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No Dia da Saúde Mental, os psiquiatras brasileiros Renato Souza e Silvia Yasuda falam sobre o tratamento em contextos emergenciais
Em 2001, Mahmood (nome fictício) e sua família tiveram de fugir e se esconder durante um dia para escapar de um ataque a seu vilarejo. Logo que puderam voltar, todos os seus pertences haviam desaparecido. Nesse dia, Mahmood recolheu os pequenos objetos sem utilidades (pedras e bastões) e os colocou em círculo, afirmando que serviam para proteger seus animais. Desde então, ele não reconhece mais sua própria mãe e tenta bater nela toda vez que ela se aproxima dele.
Além disso, Mahmood começou a acreditar que era perseguido pelas meninas. Ele contava que elas se jogavam a seus pés e que eles as comiam. A partir deste momento, esses estados se agravaram ainda mais e os parentes mais próximos foram obrigados a acorrentá-lo devido a seu comportamento agressivo (Mahmood os agredia e os insultava). A cada vez que ele ouvia um helicóptero sobrevoar a região, ele ficava agitado, parecia muito assustado e mandava todos se esconderem para evitar serem devorados.
Na primeira que fomos atender Mahmood, o encontramos dormindo em um lugar sujo, sem roupa e muito magro. Ele estava acorrentado pelos joelhos a um poste colocado no meio de sua cabana, feita com barro, algumas plantas e um toldo de plástico. Uma vasilha velha de comida foi deixada no chão, perto da cabana.
A primeira vez que vimos Mahmood, ele tinha um olhar esquivo. Ele mantinha um olho fechado e não respondia a maioria das nossas perguntas. Cuidar dele era algo perigoso para sua mãe, uma vez que ele podia se tornar violento a qualquer momento. Por isso, ela passou a dormir na casa dos vizinhos.
A história de Mahmood ilustra bem o impacto da guerra e da violência sobre a saúde mental de suas vítimas. Ela mostra igualmente a negligência com relação ao tratamento das doenças mentais graves nas zonas de conflitos armados e situações de urgência em todo o mundo.
Desde 1974, a Organização Mundial de Saúde (OMS) defende que os cuidados de saúde mental devem ser incorporados aos cuidados primários de saúde. Após um traumatismo sério, sabe-se que entre 2% a 3% das doenças mentais que afetam a vida cotidiana da população aumentam cerca de 50% , passando a uma taxa de entre 3% e 4%. Entre algumas pessoas, um traumatismo pode agravar uma doença mental já presente, fazer com que uma depressão moderada se torne uma depressão profunda ou ainda provocar distúrbios de estresse pós-traumático graves. Estimamos que 600 pessoas atendidas em nosso projeto em Habila, em Darfur Oeste, têm uma grave doença mental.
"Nas regiões devastadas pelos conflitos armados, nós observamos uma negligencia sistemática com relação ao tratamento dos pacientes com doenças mentais graves. Para explicar essa falta de ação, os atores de saúde apresentam diferentes argumentos. Eles classificam as doenças mentais como doenças crônicas, ou seja, como problemas secundários em situações de emergência. Já escutei pessoas dizendo que as doenças graves são difíceis de ser tratadas ou que os medicamentos provocam os efeitos secundários", conta o médico brasileiro Renato Souza, especialista em saúde mental de MSF.
"Não podemos aceitar esses argumentos. Esses pacientes são extremamente vulneráveis e as doenças que os afligem não são incuráveis. Nós já integramos com sucesso o tratamento do HIV/Aids nas situações de crise, não temos desculpa para não fazer o mesmo com os pacientes que têm uma doença mental grave", defende o psiquiatra.
Em Habilah, MSF começou a integrar os cuidados de saúde mental ao atendimento primário oferecido em contextos de urgência. Nossas equipes médicas têm como prioridade a colaboração com integrantes da comunidade, logo após a identificação dos pacientes com doenças mentais graves. Depois que esses pacientes são identificados, propomos um tratamento no centro médico de MSF".
"Na etapa preliminar de nosso projeto, nos reunimos com os dirigentes da comunidade e tentamos compreender como eles descrevem, em seu idioma local, o que chamamos de doenças mentais", conta a médica brasileira Silvia Yasuda, psiquiatra responsável pela integração da saúde mental ao atendimento médico em Habilah. "Os chefes das comunidades descreveram como os pacientes sofriam de psicoses crônicas, mas também pacientes epiléticos e várias crianças que nunca haviam recebido tratamento e que sofriam de invalidez. Eles também mencionaram pacientes que haviam desenvolvido uma depressão profunda após eventos violentos, dentro os quais alguns tentaram se suicidar".
"Em uma segunda etapa, trabalhamos com os assistentes médicos locais para diagnosticar e tratar as doenças, com base em um protocolo de diagnóstico e tratamento simplificado. O abastecimento regular de medicamentos psicotrópicos é essencial para o tratamento de doenças mentais graves e permite evitar que o paciente tenham recaídas".
Durante os três primeiros meses desse projeto, as equipes médicas em Habilah receberam 73 pacientes com depressão profunda, psicose ou epilepsia. Todos são beneficiários de um tratamento que compreende a gestão farmacológica da doença, consultas médicas e também terapêuticas. Esse projeto também mostrou a importância do papel da família que acompanha o paciente durante uma enfermidade e lhe oferece os meios de combatê-la de maneira apropriada. Esse trabalho é feito através da colaboração de um conselheiro formado na área de saúde mental.
Logo que os pacientes voltam a sua comunidade após uma consulta médica, um grupo de agentes de saúde se faz presente para os encorajar o quão importante é que eles sigam o tratamento.
"Um outro elemento importante do nosso projeto em Habilah consiste em deixar alguns leitos do departamento de internação à disposição dos pacientes que precisem ser mantidos em observação durante alguns dias. Recentemente, recebemos um paciente que havia tentado se suicidar e cuja família não sabia como ajudá-lo. Nós lhe oferecemos a opção de ser hospitalizado até que ele se sentisse melhor e pudesse continuar a se tratar em casa. Em nosso contexto, é essencial reservar alguns leitos para que os pacientes com doenças mentais, uma vez que não existe a possibilidade de transferi-los para estruturas locais especializadas. A única maneira de deixar Habilah em segurança é por helicóptero", explica Silvia Yasuda.
Após três meses de trabalho, a equipe do projeto de saúde mental às vezes tem a impressão de ter realizado verdadeiros milagres quando vê que alguns pacientes conseguem retomar a vida cotidiana aos poucos.
"Na última vez que vimos Mahmood, sua mãe podia tirar as correntes de seus joelhos e ele sorria. Eles estavam começando a comer e nos convidaram a participar da refeição. Ele nos falou de sua vontade de plantar algumas sementes em seu quintal e em talvez construir um novo muro. Sua mãe passou a maior parte do tempo a seu lado", lembra Silvia Yasuda.
As organizações humanitárias negligenciaram por muito tempo a necessidade de tratar os pacientes que sofrem de doenças mentais graves. Os atores de saúde que trabalham nos contextos de emergência têm a obrigação de responder o mais rápido possível às necessidades desses pacientes. Graças a experiências no terreno como esta em Habilah, MSF mostra que é possível tratar um certo número de doenças mentais graves com sucesso, mesmo nas circunstâncias mais difíceis.
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