão”.

De 15 a 31 de maio, ocorreram confrontos também nos bairros Cité Soleil e Bel Air, durante os quais o hospital de Tabarre atendeu 41 pacientes, incluindo 32 vítimas de violência, esgotando a capacidade do local, informa MSF. Em outro incidente, no dia 25 de maio, um membro da equipe do hospital de Tabarre de MSF foi baleado e morto quando voltava do trabalho para casa.

A intensificação do nível de violência crônica está ocorrendo em meio a uma crise política e econômica mais ampla no Haiti, que afeta as pessoas de várias maneiras. Os sistemas de saúde estão sobrecarregados não apenas pela insegurança, mas pelo atual aumento de casos de COVID-19, desafios econômicos e um alto nível de necessidades médicas.

“Em um momento em que deveríamos estar aumentando [cuidados médicos] por causa da COVID-19 e outras necessidades, estamos lutando para manter nossas instalações existentes abertas devido à insegurança”, disse Giudiceandrea. “Pedimos a todos que respeitem a necessidade de continuidade das atividades médicas”.

Em Martissant, a insegurança e o deslocamento podem estar dificultando a chegada dos pacientes aos serviços de saúde. Enquanto o centro de emergência de MSF em Martissant relatou um influxo de pacientes traumáticos após os maiores incidentes de violência na semana passada, o número de pacientes agora caiu e está abaixo da média normal do centro.

MSF também oferece atendimento a sobreviventes de violência sexual e de gênero em Porto Príncipe e Gonaïves, mas a equipe da clínica agora está atendendo menos pessoas, pois elas podem estar com medo de sair de casa para procurar atendimento médico. MSF teme que o aumento geral da violência no país esteja afetando a capacidade de as vítimas de violência sexual buscarem cuidados necessários.

A organização médico-humanitária oferece atendimentos médicos que salvam vidas a comunidades no Haiti há 30 anos, mas para continuar fornecendo esses serviços em qualquer região, MSF deve ser capaz de garantir a segurança de pacientes e funcionários no trajeto de ida e volta para os centros de saúde. MSF exige que todos os grupos e indivíduos envolvidos em incidentes de violência no Haiti respeitem a segurança dos profissionais de saúde, pacientes, suprimentos e instalações médicas, e que os veículos de saúde tenham passagem segura sem risco de ataque.

 

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