Necessárias mais respostas para contrariar aumento de casos de diarreia aquosa aguda no Iémen

20 das 22 províncias do Iémen têm registado um aumento do número de pessoas com diarreia aquosa aguda, com mais de 63 000 casos reportados no país até à data de 31 de maio

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© Mario Fawaz/MSF

Aseela sofreu com vómitos e diarreia durante quatro dias, antes da mãe, Sila, conseguir fazer o caminho de duas horas para levá-la ao hospital de mães e crianças da Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Taiz, no Sudoeste do Iémen, onde foi estabelecido um centro de tratamento para diarreia aquosa aguda.

“Tive de me endividar para cobrir os custos do transporte até ao hospital”, desabafa Sila. “O meu marido não trabalha; não temos nenhuma fonte de rendimento. Para pôr comida na mesa, vou para outra aldeia pedir farinha e arroz.”

20 das 22 províncias do Iémen têm registado um aumento do número de pessoas com diarreia aquosa aguda, com mais de 63 000 casos reportados no país até à data de 31 de maio, conforme as autoridades de saúde. Apesar da capacidade de testagem limitada no país, mais de 2 700 dos casos testados deram positivo para cólera.

É neste contexto que as equipas da MSF fornecem apoio em oito províncias, incluindo tratamento médico a pacientes, formações a profissionais, doações de provisões e realização de atividades de promoção da saúde.

 

Tive de me endividar para cobrir os custos do transporte até ao hospital.”

– Sila, paciente

 

A febre de Amat, com apenas um ano e meio, teimava em diminuir. Como se não bastasse, a bebé tinha também diarreia e desmaiava constantemente. Foi por isso que a mãe a levou apressadamente a um centro de saúde e depois a outro, onde recebeu diagnósticos errados e, em consequência, o tratamento inadequado. Quando não melhorou, foi encaminhada para o centro de tratamento da MSF em Mokha.

“A minha aldeia fica a três horas de Mokha. Não podemos pagar o custo elevado do tratamento na clínica mais próxima”, relata a mãe de Amat. “Perdi dois filhos, um por causa de uma febre alta. Levei-o à clínica, mas não consegui salvá-lo. Tenho medo que a mesma coisa aconteça novamente.”

 

Não podemos pagar o custo elevado do tratamento na clínica mais próxima.”

– Mãe de Amat

 

Embora a diarreia aquosa aguda seja recorrente no Iémen há anos, o aumento do número de casos representa um risco para a vida de pessoas que já têm um acesso muito limitado a cuidados de saúde.

Osama enfrentava desidratação severa e deixou os filhos em casa para procurar cuidados de saúde. Partiu da província de Taiz para a província vizinha de Ibb, onde a MSF apoia um centro de tratamento para a diarreia no hospital Al-Qaida, em Kilo.

“Demorei cerca de uma hora e meia numa estrada difícil para chegar até aqui. Não posso pagar o tratamento médico essencial num hospital privado na minha província”, frisa Osama.

 

Iémen- aumento de casos de diarreia aquosa aguda
Médico da MSF observa os sinais vitais de Mohammed no centro de tratamento da organização. © Mario Fawaz/MSF, 2024

 

Já na província de Hajjah, foi estabelecido numa escola um centro de tratamento para a diarreia com 60 camas, localizado a cinco minutos do hospital geral de Abs, apoiado pela MSF.

O nosso centro é o único local que fornece tratamento para pacientes com diarreia aquosa aguda nesta grande província“, sublinha a coordenadora da equipa médica da MSF no projeto de Abs, Evangelina Lauxmann. “A diarreia aquosa aguda, embora tratável, representa um risco para pacientes com comorbilidades e gestantes, que enfrentam um aumento na probabilidade da mortalidade fetal.”

Devido à estação das chuvas, que começou em muitas áreas onde a MSF presta apoio, a disseminação desta doença agravar-se-á, visto ser transmitida por águas contaminadas.

A falta de financiamento para responder à propagação da doença impossibilita uma resposta adequada, uma vez que muitas organizações internacionais têm recursos limitados. A MSF é uma das poucas que fornecem tratamento para pacientes com diarreia aquosa aguda e cólera, que pode matar em poucas horas se não for tratada.

“Há uma necessidade significativa de ações adicionais para contrariar o aumento dos números”, aponta a coordenadora do projeto da MSF no Iémen, Federica Franco. “As medidas preventivas são muito importantes, como a provisão de água segura, práticas de saneamento e higiene, e extensos esforços de promoção da saúde, para abordar esta situação de forma eficaz.”

Se o número de pacientes exceder a capacidade médica dos projetos, a MSF enfrentará o desafio de encontrar e capacitar mais profissionais médicos, paramédicos e logísticos, para manter a prestação de cuidados aos pacientes.

Sem atividades de tratamento da água e saneamento em grande escala nas províncias mais afetadas e na ausência de atividades de sensibilização comunitária para práticas de higiene adequadas e deteção precoce de pacientes, espera-se que o aumento dos casos de diarreia aquosa aguda regresse periodicamente nos próximos meses.

Entre abril e maio, a MSF tratou mais de 10 500 pacientes em diferentes áreas do Iémen.

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