MSF retoma atendimentos regulares de saúde mental na Libéria

Atividades tiveram de ser adaptadas por causa da COVID-19

MSF retoma atendimentos regulares de saúde mental na Libéria

A pandemia de COVID-19 criou muitos desafios para os atendimentos de saúde mental na Libéria, levando a um maior isolamento social e interrompendo o tratamento em alguns casos.

MSF ajuda a tratar cerca de 1.400 pessoas com epilepsia ou doenças mentais em colaboração com cinco centros de saúde na capital Monróvia e cidades próximas. O programa clínico é reforçado por equipes psicossociais e voluntários nas comunidades, apoiando as famílias no atendimento aos pacientes. Mas muitas atividades precisaram ser interrompidas após o primeiro caso do novo coronavírus em março.

“Tivemos que trabalhar de forma diferente para proteger a equipe e os pacientes por causa dos riscos da COVID-19”, diz Justine Hallard, coordenadora do projeto de saúde mental de MSF. “Em vez de atender os pacientes em casa e nos centros de saúde, começamos a oferecer consultas por telefone e distribuir medicamentos todos os meses diretamente a eles”.

O pico dos casos de COVID-19 ocorreu em junho, embora os testes continuem limitados. Depois de um bloqueio em todo o país, o governo suspendeu uma série de restrições e as unidades de saúde apoiadas por MSF retomaram o atendimento presencial para a maioria dos pacientes com necessidades de saúde mental em julho e agosto. Outros 140 pacientes foram inscritos no projeto, enquanto uma equipe de MSF começou a fazer visitas domiciliares a mais de 30 pacientes com condições graves que não podiam comparecer às unidades de saúde.

“Estamos descobrindo muitos casos em que os pacientes abandonaram o tratamento e tiveram uma recaída enquanto não podíamos atendê-los”, afirma Emmanuel Ballah, supervisor de saúde mental de MSF. “As pessoas que saíram da cidade por causa da pandemia inicialmente não puderam retornar por causa das restrições de viagens, enquanto outras não tinham telefones celulares para que pudéssemos contatá-las. Então, elas não puderam pegar seus medicamentos quando organizamos uma nova forma de distribuição.”

Pessoas com distúrbios tão diversos como epilepsia, depressão ou esquizofrenia correm maior risco de danos quando o tratamento não está disponível. Mesmo antes da COVID-19, a Organização Mundial de Saúde (OMS) descobriu que três em cada quatro pessoas com transtorno mental ou neurológico não recebiam tratamento médico em países de baixa renda como a Libéria, o que muitas vezes causa sintomas descontrolados e a exclusão das escolas e do ambiente de trabalho. Os medicamentos apropriados geralmente não estão disponíveis na Libéria, mesmo no único hospital psiquiátrico do país. Isso é especialmente verdadeiro em 2020, já que a COVID-19 afetou a economia liberiana em geral, bem como a oferta de suprimentos e serviços médicos.

Na Libéria, uma das principais causas de morte entre pacientes com epilepsia é o afogamento causado por convulsões descontroladas enquanto tomam banho ou tiram água de um rio. Outros podem sofrer de cuidados inadequados por parte de seus familiares em tempos de maior dificuldade e isolamento.

“A crise de COVID-19 colocou os pacientes em uma situação extremamente vulnerável”, avalia Hallard. “As famílias têm lutado ainda mais para cuidar deles em casa. Infelizmente, vimos 22 mortes nos primeiros nove meses deste ano entre nossos pacientes, contra 17 mortes em todo o ano passado. Isso pode ser devido às suas condições médicas ou negligência por parte de seus cuidadores.”

As experiências de 2020 apenas reforçaram a importância de apoiar famílias e comunidades no cuidado de pessoas com necessidades de saúde mental e distúrbios neurológicos. Acompanhar os pacientes que interromperam o tratamento prematuramente é uma prioridade urgente para a equipe de MSF.

“Recentemente, vimos um menino de 11 anos que sofria de ataques epilépticos descontrolados”, informa Marieke van Nuenen, gerente de atividades de saúde mental de MSF. “O menino havia parado de vir à clínica em junho. A família dele é muito pobre e mora em uma fábrica abandonada na zona rural. Enquanto conversávamos com a família, ele teve várias convulsões e parecia muito angustiado. Não conseguia andar, estava desnutrido e precisava ser hospitalizado.”

Sua condição melhorou com o tratamento na clínica pediátrica de MSF em Monróvia, mas seus ataques continuaram. Por meio de visitas domiciliares, nossa equipe ainda está ajustando sua medicação para reduzir ainda mais as convulsões.

“Muitas vezes precisamos de várias semanas ou mais para ajustar o tratamento e prevenir convulsões”, explica Van Nuenen. “Temos aumentado o tratamento com o conselho do nosso pediatra do hospital, e o menino está melhor, tendo menos convulsões. A família dele está muito feliz agora que estão vendo que a medicação está funcionando”.

 

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