Nove momentos-chave para a MSF em 2022: foi assim que trabalhámos

Todos os dias, no mundo todo, a Médicos Sem Fronteiras trabalha para prestar apoio a pessoas e populações que enfrentam emergências e crises humanitárias crónicas

Vaishnavi, de 7 anos, é uma paciente MSF com tuberculose resistente a medicamentos. Na foto, está no colo da mãe, Vishaka, enquanto interage com Prachi, enfermeira MSF.
© Prem Hessenkamp

Por Natalie Roberts, diretora executiva da MSF Reino Unido

 

Da guerra na Ucrânia à violência implacável no Haiti, os conflitos e a insegurança sobrecarregaram os sistemas de saúde, obrigaram famílias a fugir de casa e afetaram a saúde mental de comunidades inteiras. Neste momento, as pessoas que vivem em conflito representam a maioria dos pacientes da Médicos Sem Fronteiras (MSF).

Ao mesmo tempo, as equipas da MSF por todo o mundo têm alertado para um aumento generalizado da desnutrição, uma condição que afeta maioritariamente as crianças. Na Nigéria, Iémen e Somália, a MSF providenciou tratamento a milhares de pacientes jovens que enfrentavam insegurança alimentar, provocada por conflito, clima ou crises económicas.

Seja numa clínica rural em qualquer área remota, ou num hospital urbano sob pressão, os profissionais da MSF trabalharam sempre para prestar este apoio médico crucial. A organização médico-humanitária impulsionou avanços científicos nos campos da assistência médica e humanitária, e utilizou todos os meios para falar em nome de pacientes em situação de vulnerabilidade e exclusão de apoio médico.

A MSF consegue fazer tudo isto de forma gratuita, devido ao apoio inabalável de pessoas como você. Apoiar pessoas independentemente da religião, etnia ou ideologia política: és tu quem dá essa independência vital à Médicos Sem Fronteiras.

Aqui vão nove momentos-chave do trabalho da MSF em 2022.

 

1. A crise no Afeganistão

As consequências da mudança de governo afegão em 2021 converteram-se numa crise crónica e complexa. Por todo o país, o sistema de apoio médico deparou-se com pressões extremas, que se traduziram numa escassez de profissionais, provisões médicas e de financiamento. Em paralelo, a situação económica e a insegurança provocaram um aumento da desnutrição e de doenças preveníveis.
© Oriane Zerah

As consequências da mudança de governo afegão em 2021 converteram-se numa crise crónica e complexa. Por todo o país, o sistema de apoio médico deparou-se com pressões extremas, que se traduziram numa escassez de profissionais, provisões médicas e de financiamento. Em paralelo, a situação económica e a insegurança provocaram um aumento da desnutrição e de doenças preveníveis.

A MSF tem trabalhado para responder às largas necessidades médicas de cinco grandes hospitais no país, como o Hospital Boost, em Lashkar Gah, onde a MSF continua a receber mais de 20 000 pacientes todos os meses, e o Hospital Jost, lugar da maternidade que forneceu cuidados a mais de 10 000 bebés no primeiro semestre do ano.

 

2. A guerra na Ucrânia

Logo nos primeiros dias do conflito em fevereiro, a guerra na Ucrânia passou a ser a crise humanitária de mais alto perfil dos últimos tempos. Os combates, muitas vezes violentos e indiscriminados, mataram já milhares de pessoas e obrigaram muitas mais a fugir de casa.
© Andrii Ovod

Logo nos primeiros dias do conflito em fevereiro, a guerra na Ucrânia passou a ser a crise humanitária de mais alto perfil dos últimos tempos. Os combates, muitas vezes violentos e indiscriminados, mataram já milhares de pessoas e obrigaram muitas mais a fugir de casa: cerca de 13 milhões estão agora refugiadas em países vizinhos, e mais de seis milhões estão deslocadas internamente na Ucrânia.

Neste cenário, os cuidados de saúde têm sido profundamente afetados. Os hospitais enfrentam com frequência vagas de pacientes com traumatismos, e os profissionais médicos têm de lidar com uma escassez dramática de provisões e a ameaça constante de falhas energéticas. Devido a esta saturação, os serviços essenciais, como a assistência para doenças crónicas quotidianas, foram interrompidos.

A MSF lançou prontamente uma resposta horas após os primeiros ataques. Ao longo dos meses, as equipas têm fornecido provisões médicas a hospitais nas zonas de combate ativo, e também providenciam formações de preparação para influxos de grandes números de vítimas a profissionais de saúde. Os comboios medicalizados têm sido utilizados para transportar pacientes em estado grave, mas a MSF tem também prestado apoio às pessoas mais idosas e em situação de maior vulnerabilidade que ficaram para trás nas aldeias, vilas e cidades ucranianas.

 

3. A primeira campanha de vacinação contra a hepatite E do mundo

Pela primeira vez no mundo, as equipas da Médicos Sem Fronteiras no Sudão do Sul levaram a cabo uma campanha de vacinação de larga escala para conter um surto ativo de hepatite E.

© Peter Caton

Pela primeira vez no mundo, as equipas da MSF no Sudão do Sul levaram a cabo uma campanha de vacinação de larga escala para conter um surto ativo de hepatite E. O vírus pode causar complicações perigosas durante a gravidez e matar até 25% das grávidas com a doença.

O projeto, levado a cabo pela MSF e o Ministério da Saúde do Sudão do Sul, foi partilhado numa célebre revista médica, com o objetivo de promover ações semelhantes noutras partes do mundo.

 

4. Ébola no Uganda

A 20 de setembro de 2022, o Uganda declarou oficialmente um surto de ébola que até então matara 56 pessoas, de 142 casos confirmados. Apesar do progresso conseguido para prevenir e controlar os mais recentes surtos de ébola, este último foi causado por uma estirpe incomum do vírus, para a qual ainda não existe uma vacina ou tratamento autorizado.
© Sam Taylor/MSF

A 20 de setembro de 2022, o Uganda declarou oficialmente um surto de ébola que até então matara 56 pessoas, de 142 casos confirmados. Apesar do progresso conseguido para prevenir e controlar os mais recentes surtos de ébola, este último foi causado por uma estirpe incomum do vírus, para a qual ainda não existe uma vacina ou tratamento autorizado.

As equipas da MSF trabalharam com as autoridades do Uganda para limitar a propagação do vírus, proteger comunidades em risco e fornecer apoio médico nos centros de tratamento estabelecidos pela organização.

 

5. Emergências nutricionais

Ao longo de 2022, a desnutrição tem sido uma preocupação crescente e constante nas áreas que atravessam crises humanitárias por todo o mundo. Quer seja devido a conflito, clima ou crise económica, em quase todos os casos são as crianças com menos de cinco anos que mais têm sido afetadas.
© Tasal Khogyani/MSF

Ao longo de 2022, a desnutrição tem sido uma preocupação crescente e constante nas áreas que atravessam crises humanitárias por todo o mundo. Quer seja devido a conflito, clima ou crise económica, em quase todos os casos são as crianças com menos de cinco anos que mais têm sido afetadas.

No Iémen, as equipas da MSF trabalharam para prestar apoio ao sistema de saúde nacional, que está a entrar em colapso, e registaram um aumento de 36% nos pacientes recebidos. Na Nigéria, foi acionado o alarme sobre uma situação catastrófica no Noroeste do país, onde a MSF providenciou assistência a mais de 100 000 crianças. Para além disso, neste momento, os profissionais da organização médico-humanitária na Somália estão a trabalhar dia e noite face a um possível desastre de desnutrição.

 

6. Inundações no Paquistão

No Paquistão, chuvas de monção sem precedentes causaram inundações e destruição maciça, que afetaram 33 milhões de pessoas. No final de agosto, com mais de um terço do país debaixo de água, o Governo declarou estado de emergência e pediu uma resposta internacional.
© Asim Hafeez

No Paquistão, chuvas de monção sem precedentes causaram inundações e destruição maciça, que afetaram 33 milhões de pessoas. No final de agosto, com mais de um terço do país debaixo de água, o Governo declarou estado de emergência e pediu uma resposta internacional.

As equipas da MSF presentes no Paquistão trabalharam para adaptar os projetos existentes e conseguir chegar aos sobreviventes à medida que a situação evoluia. Até à data, as clínicas móveis prestaram assistência a mais de 95 000 pacientes, mas também foram providenciados 44 000 kits de apoio essencial a famílias e fornecidos mais de 46.5 milhões de litros de água potável a comunidades em situação de vulnerabilidade.

 

7. Mais de 100 000 crianças vacinadas contra o sarampo

A Somália e a Somalilândia enfrentaram uma epidemia de sarampo muito grave – uma emergência que se acentuou devido à deslocação maciça de pessoas, condensando a situação numa verdadeira crise humanitária.
© Mohamed Hussein (MOTO)/MSF

A Somália e a Somalilândia enfrentaram uma epidemia de sarampo muito grave – uma emergência que se acentuou devido à deslocação maciça de pessoas, condensando a situação numa verdadeira crise humanitária. Muitas famílias viram-se forçadas a viver em campos sobrelotados para pessoas refugiadas, onde a doença se podia propagar muito mais facilmente.

Assim, as equipas da Médicos Sem Fronteiras prestaram tratamento em centros especializados a mais de 7 000 pacientes – na sua maioria crianças com menos de cinco anos. Posteriormente, no mês de julho, a MSF colaborou com o Ministério da Saúde para levar a cabo uma grande campanha de vacinação que chegou a 106 000 crianças, dos campos às comunidades rurais e remotas.

 

8. Em busca de um tratamento mais eficaz contra a tuberculose

Considerada frequentemente como um problema do passado, a tuberculose (TB) continua a ser uma das doenças infeciosas mais mortais do mundo. A cada ano, mais de 10 milhões de pessoas desenvolvem TB ativa e 1.5 milhão morrem da doença.
© Prem Hessenkamp

Considerada frequentemente como um problema do passado, a tuberculose (TB) continua a ser uma das doenças infeciosas mais mortais do mundo. A cada ano, mais de 10 milhões de pessoas desenvolvem TB ativa e 1.5 milhão morrem da doença. Cerca de metade de todos os pacientes desenvolvem tuberculose resistente a medicamentos, uma estirpe que não responde a antibióticos normais e requer um tratamento mais difícil, que pode durar dois anos e causar efeitos secundários graves.

Em 2022, um ensaio clínico conduzido pela Médicos Sem Fronteiras produziu descobertas revolucionárias, em direção a um tratamento mais curto, seguro e eficaz para pacientes com TB resistente a medicamentos. Os resultados foram publicados recentemente no New England Journal of Medicine e estão a ser recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

 

9. A crise climática

Quando o Madagáscar foi assolado por uma sequência de ciclones tropicais, a MSF trabalhou para chegar às comunidades remotas e reconstruir hospitais em ruínas.
© iAko M. Randrianarivelo/Mira Photo

As consequências humanitárias da emergência climática foram evidentes em 2022. Das inundações no Paquistão e a seca na Somália, ao aumento de casos de malária e dengue por todo o mundo, as equipas da MSF têm prestado apoio e respondido a emergências que se agravaram devido às alterações climáticas.

Quando o Madagáscar foi assolado por uma sequência de ciclones tropicais, a organização médico-humanitária trabalhou para chegar às comunidades remotas e reconstruir hospitais em ruínas. A MSF iniciou também o primeiro projeto em Kiribati, a remota nação insular do Pacífico, muitas vezes referida como o “canário na mina de carvão” das alterações climáticas. Para além disso, em novembro, a Médicos Sem Fronteiras pediu uma ação política concreta na COP27, a conferência da ONU pelo clima que decorreu no Egipto.

 

 

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