Sudão do Sul: situação de saúde continua catastrófica

Nova pesquisa epidemiológica demonstra taxa de mortalidade duas vezes superior ao patamar de emergência internacional no campo de Batil

O estresse diário da equipe de MSF no campo de refugiados de Batil está refletido nos resultados recém-divulgados de uma pesquisa nutricional e de mortalidade em retrospectiva conduzida no acampamento no final de julho. Tragicamente, alguns dos refugiados cujos membros da família morreram antes de chegarem ao campo de Batil citaram o cansaço resultante das caminhadas como causa das mortes. Isso sugere uma população incrivelmente fraca e vulnerável chegando ao acampamento, e aponta a necessidade urgente de assistência para aqueles que conseguiram chegar vivos, mas fracos.

Mortalidade infantil duas vezes superior ao patamar de emergência internacional
O recém-construído campo de Batil passou a abrigar grande número de refugiados no início de junho, quando cerca de 35 mil pessoas cruzaram a fronteira do estado de Nilo Azul, no Sudão.

Desde que os refugiados chegaram a Batil, a taxa de mortalidade considerando toda a população de refugiados esteve substancialmente acima do patamar de emergência internacional, e a mortalidade de crianças com menos de cinco anos é mais de duas vezes superior ao patamar de emergência internacional.

Entre três e quatro crianças com menos de cinco anos têm morrido diariamente no campo de Batil.

58% das mortes reportadas entre os refugiados desde sua chegada ao campo de Batil correspondem a crianças com menos de cinco anos. Mais de 25% das mortes registradas corresponderam a pessoas com mais de 50 anos. Em muitas intervenções de emergência, crianças com menos de cinco anos são a prioridade, mas este nível de mortalidade em maiores de 50 anos é inesperado e indica uma situação de saúde particularmente terrível.

Causa de morte
Segundo a pesquisa, a grande maioria das mortes ocorridas enquanto esses refugiados estiveram no campo de Batil foram causadas por diarreia, que corresponde a mais de 90% das mortes. Aparentemente, a desnutrição pode ter contribuído para muitas dessas mortes.

Desnutrição chocante
Um quarto das crianças com menos de cinco anos estão desnutridas e 10% encontram-se no pior estágio de desnutrição severa aguda, demandando nutrição terapêutica urgentemente.
Ainda mais chocante é o fato de que metade das crianças com menos de dois anos no acampamento estão com desnutrição moderada ou severa.

Aumento das doenças respiratórias
A estação chuvosa e as noites frias estão piorando o cenário, particularmente porque muitos dos abrigos das famílias têm apenas um cobertor para ser compartilhado entre seis ou mais pessoas. Enquanto infecções do trato respiratório corresponderam a cerca de 10% das consultas realizadas por MSF em Batil no mês de junho, os casos têm aumentado de forma alarmante e, na última semana, corresponderam a mais de 40% das consultas.

Resposta de MSF
MSF conta com mais de 180 profissionais estrangeiros e mais de 800 locais nos cinco acampamentos que abrigam refugiados sudaneses no Sudão do Sul. As primeiras intervenções de emergência tiveram início em novembro de 2011, quando os refugiados começaram a chegar nos campos de Yida e Doro, no Sudão do Sul. Rapidamente, MSF expandiu suas atividades de emergência nos meses seguintes, uma vez que o número de refugiados crescia, a estação chuvosa estava para começar e a situação de saúde nos acampamentos piorava.

No hospital de MSF no campo de Batil, montado em uma tenda, 1.600 crianças com desnutrição severa aguda estão inscritas no programa de nutrição terapêutica. Toda semana, cerca de 30 destas crianças com complicações médicas graves como diarreia e doenças respiratórias precisam ser admitidas na unidade de cuidados intensivos.  Desde maio, quando o campo de Batil foi criado, MSF conduziu mais de 14.500 consultas médicas, além de assistir no estabelecimento de redes de abastecimento de água e na distribuição de itens essenciais de sobrevivência no momento da chegada dos refugiados.

Indo além do possível
 “Os novos dados refletem exatamente o que vejo todos os dias”, conta Helen Patterson, coordenadora médica de MSF no campo de Batil. “Esta é uma catástrofe de saúde. Com metade das crianças com menos de dois anos desnutridas e vivendo em condições de frio e umidade e centenas adoecendo com diarreia e doenças respiratórias, nosso hospital em campo está sobrecarregado com pacientes em situação crítica. Estamos trabalhando além do possível em termos logísticos para conseguir mais pessoal e suprimentos para cá, para que possamos seguir salvando vidas.” 
 
Nota relativa ao período dos números apresentados
Os dados referentes à mortalidade apresentados aqui estão focados inteiramente no período desde que os refugiados chegaram ao campo de Batil. As datas de chegada de cada refugiado são diferentes. As famílias pesquisadas chegaram ao campo de Batil entre 2/05/2012 e 4/07/2012. Para calcular tanto o período de recall antes da chegada no acampamento e durante a estadia no campo para avaliar a mortalidade corretamente, período de recall foi calculado para cada pessoa, individualmente. A pesquisa foi realizada de 25/07/2012 a 30/07/2012.

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