MSF regressa a Calais para prestar assistência a migrantes no canal da Mancha

Todos os dias, centenas de pessoas arriscam a vida para chegar ao Reino Unido através do canal da Mancha, por não terem encontrado perspetivas de futuro em França, ou para se juntarem a familiares

MSF regressa a Calais, em França, para prestar assistência a migrantes no canal da Mancha
© Mohammad Ghannam

A situação é cada vez mais precária para as pessoas migrantes em Calais. A redução de rotas seguras e legais para o Reino Unido tem aumentado o número de tragédias no canal da Mancha. Milhares de pessoas vivem com lesões físicas e psicológicas, devido às políticas dos governos francês e britânico.

Todos os dias, centenas de pessoas arriscam a vida para chegar ao Reino Unido através do canal da Mancha, por não terem encontrado perspetivas de futuro em França, ou para se juntarem a familiares. Em Calais, enfrentam uma falta de apoio das autoridades, isolamento face às comunidades locais e barreiras linguísticas entre si e quem providencia serviços de saúde, o que coloca estas pessoas em situações ainda mais vulneráveis, depois de terem sofrido violência e traumas psicológicos durante a viagem.

Perante a falta de capacidade para prestar cuidados de saúde a pessoas migrantes, pessoas refugiadas e requerentes de asilo por parte do governo francês, a Médicos Sem Fronteiras (MSF) começou a trabalhar em Calais, para providenciar cuidados médicos e de saúde mental às pessoas.

Entre 400 a 600 pessoas migrantes, refugiadas e requerentes de asilo vivem atualmente nesta região. É um número baixo quando comparado com os anos anteriores, devido não só ao aumento das passagens, mas também à política de “zero pontos de fixação”, que obriga os migrantes a deslocarem-se constantemente para outros locais e que forçou as pessoas a dispersarem-se ao longo da costa Norte de França.

MSF regressa a Calais, em França, para prestar assistência a migrantes no canal da Mancha
© Mohammad Ghannam

“As evacuações sistemáticas levadas a cabo pela polícia, por vezes através da violência, o confisco de pertences pessoais, a marginalização, os obstáculos impostos pelas autoridades e a perseguição de organizações de voluntários conduziram a uma situação cada vez mais precária para as pessoas e contribuíram para a deterioração do estado de saúde delas”, refere a coordenadora-geral do projeto da MSF em Calais, Pauline Joyau.

Para responder às necessidades das pessoas migrantes, refugiadas e requerentes de asilo que estão dispersas em locais informais e apoiá-las a ultrapassar obstáculos no acesso aos cuidados de saúde, as equipas da MSF visitam as áreas onde vivem, incluindo centros de dia e abrigos. As equipas procuram consciencializar as pessoas sobre questões de saúde mental e encaminhá-las para centros médicos gratuitos, ou para o hospital, em colaboração com os serviços públicos de saúde.

Na primeira ronda de consultas, os problemas médicos mais observados nas pessoas foram  problemas respiratórios relacionados com exposição ao frio e a falta de tratamento de infeções e dores devido às lesões causadas pela queda de camiões, enquanto tentavam cruzar a fronteira e atravessar o Canal da Mancha. As equipas da MSF também providenciaram cuidados às pessoas que sofreram violência psicológica durante o trajeto e a pessoas que passaram por experiências traumáticas, como os naufrágios que muitas enfrentaram no Canal da Mancha.

A redução de rotas seguras e legais para o Reino Unido fez aumentar o número de tragédias nesta fronteira. De acordo com o Observatório de Migrantes Mortos em Calais, mais de 350 pessoas perderam a vida em França, Bélgica e Reino Unido ou no mar, enquanto tentavam chegar a Inglaterra, entre 1999 e 2023. Há milhares de pessoas que vivem com marcas físicas e psicológicas, que são um resultado das políticas dos governos francês e britânico.

As equipas da MSF trabalham com organizações de voluntários que trabalham nesta zona há muito tempo. “É por causa destas pessoas e à generosidade de quem as apoia que os migrantes são capazes de ver satisfeitas as necessidades que têm”, sublinha Joyau. “No entanto, as obstruções ao trabalho das organizações voluntárias têm aumentado e, apesar das reclamações e dos recursos jurisdicionais, as práticas da polícia e das autoridades locais não mudaram.”

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