MSF alerta que Sudão do Sul está a um passo de enfrentar uma nova estação excepcionalmente grave de malária

A organização tratou mais de 170 mil pacientes só no ano passado

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Picos de malária no Sudão do Sul estão aumentando a possibilidade de uma segunda estação consecutiva da doença, marcada por números excepcionalmente elevados de casos e de mortes que poderiam ser evitadas. De acordo com a organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF), essa situação pode ser contornada com uma ação urgente para reforçar o acesso a tratamento nas áreas de maior risco.

MSF tratou mais de 170 mil pacientes com malária no Sudão do Sul no ano passado, quando o número de pacientes que buscava tratamento em instalações de MSF triplicou em relação à 2013. No último mês de novembro, MSF alertou que o acesso ao tratamento para a malária deveria ser ampliado urgentemente nas áreas mais afetadas pela doença. Em 2014, muitos pacientes chegavam em condições sob grave risco de morte após percorrerem longas jornadas para obter cuidados de saúde, porque não havia tratamento adequado nas instalações de saúde locais. Cumulativamente, a malária foi a responsável por 72% das mortes relacionadas a doenças no país em 2014, de acordo com estatísticas da Organização das Nações Unidas (ONU).

Neste ano, a situação parece ser ainda mais preocupante. Em três projetos da organização na região oeste do país, onde a malária é prevalecente, MSF está observando um número elevado de pacientes apenas nos três primeiros meses da estação de malária, como aconteceu no mesmo período em 2014. No Sudão do Sul, a estação da doença coincide tipicamente com a estação chuvosa, que acontece aproximadamente de maio até dezembro. Neste ano, as chuvas demoraram a chegar, aumentando a preocupação de MSF de que a malária possa tomar grandes proporções se a estação chuvosa ocorrer.

Em seu projeto no hospital de Aweil, no norte de Bahr Al-Ghazal, o número de pacientes hospitalizados com malária complexa já passou de 700 desde maio, como no ano passado. Infelizmente, a taxa de admissões em Aweil está aumentando. Somente em julho deste ano, 520 pacientes foram hospitalizados no projeto de MSF, um aumento de 34% comparado aos 387 no mesmo mês no ano passado. Em resposta, MSF reforçou sua equipe médica e está estruturando um hospital adicional com 40 leitos, complementando os 160 leitos já existentes ali, na expectativa de receber ainda mais pacientes durante os próximos meses.

Em Agok, na área administrativa de Abyei, MSF tratou mais do que o dobro do número de pacientes de malária durante a estação da doença, comparando-se a mesma época do ano passado; um total de 2.363 casos, dos quais 293 precisaram de hospitalização. Neste ano, recentemente, MSF treinou uma rede de agentes de saúde comunitários que trabalham diretamente na comunidade para testar e tratar casos simples, ajudando a diminuir o risco de pacientes que poderiam desenvolver malária grave.

Em Gogrial, no estado de Warrap, MSF também está presenciando o segundo ano de taxas alarmantes de malária. Equipes da organização na região trataram 9.208 pacientes até agora durante esta estação, dos quais 238 foram hospitalizados. O número de casos também está aumentando em Gogrial, com 30% mais casos em julho de 2015 do que no mesmo período do ano passado. Em resposta, MSF está estruturando um serviço de tratamento dedicado à malária no centro de saúde de MSF em Gogrial, assim como apoiando outros centros de saúde nos arredores da região para aumentar a capacidade de diagnóstico e de tratamento da doença a nível local. MSF também está buscando opções para reduzir o número de novos casos em Gogrial, incluindo uma possível distribuição massiva de mosquiteiros e a dedetização com sprays inseticidas de instalações de saúde e outros locais públicos.

Não está muito clara a causa desses picos nos casos de malária ou se o estrago desta estação será o mesmo que o da estação devastadora do ano passado. Os fatores que afetam as admissões por malária nos projetos de MSF são complexos, e incluem a época da estação chuvosa, a facilidade do acesso a instalações de saúde, a disponibilidade do diagnóstico e do tratamento para a malária em instalações rurais, e a distribuição de itens de prevenção, como mosquiteiros.

Suprimentos de medicamentos essenciais e o acesso a tratamento e a medidas preventivas são cruciais nos próximos meses para garantir que as pessoas, especialmente as crianças, não morram desnecessariamente por uma doença que é tratável e pode ser evitada, mas que, ainda assim, é a enfermidade que mais mata no Sudão do Sul.

Casos de malária também têm sido registrados no complexo de Proteção de Civis (PoC, na sigla em inglês) da ONU em Bentiu, onde a população abrigada para fugir da violência e do conflito dobrou para mais de 120 mil pessoas nos últimos meses. Ali, MSF tratou mais de 6 mil pessoas para a malária até o momento; 690 foram hospitalizadas. Um total de 2.600 pacientes de malária foram tratados somente nas últimas três semanas. Deslocamentos em grande escala em áreas afetadas pelo conflito no Sudão do Sul podem ter influência significativa no acréscimo de casos de malária, visto que as pessoas são forçadas a caminhar durante toda a noite ou a dormir ao relento, assim, aumentando a exposição a mordidas e o risco de infecção.

Embora as necessidades médicas em áreas afetadas pelo conflito no país sejam críticas, a saúde básica primária não pode ser negligenciada em nenhuma região. Caso isso aconteça, uma segunda estação devastadora de malária poderia resultar em um número incalculável de mortes que poderiam ser evitadas.

MSF é uma das maiores provedoras de ajuda e de cuidados médicos no Sudão do Sul, com mais de 3.100 profissionais atuando em 18 projetos pelo país. Ao redor do mundo, MSF tratou mais de 2 milhões de pacientes para a malária em 2014.

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