Líderes globais se reúnem em reunião inédita e histórica sobre tuberculose

Compromissos concretos são necessários para ampliar meios de salvar vidas e desenvolver uma cura rápida, segura e simples para a TB

Líderes globais se reúnem em reunião inédita e histórica sobre tuberculose

Enquanto líderes mundiais se reúnem na primeira Cúpula das Nações Unidas sobre Tuberculose (TB), a ser realizada nesta semana em Nova Iorque, nos Estados Unidos, a organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) pediu aos governos que salvem mais vidas, aumentando o acesso a diagnóstico e tratamento da tuberculose e assumindo compromissos reais para desenvolver ferramentas mais efetivas e simples para acabar com a doença.

Novos números globais da TB divulgados na semana passada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que a resposta à doença infecciosa mais mortal do mundo continua fraca e lenta, o que resultou na perda de 1,6 milhão de vidas e em 10 milhões de pessoas desenvolvendo a doença em 2017. Casos sem diagnóstico ou não notificados são um grande desafio: nos últimos sete anos, mais de 33% das pessoas com tuberculose continuaram sem o devido diagnóstico.  

Uma das principais razões para esses números alarmantes é o fato de que os governos demoram a ampliar as ferramentas de teste e tratamento da tuberculose que estão disponíveis hoje. Por exemplo, em 2013, a OMS recomendou o uso de um novo medicamento oral, a bedaquilina, para o tratamento da tuberculose resistente a medicamentos. No entanto, a adoção da bedaquilina e de outros medicamentos mais recentes continua muito lenta. Alguns deles permanecem inacessíveis a quase 90% das pessoas que poderiam ter se beneficiado em 2017. Já que a OMS acaba de recomendar a bedaquilina (em vez de medicamentos injetáveis) para ser usada como principal medicamento do tratamento da tuberculose multirresistente a medicamentos, os governos devem agir rapidamente para expandir o acesso a regimes de tratamento seguros, efetivos e sem injeções.

“Temos visto muitas mortes dolorosas e sem razão em países onde trabalhamos, porque as pessoas ainda não têm acesso aos melhores testes e tratamentos disponíveis de TB, que são mais eficazes e causam menos efeitos colaterais graves”, disse a dr. Gabriella Ferlazzo, conselheira de TB/HIV da Unidade Médica da África Austral de MSF. “No dia 26 de setembro, os líderes mundiais terão uma oportunidade histórica de mudar o rumo da epidemia global de tuberculose, firmando compromissos sólidos para a rápida ampliação de novas ferramentas para o diagnóstico e o tratamento efetivo da doença.”

Por décadas, houve um subfinanciamento crônico de pesquisa e desenvolvimento (P&D) para diagnóstico e medicamentos de TB. Os principais regimes de tratamento disponíveis para a TB não mudaram muito desde a década de 1940, e apenas dois novos medicamentos contra a doença foram desenvolvidos nos últimos 50 anos. Hoje, apenas 25% das pessoas com TB multirresistente a medicamentos (TB-MDR) são devidamente diagnosticadas e tratadas. As pessoas “sortudas” o suficiente para iniciar o tratamento têm que passar por um doloroso processo de dois anos, que envolve quase 170 injeções e mais de 12 mil comprimidos, que podem causar efeitos colaterais graves, incluindo surdez, psicose e até suicídio. As taxas de cura para a TB-MDR são desesperadoras, já que apenas cerca de 55% das pessoas que recebem tratamento são curadas.

Embora existam hoje várias novas ferramentas, como a bedaquilina, disponíveis e necessárias para os governos ampliarem imediatamente o acesso, uma cura viável e rápida para a TB ainda não existe. Para reverter significativamente a epidemia, tratamentos otimizados, testes e diagnósticos rápidos e simples e vacinas efetivas para adultos e crianças precisam ser urgentemente desenvolvidos.

“Como é possível que, há quase 60 anos, enviamos o homem à lua e chegamos ao ponto mais profundo do oceano e, ainda assim, as pessoas afetadas por uma das doenças mais antigas na história da humanidade continuam sofrendo e morrendo porque não conseguimos encontrar uma cura rápida, segura e simples para a TB?”, disse Sharonann Lynch, conselheira de HIV e TB da Campanha de Acesso de MSF. “Tudo o que seria necessário para uma cura mais rápida, segura e simples da tuberculose é que os governos se importassem o suficiente para torná-la uma prioridade política. Nesta semana, líderes mundiais devem demonstrar vontade e assumir a responsabilidade coletiva de lutar contra essa emergência global de saúde, para que não continuemos perdendo vidas para a TB a cada 18 segundos.”

Apesar dos enormes desafios que a tuberculose traz, os compromissos dos governos para apoiar e intensificar a pesquisa e o desenvolvimento têm sido extremamente insuficientes, com um déficit de financiamento estimado em US$ 1,3 bilhão por ano. Os governos precisam intensificar e aumentar significativamente o financiamento para a pesquisa, além de mobilizar a comunidade de pesquisadores e apoiar novos modelos de pesquisa colaborativa.

“Os governos precisam parar de economizar com pesquisa e desenvolvimento em relação ao tratamento da TB e começar a apoiar a pesquisa colaborativa inteligente com a promessa de que o resultado será acessível e estará disponível”, disse Lynch.

 MSF oferece tratamento para TB há 30 anos, muitas vezes trabalhando junto a autoridades nacionais de saúde para atender pacientes em uma grande variedade de locais, incluindo zonas crônicas de conflito, favelas urbanas, prisões, campos de refugiados e áreas rurais. Em 2016, MSF apoiou mais de 20 mil pessoas no tratamento da TB, incluindo 2.700 pessoas com formas resistentes a medicamentos da doença.
 

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