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Região de Idlib, para onde muitos residentes de Aleppo estão sendo transferidos, também está devastada pela guerra. Todas as partes em conflito devem permitir que residentes sejam retirados da cidade e que fujam da Síria
A última vez em que a organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) conseguiu enviar comboios de suprimentos médicos para hospitais que apoia no leste de Aleppo foi em agosto deste ano.
Desde então, a cidade passou por um cerco interminável e as equipes de MSF só conseguiram obter informações sobre a realidade vivida pelos profissionais de saúde de Aleppo por Skype ou telefone. Nos últimos meses, os médicos nos contaram sobre a escassez de recursos e os desafios de cuidar de feridos sob bombardeios intensos. Recentemente, eles descreveram seu medo do futuro, o temor de sofrer retaliações por estarem prestando cuidados de saúde em uma zona controlada pela oposição, e o desejo de poderem sair da região.
Nos momentos finais da batalha pela retomada de Aleppo – não importa a que custo –, devemos continuar apelando às partes em conflito para que permitam que civis fujam sem pôr suas vidas em risco, algo que elas têm resistido a aceitar. Desde setembro, os rebeldes rejeitaram essa proposta algumas vezes, com alguns grupos armados chegando a proibir os civis de usarem corredores abertos pelo governo sírio e seus aliados. Na terça-feira da semana passada, eles finalmente aceitaram o acordo, da mesma forma que o governo sírio (após alguma hesitação). Enquanto a retirada de civis era iniciada, equipes de MSF estavam a postos em Atimah, na província de Idlib, a cerca de 35 quilômetros de Al Atareb, na província de Aleppo, prontas a ajudar a população deslocada com a distribuição de 45 toneladas de suprimentos médicos – sobretudo medicamentos, produtos perecíveis e equipamentos – e itens não-alimentícios.
Devemos continuar a exigir que as pessoas do leste de Aleppo possam deixar a região, ao mesmo tempo em que esperamos que a comoção alimentada pela mídia em reação aos ataques e bombardeios faça com que o governo sírio e seus aliados sejam menos intransigentes e levem em conta o sofrimento de civis. Porém, não podemos esquecer que a violência extrema que marcou a retomada do controle da cidade é um reflexo do que acontece na província vizinha de Idlib, onde centenas de milhares de deslocados estão agora retidos.
Os residentes de Idlib também estão sujeitos a uma campanha contínua de bombardeios aéreos, e médicos da rede de hospitais apoiada por MSF na região relataram 54 ataques a profissionais de saúde e instalações médicas desde junho deste ano. Serviços de saúde da região controlada pela oposição são alvo de forças leais ao governo desde 2011, quando a guerra começou, e, com a lei antiterrorismo aprovada em 2012, oferecer cuidados médicos a vítimas da guerra em zonas controladas pela oposição (como Idlib) pode ser punido como uma atividade de apoio ao terrorismo.
Dados os enormes desafios que serviços de saúde clandestinos têm enfrentado para responder ao incontável número de feridos pela guerra e de pessoas que sofrem de doenças crônicas (principal causa de morte no país antes da guerra), MSF se viu obrigada a ir para o subterrâneo a fim de prestar assistência à população síria. O governo de Damasco nunca autorizou nossa organização a atuar na Síria.
Além dessas limitações, há ainda a situação de conflito na província de Idlib, que se encontra fragmentada e controlada por diversos grupos armados. Alguns desses grupos têm como alvo organizações humanitárias, por meio de sequestros, detenções arbitrárias e restrições. Por esse motivo, é muito difícil para MSF e outros agentes humanitários prestar a assistência de que os residentes de Idlib precisam.
É para a província de Idlib que os últimos civis remanescentes em Aleppo devem ser transferidos, mas esse não é um refúgio seguro para as pessoas deslocadas; muitas delas gostariam de poder fugir pela Turquia. Porém, com a fronteira hermeticamente fechada para os sírios que buscam escapar do conflito, elas estão condenadas a sofrer a guerra total.
O direito de um indivíduo de fugir de uma zona de guerra – seja Aleppo, Idlib ou qualquer outra – deve ser reconhecido, e rotas seguras devem ser oferecidas para aqueles que desejam fazê-lo. Antes que a carnificina de Idlib atinja os níveis verificados em Aleppo, a Turquia deve abrir suas fronteiras. Para encorajar o país a fazer isso, países ocidentais devem mandar um sinal forte e claro de que estão dispostos a mostrar mais generosidade do que no passado, oferecendo refúgio aos mesmo sírios cuja tragédia em Aleppo agora lamentam. Essa é basicamente a mesma história, com as mesmas pessoas, acontecendo mais uma vez.
Este artigo foi publicado originalmente no jornal Le Monde.
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