MSF forçada a suspender cuidados médicos para pessoas migrantes no estreito de Darién

A organização médica-humanitária alerta que é crítico retomar urgentemente as atividades médicas que garantem acesso a cuidados de saúde, em especial para as pessoas que são vítimas de ataques e de violência sexual na floresta

© Juan Carlos Tomasi/MSF, 2023

A Médicos Sem Fronteiras (MSF) recebeu ordem por parte das autoridades panamenhas para suspender todas as atividades médicas prestadas a pessoas que se deslocam através do estreito de Darién, na fronteira entre a Colómbia e o Panamá. Desde que essa ordem foi emitida, a 4 de março, a MSF suspendeu as atividades. As autoridades do país alegam que a MSF não tem presentemente um acordo de colaboração em vigor com o Ministério da Saúde – que a organização tem vindo a tentar renovar, em vão, desde outubro de 2023.

A MSF está extremamente preocupada com as consequências da suspensão das atividades que presta para as pessoas em movimento no estreito de Darién, a região de densa floresta que é a única rota terrestre para quem migra rumo a Norte.

As equipas médicas da organização médica-humanitária providenciam cuidados de saúde físicos e psicológicos, em média, a quase 5 000 pessoas por mês, nos centros de receção de migrantes em San Vicente e em Lajas Blancas. As equipas da MSF colocam ênfase especial no tratamento de sobreviventes de violência sexual.

Durante 2023, a MSF forneceu cuidados médicos abrangentes a 676 pessoas que tinham sofrido violência sexual nesta parte da rota de migração. Só em janeiro de 2024, as equipas da organização médica-humanitária registaram mais 120 casos.

A MSF tem alertado reiteradamente para o aumento no número de ataques brutais e violência sexual cometidos no estreito de Darién. Ainda há cerca de duas semanas, a organização médica-humanitária deu conta que as equipas no terreno registaram nos primeiros dois meses do ano um crescimento exponencial destes ataques e agressões. Numa só semana em fevereiro, as equipas da MSF prestaram tratamento a 113 pessoas – incluindo nove crianças – que tinham sido sexualmente agredidas por grupos criminosos no Darién.

Face às óbvias necessidades de saúde, que aumentaram exponencialmente ao longo dos últimos três anos, a MSF espera que seja possível retomar tão cedo quanto possível a prestação de cuidados médicos em San Vicente e em Lajas Blancas. A suspensão coincide também com um esperado aumento no número de pessoas migrantes que nesta altura atravessam o Panamá, após os transportes por barco terem voltado a funcionar na Colômbia depois de alguns dias de interrupção.

A MSF providencia assistência em diversos pontos ao longo da rota de migração entre a América do Sul, América Central, México e os Estados Unidos. A organização médica-humanitária presta apoio gratuito e confidencial a pessoas em movimento. Em 2023, foram feitas 59 877 consultas médicas e de enfermagem (35 por cento dos pacientes com menos de 15 anos, e 53 por cento eram mulheres e raparigas), e também 2 978 consultas em saúde mental e 24 762 consultas de primeiros-socorros à saída da zona de floresta do Darién.

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