Médicos Sem Fronteiras pede tratamento mais amplo para pacientes com HIV/Aids na Guatemala

Fundo Global e governo do país têm que garantir maior cobertura e comprar medicamentos por preços mais baratos

Por ocasião do encontro da diretoria do Fundo Global de Luta contra a Aids, Tuberculose e Malária, na cidade da Guatemala, a organização humanitária internacional da área da saúde Médicos Sem Fronteiras (MSF) pede que haja um maior esforço por parte do Governo da Guatemala e do Fundo Global para manter o tratamento de pessoas com HIV/Aids.

Além disso, MSF pede que a cobertura seja expandida para aqueles que não estão sendo tratados na Guatemala, país no qual, segundo estimativas da Unaids, 60% das pessoas com HIV/Aids não recebem assistência.

MSF já tratou mais de dois mil pacientes com HIV/Aids na Guatemala desde 2001. A responsabilidade sob o tratamento de mais de 1.250 pessoas será gradualmente transferida para as autoridades de saúde da Guatemala ao longo de 2007.

Essa transferência é uma indicação positiva da capacidade nacional de tratar pacientes com HIV/Aids. No entanto, a ampliação da cobertura e sua sustentabilidade ainda são desafios tanto para a Guatemala quanto para o Fundo Global. Uma vez que o Fundo Global só oferece financiamento para o tratamento de novos pacientes, o governo da Guatemala deve se comprometer a alocar recursos adequados, humanos e financeiros, para cuidar dos pacientes com o HIV/Aids que não têm acesso ao tratamento.

De sua parte, o Fundo Global deve garantir que os medicamentos mais eficazes sejam comprados por preços mais acessíveis. "O Fundo Global deve se tornar mais ativo, usando seu poder financeiro para diminuir o preço dos medicamentos e fazer com que um maior número de pessoas tenha acesso ao tratamento nos próximos anos", defende Ginette Pilate, chefe de missão de MSF na Guatemala. "O alto preço pago pelos anti-retrovirais de segunda linha na Guatemala é o maior obstáculo para a manutenção e expansão do tratamento. Infelizmente, o caso da Guatemala é um exemplo de um problema mais grave envolvendo os preços de medicamentos cruciais de segunda linha em países de médio rendimento econômico em todo o mundo".

Por exemplo, o Lopinavir/Ritonavir (vendido sob o nome de "Kaletra"), um anti-retroviral de segunda linha que é recomendado pela Organização Mundial de Saúde e é produzido pelo laboratório americano Abbott, não está disponível na Guatemala, assim como em outros países em desenvolvimento.

Desde junho de 2006, a Abbott cobra US$ 500 por paciente por ano pela nova versão do Lopinavir/Ritonavir em países menos desenvolvidos como Malauí e Camarões. Mas em países com rendimento médio como Guatemala, Honduras ou Peru, as autoridades pagam US$ 2.200 por paciente por ano.

O Fundo Global deveria encorajar a Guatemala e outros países de médio rendimento a usar as ferramentas da Organização Mundial do Comércio, definidas pela Declaração de Doha de 2001, para comprar os medicamentos mais eficazes pelos melhores preços.

MSF trabalha na Guatemala desde 1982. A organização fornece tratamento anti-retroviral para mais de 60 mil pacientes espalhados em 65 projetos em 32 países, incluindo mais de 4 mil crianças. MSF trata pessoas com HIV/Aids em países em desenvolvimento desde meados da década de 90 e começou a oferecer tratamento com anti-retrovirais em 2000.

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