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Abe, com apenas 16 anos, deu a vida a tentar salvar outros. Esta trágica morte é mais um exemplo das consequências das políticas migratórias europeias, que visam defender as fronteiras e não proteger as pessoas
A 7 de agosto de 2023, a equipa do navio de buscas e salvamento da Médicos Sem Fronteiras, o Geo Barents, resgatou 49 pessoas – a maioria rapazes e raparigas adolescentes – à deriva num barco de metal no Mediterrâneo Central. Eram 50 quando fugiram da costa tunisina e se fizeram ao mar para tentar chegar à Europa. Até hoje, um deles continua desaparecido. Esta é a história de Abe.
Antes de chegarem ao ponto de partida em Sfax, os sobreviventes – a maioria oriundos da Gâmbia, um pequeno estado na costa Oeste de África – tinham já enfrentado uma longa viagem de mais de 6 000 quilómetros, pelo deserto do Sara e vários países. “Quando chegámos a Sfax [Tunísia], um homem disse-nos que tinha um barco que podia levar até 35 pessoas. Porém, assim que embarcámos, apercebemo-nos de que já eramos 50 no barco. Estava mesmo sobrelotado e a água começou logo a entrar “, conta Hussain, um dos sobreviventes.
Assim que embarcámos, apercebemo-nos de que já eramos 50 no barco. Estava mesmo sobrelotado e a água começou logo a entrar ” – Hussain
O grupo partiu de Sfax à meia noite, e fez-se ao mar num barco sem condições de navegabilidade, com provisões limitadas de comida, água e combustível. Como se não bastasse, não havia mapa, nem experiência de navegação, apenas uma bússola digital num telemóvel Android, que deixou de funcionar quase imediatamente, para guiar os passageiros até ao destino desejado: Itália.
No segundo dia de viagem, à tarde, o tempo começou a piorar. “As ondas pareciam montanhas. Pensámos que o barco se ia partir em dois”, lembra Hussain. Foi nestas condições que o motor da embarcação parou de funcionar, deixando o grupo à deriva algures entre Malta e a Tunísia.
Durante o dia, o calor aquecia o metal do barco e os passageiros sofriam inevitáveis queimaduras. A noite era fria e assustadora. O grupo estava com sede, fome e sem esperança. Quem conseguia, bebia água salgada e, eventualmente, começava a sentir dores nos músculos, boca e garganta, devido à desidratação.
Após cinco dias à deriva, os passageiros avistaram uma luz brilhante e distante: uma plataforma petrolífera. Decidiram navegar até lá, usando sapatos como remos. Mas todos os esforços foram em vão, pois o barco era pesado e as correntes demasiado fortes.
E continuaram à deriva.
Durante a tarde do sexto dia, avistaram um pequeno contentor com um líquido a passar ao lado do barco. Os passageiros queriam acreditar que podia ser água, ou combustível e duas pessoas ofereceram-se para saltar e inspecionar o contentor, usando câmaras de ar de pneus para flutuar. Abe e mais outras duas pessoas decidiram saltar borda fora também, para ajudar os companheiros. Abe estava na água, a segurar os passageiros que saltaram primeiro, enquanto que os outros dois – que inicialmente juntaram-se a ele nos esforços de apoio – conseguiram saltar de volta para o barco.
As pessoas a bordo tiraram as roupas, rasgaram e ataram-nas para improvisar uma corda para tentar salvar Abe e os outros dois passageiros que continuavam na água.
Mas sem sucesso. A corda era demasiado curta.
“O mar tinha demasiada força, e três deles foram com a corrente. Sinto-me triste. Mesmo muito triste. Esta viagem não é fácil. A sério, não é fácil”, sublinha Mohamed, um dos amigos de Abe que estavam no barco.
Pouco tempo depois, os passageiros avistaram um ponto cinzento no céu: um avião operado pela ONG Sea-Watch, o Sea-Bird 2. “Gritámos e acenámos para o avião, que respondia voando perto de nós. Mas depois o avião desapareceu e perdemos novamente a esperança. Felizmente, voltou e continuou a voar à nossa volta. Depois, ouvimos duas lanchas a aproximar-se. Não conseguimos conter as nossas emoções”, confessa Hussain. “Só pensava na minha mulher, nas minhas duas crianças e chorava de felicidade e esperança como um bebé”. As lanchas eram do Geo Barents e tinham sido alertadas pela aeronave.
Seguiram-se várias horas de operações de busca complexas, com visibilidade limitada e condições climatérias desfavoráveis. Mesmo assim, a equipa da MSF no Geo Barents conseguiu encontrar duas das três pessoas desaparecidas do barco de ferro. Porém, nenhum sinal de Abe. “A decisão de parar as buscas foi uma das mais difíceis que tivemos de tomar”, conta Virgina Mielgo, coordenadora do projeto a bordo do Geo Barents naquele dia. “Decisões como essa têm um peso emocional e consequências para todos.”
A decisão de parar as buscas foi uma das mais difíceis que tivemos de tomar” – Virgina Mielgo, coordenadora do projeto
Abe, com apenas 16 anos, deu a vida a tentar salvar outros. A sua trágica morte é mais um exemplo das consequências mortais das políticas migratórias europeias, que visam defender as fronteiras e não proteger as pessoas. Até à data, em 2023, pelo menos 2.078 pessoas morreram ou desapareceram no Mediterrâneo Central.
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Alguns nomes foram alterados para proteger a identidade das pessoas.
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