Iêmen: necessidade urgente de ajuda em áreas remotas para parar as mortes por cólera

Embora a rapidez com que a doença se alastra tenha diminuído, muitas mortes ainda ocorrem em áreas distantes dos centros de tratamento

Iêmen: necessidade urgente de ajuda em áreas remotas para parar as mortes por cólera

Em quatro meses de surto de cólera no Iêmen, o número de novos casos em todo o país começou a diminuir nos últimos 10 dias. Entretanto, muitas pessoas em áreas remotas ainda estão morrendo sem motivo, adverte hoje a organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF). A menos que a ajuda seja aumentada urgentemente e uma abordagem preventiva seja tomada a nível comunitário, as pessoas continuarão a morrer desta doença evitável, diz MSF.

Mais de 430 mil pessoas foram afetadas pela doença desde que o surto foi declarado em 27 de abril de 2017.

"Algumas semanas atrás, um dos meus vizinhos sofria de diarreia grave e vômito", diz Zayed Al Goidi, de Beit Al Ghwadi, uma vila no vale de Osman, uma das áreas mais remotas da província de Amran. "Ele morreu no mesmo dia, mas ninguém sabia o motivo. Nós não temos televisores ou telefones e poucos têm um rádio, então levou muito tempo antes de entendermos que era cólera”.

Mas ser capaz de identificar a doença não é suficiente para salvar os aldeões, dos quais a maioria não pode se dar ao luxo de viajar para buscar cuidados médicos. "A instalação médica mais próxima fica a várias horas da vila e a viagem pode custar até 60 dólares americanos", diz Al Goidi. "Somos pobres e quase não temos meios de ganhar a vida, então, como podemos pagar tanto dinheiro? Para salvar nossas vidas, temos que prometer nossa propriedade: nossa terra, as joias de nossas esposas".

"Nossos dados epidemiológicos mostram que o vale de Osman é uma das áreas mais afetadas pela cólera", diz Ghassan Abou Chaar, coordenador-geral de MSF no Iêmen. "Sua localização remota, as poucas condições de vida das pessoas e a falta de conhecimento sobre cólera contribuíram para a propagação da doença e o número de mortes causadas por ela. Não podemos simplesmente esperar e tratar apenas os pacientes que conseguem chegar aos nossos centros de tratamento de cólera. Se não chegarmos a locais como o vale de Osman, as pessoas continuarão morrendo".

O médico Mohamed Musoke, coordenador de emergência de MSF para a cólera, viajou do hospital de MSF em Khamir para Beit Al Ghwadi, a uma distância de 2,5 horas de carro. "A estrada é muito difícil e este lugar é quase completamente isolado", diz Musoke. "No nosso caminho, cruzamos o rio, a principal fonte de água para a comunidade. Nós vimos animais bebendo nele, as pessoas lavando suas roupas e as mães dando a seus filhos água para beber ".
 
Em meados de julho, as equipes de MSF distribuíram itens de higiene para centenas de famílias no vale de Osman e organizaram sessões de conscientização sobre cólera.

Desde o início do surto, MSF forneceu tratamento para cólera a mais de 82.000 pacientes – um quinto de todos os casos identificados no país. Para controlar o surto, MSF pede que outras organizações façam uma resposta coordenada que inclua atividades de água e saneamento e educação em saúde.

"Os poços e os locais de armazenamento de água precisam ser tratados. Além disso, as pessoas precisam ser educadas sobre como se protegerem contra a cólera, especialmente com a proximidade da estação chuvosa", diz Abou Chaar.
 

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