“Trabalhar com a MSF como educadora em par é muito gratificante”

Leia o testemunho de Domingas, educadora em par da Médicos Sem Fronteiras para profissionais do sexo na Beira, Moçambique

Domingas, educadora em par da MSF para profissionais do sexo, conversa com as mulheres que aconselha na comunidade.
Domingas, educadora em par da MSF para profissionais do sexo, conversa com as mulheres que aconselha na comunidade. © Mariana Abdalla/MSF

Na Beira, em Moçambique, a Médicos Sem Fronteiras (MSF) trabalha em estreita colaboração com grupos estigmatizados, como homens que fazem sexo com homens, profissionais do sexo e jovens em risco que também praticam trabalho sexual, para assegurar que se sintam seguros ao aceder a cuidados médicos. Muitas vezes, devido ao estigma, estas pessoas sentem-se desconfortáveis em procurar serviços médicos, o que pode levar a problemas de saúde mais complexos que poderiam ter sido prevenidos ou cuidados em tempo útil. Por isso, a MSF desenvolveu uma estratégia liderada por educadores em pares, pessoas do mesmo grupo ou comunidade.

Domingas é educadora em par da MSF para profissionais do sexo na Beira:

“Quando eu era mais nova, morava com meus pais na fronteira com o Zimbabwe. Somos uma família de seis irmãos, eu sou a mais velha. Após o falecimento da minha mãe, vim morar na Beira. Mais tarde, os meus irmãos vieram para aqui porque foram maltratados pela minha madrasta, e por isso comecei a cuidar deles também.

Eu trabalhava no porto a conferir cargas que vinham nos navios, mas aquele dinheiro não era suficiente. Nessa altura, já tinha duas filhas e uma responsabilidade muito grande. Não tinha como as sustentar. O pai delas não me ajuda financeiramente. Foi aí que comecei a trabalhar como profissional do sexo.

Ao fim de algum tempo comecei a tossir muito e então fiz o teste para o VIH. Deu positivo. De início fiquei muito em baixo. Pensei que ia morrer e as minhas filhas iam sofrer, mas levantei a cabeça e aceitei isso como uma realidade. Hoje em dia as minhas filhas sabem que sou seropositiva. Elas viam-me sempre a tomar os comprimidos, até que um dia me sentei e conversei com elas – ‘A doença que a mãe tem precisa de comprimidos todos os dias, só assim é que vou ficar bem’. Agora, às vezes, quando saio, volto e esqueço-me de tomar os comprimidos, e elas já me lembram, ‘mãe, você não tomou o remédio hoje’.

Portanto, estou a viver positivamente, sou feliz.

Além disso, trabalhar com a MSF como educadora em par é muito gratificante. A primeira vez que conheci a MSF foi quando comecei a usar os serviços, mas era um pouco tarde para mim. Eu gostaria de ter tido a oportunidade de saber antes tudo que sei hoje. Eu vou à comunidade, consigo identificar as raparigas que estão em risco, converso com elas, e daí levo-as à clínica.

Da minha experiência, vejo que muitas crianças aqui fazem sexo por dinheiro. Os homens procuram-as e exploram-as porque sabem que estão desesperadas para obter pequenas coisas, como um telefone ou um vestido. Elas cobram muito pouco e não usam proteção. A maioria das pacientes têm problemas de infeções sexualmente transmissíveis (IST). Dizemos-lhes sempre que usem proteção.

É complicado, mas eu ajudo muita gente. Às vezes nem acredito que sou essa pessoa!”

 

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