MSF comemora a decisão da OMS de recomendar opções melhores de tratamento para tuberculose

A organização pede à Johnson & Johnson que torne acessível a bedaquilina, medicamento fundamental no tratamento da doença

MSF comemora a decisão da OMS de recomendar opções melhores de tratamento para tuberculose

A organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) comemorou hoje as novas recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para melhorar o tratamento de pessoas com tuberculose resistente a medicamentos (TB-DR). A recomendação prioriza o uso de vários medicamentos orais, inclusive o novo remédio bedaquilina, e minimiza o uso de medicamentos injetáveis.

O novo regime de tratamento recomendado, que dura de 18 a 20 meses, pode ajudar a melhorar as taxas de cura, diminuir a mortalidade e apresentar muito menos efeitos colaterais. Para que essas recomendações sejam postas em prática e para que muito mais pessoas com TB-DR recebam tratamento, MSF pediu à empresa farmacêutica Johnson & Johnson (J&J), que produz a bedaquilina, que tome medidas imediatas para tornar o fármaco acessível a todos que precisam, particularmente nos países de baixa e média renda e com altos níveis de incidência da doença.

Atualmente, apenas 20% das pessoas com TB-DR recebem o tratamento que necessitam. Os que recebem o tratamento padrão de TB-DR têm que aguentar, por até dois anos, um regime agonizante de medicamentos que envolve até 20 comprimidos diários, que podem causar efeitos colaterais graves como psicose, além de receberem injeções dolorosas e diárias por até oito meses, que podem levar à perda auditiva e à surdez. A terapia atual padrão de TB-DR apresenta taxas de cura de cerca de 55%. Nos últimos seis anos, dois novos medicamentos foram aprovados para o tratamento de TB-DR, mas a adoção para melhorar o tratamento da tuberculose tem sido lenta.

“Está mais do que na hora de as pessoas que vivem com TB terem uma chance melhor de cura desta doença letal com tratamentos mais efetivos e que sejam mais fáceis de tolerar”, disse a dra. Mercedes Tatay, Secretária Médica Internacional de MSF, atualmente no projeto de TB-DR de MSF em Mumbai, na Índia. “Os governos e os fornecedores de tratamento não devem perder nem mais um minuto e devem garantir urgentemente que as pessoas tenham acesso ao melhor tratamento possível, inclusive à bedaquilina, e isso significa que a Johnson & Johnson precisa reduzir o preço do medicamento e garantir que ele esteja disponível a todas as pessoas que precisam dele.”

A J&J anunciou recentemente uma redução do preço da bedaquilina em alguns países, mas suas práticas são insuficientes para tornar o medicamento acessível nos países mais atingidos pela doença. O preço reduzido de seis meses de tratamento que alguns países prometeram, de 400 dólares (cerca de 1.276 reais), ainda é alto. A bedaquilina é apenas um dos remédios de um esquema de múltiplos medicamentos onerosos. O tratamento efetivo muitas vezes requer mais de seis meses de uso do medicamento. Em países excluídos da redução de preço oferecida pela J&J, a empresa cobra entre 3.000 dólares (cerca de 9.570 reais) e 30.000 dólares (95.5700 reais) por seis meses de tratamento.

A fim de facilitar o acesso ao tratamento, MSF pede um regime de tratamento de TB-DR completo abaixo de 500 dólares (cerca de 1.595 reais). MSF apoia o apelo de ativistas de HIV e TB que pedem à J&J que diminua o preço da bedaquilina para 32 dólares (cerca de 108 reais) por mês ou 192 dólares (cerca de 612 reais) por seis meses, em todos os países de renda média e baixa com alto número de casos de TB-DR.

Para garantir o acesso de longo prazo e o fornecimento sustentável de bedaquilina (medicamento patenteado amplamente até 2023), MSF pediu à J&J que também emita uma licença para o Pool de Patentes de Medicamentos, o que permitiria o acesso a versões genéricas acessíveis. Os países com alta carga de TB que desejarem ampliar o acesso ao tratamento da tuberculose a mais pessoas, como a Índia (que também é um importante fornecedor mundial de medicamentos contra a doença), também deveriam considerar a possibilidade de emissão de uma “licença de uso” da bedaquilina para o governo, para incentivar a redução de preços entre produtores de genéricos, antes que a patente expire.

MSF também pediu que a J&J e seu parceiro russo Pharmstandard, responsável pelo fornecimento na Europa Oriental e na Ásia Central, trabalhem rapidamente para registrar o medicamento, particularmente em 10 dos 30 países com alta carga de TB-DR, onde ele permanece sem registro.

Espera-se que os líderes globais reunidos na primeira Cúpula de TB das Nações Unidas, que ocorrerá em setembro em Nova York, priorizem o acesso e a acessibilidade financeira de todos os medicamentos necessários da doença, para fornecer regimes de tratamento ideais.

“Estamos finalmente vendo o tão aguardado e desesperadamente necessário movimento político para conter essa emergência global de saúde que afeta os mais vulneráveis ​​em todos os lugares”, disse Els Torreele, diretora executiva da Campanha de Acesso de MSF. “Agora temos melhores ferramentas para diagnosticar e tratar a epidemia. Já é hora de os governos enfrentarem o desafio, acabarem com as lacunas mortais no diagnóstico e no tratamento e porem fim ao alto número de mortes sem sentido causadas por essa doença antiga.”

MSF está envolvida no tratamento da TB há 30 anos, muitas vezes trabalhando junto às autoridades nacionais de saúde para tratar pacientes em uma grande variedade de ambientes, inclusive em zonas crônicas de conflito, favelas, prisões, campos de refugiados e áreas rurais. 

Recentes descobertas do estudo observacional endTB* de MSF e parceiros com1.200 pacientes em tratamento de TB-DR revelaram que os novos medicamentos orais, bedaquilina e delamanida, parecem ser mais seguros do que os medicamentos injetáveis comumente usados. Para mais informações, clique aqui.

* O consórcio EndTB (Expandir Novos Mercados de Medicamentos para TB, endTB.org) é uma parceria de pesquisa, financiada pela UNITAID, que trata a tuberculose resistente a medicamentos e realiza pesquisas operacionais sobre a segurança e eficácia da bedaquilina e da delamanida em 17 países com poucos recursos (África do Sul, Armênia, Bangladesh Bielorrússia, Cazaquistão, Coréia do Norte, Etiópia, Geórgia, Haiti, Indonésia, Quênia, Quirguistão, Lesoto, Mianmar, Paquistão, Peru e Vietnã).

 

Partilhar