Tsunamis: um ano após a tragédia, MSF mantém atividades na região

Ao longo de 2005, inúmeras atividades de saúde e logísticas foram realizadas nas regiões afetadas pelas tsunamis para atender as necessidades das populações afetadas. Hoje, MSF permanece em Aceh, na Indonésia, onde 500 mil pessoas ficaram desabrigadas

Ao longo de 2005, MSF respondeu às conseqüências devastadoras das tsunamis em Aceh com projetos que vão desde a ajuda emergencial e cirúrgica até atividades de saúde mental e reabilitação das estruturas de saúde. Hoje, um ano após a tragédia, MSF continua monitorando a situação de saúde nas comunidades mais vulneráveis da região e permanece pronta para responder a possíveis emergências.

São 8 horas da manhã e a chuva cai com tanta fúria que mal pode-se ouvir as orientações da enfermeira para o resto do dia. Em toda a cidade, famílias permanecem debaixo dos seus abrigos temporários, e olham com resignação enquanto a água cai do telhado. É a estação de chuvas em Aceh, época quando mesmo os telhados mais fortes apresentam goteiras e todo o distrito se transforma em cidades flutuantes. Também é a época quando o risco de epidemias é muito maior, principalmente para aqueles que estão em campos para desabrigados.

As tsunamis deixaram cerca de 500 mil pessoas desabrigadas em Aceh. Organizações de ajuda humanitária, como MSF, e o governo da Indonésia correram para dar socorro, levantando rapidamente barracões para onde a maioria das pessoas foi alocada. Foi um trabalho impressionante, focado muito mais na rapidez do que na sustentabilidade. Hoje, um ano mais tarde, centenas de milhares de pessoas ainda vivem em tendas e em abrigos temporários que estão em situação de risco por causa da força das chuvas.

Para reduzir o risco de surtos de doenças, MSF iniciou atividades de promoção de saúde e higiene em algumas das localidades mais vulneráveis em dois distritos de Aceh. A enfermeira de MSF Nadje de Groote coordena essas atividades no distrito de Pidie, onde 22 mil pessoas ainda vivem em 44 barracões. MSF vem realizando clínicas móveis e programas de saúde mental nesses barracões desde março.

“A idéia era monitorar a situação de saúde das pessoas vivendo em abrigos temporários e fazer a promoção de práticas de higiene no maior número possível de barracões", diz Nadje. "Descobrimos que em vários campos havia o risco de doenças relacionadas à água por causa dos altos índices pluviométricos e da piora da qualidade da água e das condições de saneamento".

A água estagnada que pode ser vista em muitos campos de deslocados é o lugar ideal para o surgimento de mosquitos transmissores de malária e dengue, duas doenças endêmicas em Aceh. Além disso, banheiros inundados e tanques contaminados aumentam o risco de doenças como a diarréia (uma das causas mais comuns de morte de crianças com menos de cinco anos de idade), tifóide, escabiose, vermes e infecções oculares. Os agentes de promoção de higiene procuram evitar esses surtos, incentivando práticas saudáveis por meio do método PHAST.

O método PHAST é focado na participação e na responsabilidade da comunidade, por meio de treinamentos, grupos de reflexão e sessões de debate. “É impressionante o entusiasmo das pessoas e o número de participantes que freqüentam os grupos", diz Nadje. “A condição sanitária em alguns barracões era inaceitável para os padrões de MSF", explica Nadje. "Em um deles, havia 1.700 pessoas vivendo de forma bastante apertada. Os banheiros já estavam inutilizáveis e a água desperdiçada tinha formado poças em volta do campo, onde as crianças brincavam e os animais bebiam”.

MSF rapidamente convocou uma equipe logística, e um especialista em água e saneamento para inspecionar as atividades. E, após receber o apoio de outras organizações especializadas, hoje as obras necessárias já estão em andamento.

Em todas as áreas de Aceh, MSF continua monitorando de perto o risco de possíveis surtos de doenças. Por exemplo, em novembro de 2005, o alarme disparou. Vinte e três pessoas apareceram doentes e uma delas morreu de diarréia severa numa clínica de saúde em Tangsee, uma cidade com 20 mil habitantes. MSF iniciou imediatamente uma intervenção de emergência. Uma equipe de saúde desinfetou a clínica e montou uma unidade para isolamentos. Agentes de saúde e higiene visitaram as cidades vizinhas, passando informações para as comunidades sobre o risco de doenças, e, para o caso de ser cólera, um kit MSF contendo tudo para tratar 625 pessoas foi deixado de prontidão.

Um mês antes, MSF respondeu a um surto de sarampo em dois sub-distritos de Aceh. MSF decidiu realizar uma campanha de vacinação para evitar que a doença se espalhasse. Ao todo, 2.809 crianças foram vacinadas.

Além dessas atividades, os programas de MSF estão sendo focados em necessidades que ainda não estão cobertas pelo sistema de saúde do país. Em Lamno, uma cidade na costa oeste de Aceh, MSF trata pacientes com tuberculose e montou um centro cirúrgico numa clínica de saúde regional. Em Meulaboh, Sigli e Takengon, MSF está levando cuidados de saúde para áreas anteriormente inacessíveis por causa dos conflitos. Em toda Aceh, MSF mantém projetos de saúde mental, oferecendo apoio psicossocial para as pessoas afetadas pelo conflito e pelas tsunamis.

As atividades de MSF refletem as enormes necessidades de saúde na região. "Ao longo de todo o ano, o sistema de saúde em Aceh se recuperou bastante e na maioria dos lugares já é possível atender as necessidades mais urgentes da população. Como conseqüência, vai haver uma redução no número de projetos de MSF", diz o coordenador de saúde de MSF Patrick Dechamps. "No entanto, para aqueles que ainda vivem em abrigos temporários ou que estão isolados por causa dos conflitos ou da pobreza, os riscos de saúde permanecem. MSF continuará monitorando a situação dessas pessoas por meio de pesquisas epidemiológicas e estará pronta para responder a qualquer emergência que possa vir a ocorrer".

Veja abaixo um resumo das atividades de MSF na região:

Números de saúde

41.021 consultas médicas
517 intervenções cirúrgicas
111.789 vacinas contra o sarampo
10.130 vacinas contra o tétano
18.670 atendimentos psicológicos
28 centros de saúde e 1 hospital recuperados

Água e Saneamento

Água Potável para 20 mil pessoas
700 latrinas construídas
289 poços recuperados

Acomodação

2.300 tendas distribuídas
1.000 abrigos construídos
60 abrigos semi-permanentes construídos
880 terrenos limpos
105.000 tijolos produzidos

Material de ajuda humanitária

6.000 kits distribuídos (higiene, cobertores, colchonetes, galões, etc)
1.600 redes de pesca distribuídas
reconstrução e doação de 4 barcos de pesca e 20 canoas

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