Terramoto na Síria e na Turquia: o que a MSF está a fazer

As equipas da Médicos Sem Fronteiras (MSF) no Norte da Síria têm estado a dar resposta desde as primeiras horas do desastre

Imagens contextuais do impacto do terramoto tiradas a 7 de fevereiro de 2023. Província de Idlib, Noroeste da Síria.
© OMAR HAJ KADOUR

Este artigo foi atualizado a 23 de fevereiro de 2023.

Na sequência do violento terramoto que atingiu a Síria e a Turquia a 6 de fevereiro, as equipas da Médicos Sem Fronteiras estão a dar resposta às crescentes necessidades.

As equipas da MSF no Noroeste da Síria começaram a tratar pacientes nas primeiras horas logo após o terramoto. As equipas de emergência da organização médico-humanitária estão a avaliar as necessidades nas áreas mais afetadas no Sul da Turquia. Mais de 46 000 pessoas morreram e muitas mais ficaram feridas ou sem casa nos dois países. É expectável que o número de mortes aumente à medida que os corpos vão sendo retirados dos escombros. Dois trabalhadores das equipas da MSF morreram, e outros perderam familiares e entes queridos.

Apenas duas semanas depois de o primeiro terramoto ter causado tão trágica perda de vidas, outro sismo a 20 de fevereiro trouxe um novo desastre para as pessoas na Síria e na Turquia, muitas das quais tinham já perdido entes queridos, casas e meios de subsistência. A MSF prontamente lançou uma avaliação do impacto deste terramoto mais recente. Minutos apenas após o abalo ter ocorrido, equipas da organização-médico-humanitária receberam e trataram pacientes nas clínicas e hospitais onde a MSF presta apoio no Norte de Idlib, na Síria.

Diretamente ou através de organizações parceiras, a MSF continua a providenciar assistência médico-humanitária a largos números de pessoas afetadas pelos terramotos.

 

Vista de uma rua na cidade de Sarmada, na Síria, depois do terramoto que atingiu a região a 6 de fevereiro.
Vista de uma rua na cidade de Sarmada, na Síria, depois do terramoto que atingiu a região a 6 de fevereiro. © Hadia Mansour

 

A assistência da MSF na Síria e na Turquia:

  • A 19 de fevereiro, uma caravana da MSF com 14 camiões entrou no Noroeste da Síria, a partir da Turquia, transportando tendas para famílias que ficaram sem casa devido ao recente desastre, assim como kits de inverno para fazer o isolamento das tendas do frio. Outras caravanas de abastecimentos da MSF estão planeadas para atravessarem em breve este ponto fronteiriço de Hammam, com equipamentos médicos e de outra natureza.
  • Entre os dias 6 e 12 de fevereiro, as instalações apoiadas pela MSF trataram mais de 7 600 pessoas feridas no terramoto e registaram cerca de mil mortes.
  • A MSF prestou apoio em 38 hospitais e estruturas de saúde em Idlib, Azaz, Afrin, Mare, Bab al-Hawa e outras vilas e cidades no Noroeste da Síria, com doações de kits de emergência, kits de traumatologia, provisões médicas e equipamento laboratorial, medicamentos, artigos consumíveis médicos e de laboratório e cobertores.
  • No governorado de Idlib, a MSF está a operar quatro clínicas móveis em três centros de receção para pessoas deslocadas pelo terramoto. As nossas equipas disponibilizam consultas de medicina geral, curativos para ferimentos, serviços de saúde reprodutiva e consultas de saúde mental. Até 13 de fevereiro, estas equipas móveis providenciaram 2 134 consultas.
  • A 13 de fevereiro, a MSF começou a operar uma clínica móvel em Jinderis, no governorado de Alepo, para prestar cuidados a pessoas deslocadas. Só no primeiro dia, as equipas da organização médico-humanitária trataram 119 pacientes, incluindo crianças, grávidas e pessoas com ferimentos, além de prestarem consultas de saúde mental. A MSF encetou também trabalho conjunto com parceiros locais para distribuir mais de 515 kits em que se incluem artigos de higiene, utensílios de cozinha e provisões para o inverno e cobertores a pessoas em Jinderis e famílias nos centros de receção em Azaz e Mare e em aldeias nos arredores.
  • No governorado de Idlib e no distrito de Afrin, em Alepo, as equipas da MSF trabalharam com parceiros locais para distribuir mais de 700 kits familiares, nos quais se incluem cobertores, colchões e outros artigos essenciais. Foram ainda distribuídos 7 700 cobertores individuais, 1 100 kits de higiene, 50 tendas e 550 colchões adicionais em centros de receção para pessoas deslocadas.
  • As equipas de emergência da MSF estão a avaliar as necessidades existentes no Sul da Turquia e permanecem a postos para providenciar assistência.

 

Distribuição de kits em que se incluem artigos de higiene, utensílios de cozinha e provisões para o inverno e cobertores às pessoas em Jinderis.
Distribuição de kits em que se incluem artigos de higiene, utensílios de cozinha e provisões para o inverno e cobertores às pessoas em Jinderis. © MSF

 

O que é que a MSF está a fazer na Síria?

Desde a ocorrência do primeiro terramoto que as equipas MSF na Síria começaram imediatamente a trabalhar para providenciar ajuda e cuidados, mesmo estando também a viver os impactos do desastre. Recebemos a trágica notícia da morte de dois dos nossos colegas, que foram encontrados debaixo dos escombros. Alguns membros das equipas perderam pessoas que lhes são queridas, assim como as casas. Estamos em contacto próximo com as pessoas das equipas da MSF no Noroeste da Síria, providenciando-lhes apoio psicológico e outros.

As instalações de saúde apoiadas pela MSF em Alepo e em Idlib trataram mais de 7 600 pessoas feridas e reportaram cerca de mil mortes. Tratámos mais de 200 pacientes apenas nas primeiras horas após os terramotos de 6 de fevereiro.

Estamos a iniciar atividades de primeiros-socorros psicológicos nas instalações que apoiamos e nas clínicas móveis.

A MSF ativou uma resposta imediata baseada no plano de preparação para emergências, providenciando apoio a 30 hospitais em Idlib e em Alepo, com kits de emergência, kits de traumatologia e kits cirúrgicos, para ajudar a aumentar a capacidade do devastado sistema médico. Está ser prestado apoio a hospitais com a alocação de profissionais seniores das nossas equipas. Também aumentámos o número de camas e a capacidade nas nossas instalações médicas, adicionando tendas onde foi necessário, bem como locais para fazer curativos e pensos em ferimentos. Foi também disponibilizado apoio a ambulâncias, providenciado combustível para facilitar a transferência de pacientes a necessitarem de assistência de urgência.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, 48 estruturas de saúde na região foram danificadas ou destruídas – incluindo o hospital em Jinderis, uma das cidades mais afetadas no governorado de Alepo, e no qual não é possível continuar a tratar pacientes. Dois centros de maternidade apoiados pela MSF foram evacuados, devido ao risco de colapso dos edifícios.

Em duas das clínicas e num hospital que a MSF gere no governorado de Idlib, onde foram tratadas centenas de pacientes nos primeiros dias após o terramoto, as nossas equipas estão a observar uma diminuição no número de pessoas feridas que ali chegam. As atividades normais naquelas estruturas foram reiniciadas, de forma a poder ser prestada assistência a pacientes que procuram cuidados primários de saúde, uma vez que a população continua a precisar urgentemente desses serviços.

Médicos sírios operam um paciente num hospital em Atmeh, na província de Idlib, na Síria.
Médicos sírios operam um paciente num hospital em Atmeh, na província de Idlib, na Síria. © Abdul Majeed Al Qareh

Os hospitais e estruturas de saúde têm falta das provisões mais essenciais. No governorado de Idlib, a MSF forneceu 6 100 cobertores em 13 hospitais, e está a prestar apoio na produção de oxigénio medicinal em oito instalações de saúde. Foi doado combustível a dois hospitais para que pudessem continuar a desenvolver as atividades.

Ainda no governorado de Idlib, a MSF tem a funcionar clínicas móveis em centros de receção onde são disponibilizadas consultas de medicina geral, curativos e pensos em ferimentos, serviços de saúde reprodutiva, e cuidados de saúde mental a pessoas afetadas pelo terramoto. Até 13 de fevereiro, estas equipas móveis providenciaram 2 134 consultas.

Em conjunto com parceiros locais no governorado de Alepo, a MSF distribuiu alimentos e cobertores a mais de 500 famílias nos centros de receção em Afrin. Foram ainda distribuídos também mais de 515 kits em que se incluem artigos de higiene, utensílios de cozinha e provisões para o inverno e cobertores a pessoas em Jinderis e famílias nos centros de receção em Azaz e Mare e em aldeias nos arredores.

A par da reposta de emergência, as equipas da MSF continuam a providenciar assistência médica regular e a desenvolver atividades nos hospitais que não foram afetados pelos terramotos, para garantir a continuidade da prestação de cuidados às pessoas mais vulneráveis, como grávidas e pessoas com doenças crónicas.

No Noroeste da Síria, a MSF apoia atualmente sete hospitais, incluindo uma unidade de queimados, para além de 12 centros de cuidados de saúde primários e três ambulâncias para encaminhamento de pacientes.

Está ainda a ser prestado apoio em 11 clínicas móveis que servem os campos de deslocados internos. A MSF providencia igualmente água e atividades de saneamento e higiene em quase cem campos de deslocados internos na região.

No Noroeste da Síria, a MSF também trabalha em parceria com duas organizações não-governamentais locais e mantém contacto próximo com as autoridades locais de saúde para providenciar mais apoio onde seja necessário.

Camiões fretados pelas equipas da MSF do hospital de Atmeh, na Síria, a caminho de uma distribuição de kits, a 11 de fevereiro de 2023.
Camiões fretados pelas equipas da MSF do hospital de Atmeh, na Síria, a caminho de uma distribuição de kits, a 11 de fevereiro de 2023. © Abdul Majeed Al Qareh

 

Qual é a situação no Noroeste da Síria?

No Noroeste da Síria, o terramoto veio juntar-se a emergências antes existentes. Anos de guerra, uma situação económica terrível, a pandemia de COVID-19 e – mais recentemente – um surto de cólera tinham já deixado a região imersa numa crise humanitária e empurrado as instalações médicas para a beira do colapso.

Casas e edifícios foram destruídos em toda a região, deixando milhares de pessoas sem casa. Quem perdeu a casa vive agora na rua sob baixas temperaturas, e muitas pessoas estão a dormir nos carros devido ao medo de continuadas réplicas do sismo.

Há agora ainda mais deslocados numa região onde 2,8 milhões de pessoas – numa população total de 4 milhões – já se encontravam deslocadas. As consequências maciças deste desastre vão requerer um esforço de ajuda internacional igualmente maciço. A ajuda internacional tem chegar ao Noroeste da Síria com a maior rapidez possível.

 

Quais são as principais necessidades que observamos na Síria?

Na sequência do terramoto, as pessoas precisam de abrigos, alimentos, cobertores, roupas, materiais para se aquecerem, kits de higiene e assistência médica. Face a estas necessidades, a MSF tem vindo a tratar pessoas feridas no Noroeste da Síria e a apoiar as estruturas de saúde.

A prioridade principal da MSF é providenciar apoio e assistência imediatos às pessoas afetadas pelo terramoto, em particular as que não têm abrigos.

Estamos a testemunhar uma falta de combustível, de eletricidade, de água e de saneamento. O acesso a cuidados de saúde mental ainda é um desafio, inclusivamente para as nossas equipas.

Na foto, Marwan Al Samao, supervisor logístico da MSF em Idlib, na Síria, visita os campos de deslocados internos em Idlib para avaliar a situação à medida que estes campos estão a receber pessoas que foram afetadas pelos recentes terramotos, e estão agora a procura de abrigo.
Na foto, Marwan Al Samao, supervisor logístico da MSF em Idlib, na Síria, visita os campos de deslocados internos em Idlib para avaliar a situação à medida que estes campos estão a receber pessoas que foram afetadas pelos recentes terramotos, e estão agora a procura de abrigo. © MSF

 

Como é que a ajuda humanitária está a chegar ao Noroeste da Síria?

Bab al-Hawa é o principal ponto de passagem, com apoio das Nações Unidas, pelo qual podem transitar provisões médicas essenciais para entrar no Noroeste da Síria. A 13 de fevereiro, foram abertos dois pontos adicionais de travessia (Bab al-Salam e Al-Ra’ee) da Turquia para o Noroeste da Síria, por um período inicial de três meses. A MSF espera que esta medida venha ajudar a garantir a entrega atempada e eficaz de ajuda humanitária. E junta-se ao apelo para que sejam abertos mais pontos de acesso para que a assistência humanitária possa entrar no Noroeste da Síria.

É bem claro que a atual resposta não é suficiente para satisfazer as necessidades enormes no Noroeste da Síria. A resposta humanitária tem de ser reforçada imediatamente e direcionada para muito mais perto das comunidades que estão desesperadamente necessitadas de abrigos, alimentos, aquecimento e cuidados médicos.

 

Qual é a situação no Sul da Turquia?

De acordo com responsáveis oficiais, mais de um milhão de pessoas na Turquia ficaram sem casa devido ao terramoto e às réplicas que lhe sucederam, e que fizeram com que milhares edifícios tivessem colapsado.

As autoridades estão a requisitar escolas para instalar abrigos e têm equipas móveis mobilizadas para que as pessoas possam doar sangue. Foi declarado um alerta de nível 4 e três meses de estado de emergência nas dez províncias mais afetadas.

 

Distribuição de alimentos em Kilis, na Turquia, em parceria com a organização Red Crescent.
Distribuição de alimentos em Kilis, na Turquia, em parceria com a organização Red Crescent. © MSF/Assiya Hamza

Quais são as principais necessidades na Turquia?

As autoridades indicaram que as necessidades imediatas identificadas são de abrigos, atividades de distribuição de provisões não-alimentares e distribuições de alimentos.

Equipas de emergência da MSF estão a avaliar as necessidades existentes nas áreas mais afetadas no Sul da Turquia. Hatay, Gaziantep e Diyarbakir parecem ter sido as que sofreram maiores impactos com os terramotos. A cidade de Hatay está atualmente fechada por ainda ter edifícios a ruir. Vai ser providenciada assistência nas periferias da cidade.

Estão em curso conversações com as autoridades e com parceiros locais acerca da natureza do apoio da MSF. Enquanto as nossas equipas avaliam as necessidades na Turquia, foi iniciada a distribuição de alimentos em abrigos na cidade de Kilis em parceria com uma organização local, com entregas de 6 000 refeições quentes por dia.

A 15 de fevereiro, em parceria com a Associação Médica Turca, a MSF fez a doação de vários artigos essenciais de ajuda, incluindo kits de higiene, fogões elétricos, roupa de inverno, fraldas e comida para bebés a 50 famílias afetadas pelo terramoto num campo recentemente instalado para acolher sobreviventes na cidade de Adiyaman, no Sul da Turquia. Esta cidade, com uma população de cerca de 300 000 pessoas, é uma das áreas que foi mais afetada pelos sismos. Muitos edifícios  ficaram danificados ou são considerados inseguros para poderem ser ocupados, o que deixou milhares de pessoas nas ruas em grandes acampamentos, abrigos improvisados ou mesmo em carros. Tal como em outras áreas assoladas pelo terramoto, as equipas da MSF estão a coordenar atividades com várias organizações locais para providenciar ajuda a sobreviventes.

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