A Médicos Sem Fronteiras (MSF) é uma organização humanitária internacional que leva cuidados de saúde a pessoas afetadas por graves crises humanitárias. Também é missão da MSF chamar a atenção para as dificuldades enfrentadas pelos pacientes atendidos em seus projetos.
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Em uma recente visita ao Quênia, conheci dois projetos de MSF: no norte da capital Nairóbi e no condado de Kiambu. Este condado faz fronteira com o norte de Nairóbi e tem uma das maiores taxas de uso de drogas do país.
De um número estimado de 1.300 usuários que frequentam áreas de consumo de drogas no município, apenas um pequeno número havia sido inscrito na Terapia Médica Assistida para Substituição de Opióides na clínica de Ngara, em Nairóbi. Demora pelo menos um ano de terapia médica assistida em um ambiente controlado para que o usuário controle a dependência em heroína, mas isso pode levar muito mais tempo. As visitas diárias necessárias são um processo demorado e caro, o que significa que isso está fora do alcance de muitos.
Cuidado holístico
Visitamos a primeira clínica de Terapia Médica Assistida em Kiambu, estabelecida por MSF em colaboração com o governo do condado, onde a construção estava bem adiantada quando a visitei.
A clínica será um serviço completo para pessoas que usam opióides, como heroína, além de prestar atendimento ambulatorial, incluindo serviços para HIV, tuberculose, hepatite C, saúde mental, tratamento de feridas, saúde sexual e reprodutiva e doenças não transmissíveis.
Essa abordagem inovadora e simplificada centrada no paciente foi desenvolvida para melhorar o acesso aos cuidados de pessoas que usam opióides; é uma abordagem holística que visa reduzir a morbidade e a mortalidade associadas ao uso ilícito de opióides, bem como reduzir o risco de infecção e transmissão do HIV e hepatite C.
O aconselhamento psicossocial, em grupo ou individual, e as sessões de integração familiar visam ajudar a integrar os usuários novamente ao seu lar e à sociedade.
Usuários de heroína
Também visitamos um centro de atendimento próximo à clínica, mantido por um de nossos parceiros locais, o LVCT Health. O centro de atendimento é um espaço seguro para as pessoas que usam drogas e o LVCT prepara os usuários de drogas para serem introduzidos nos programas de Terapia Médica Assistida na clínica de Ngara e na recém-inaugurada clínica de Kiambu.
Conhecemos um dos pacientes do centro, que nos contou sua história. Agora com 36 anos de idade, ele começou a usar heroína por volta de 2004, quando sua esposa estava grávida de sua primeira filha.
Eu não tinha noção antes do quão incontrolável a heroína pode ser. Ele me disse que, no caso dele, começou quando um amigo lhe ofereceu o que ele pensava ser um cigarro normal, mas estava cheio de heroína. Depois de três cigarros, ele estava viciado, sem culpa ou intenção própria. Depois que ele se mudou de sua casa para a rua, e mais tarde para um local de consumo de drogas, ele foi encontrado pela equipe de sensibilização. Ele estava roubando para comprar heroína e manter seu vício, que custava mais de 2.000 KES (cerca 86 reais) por dia.
É um vício rápido seguido por um longo caminho para a recuperação.
Um ano e nove meses
Seguindo um cronograma controlado de terapia assistida por médicos, o homem não usa mais heroína há um ano e nove meses, faltando dois meses para o fim do tratamento.
Ele conseguiu voltar para casa com sua esposa e filhos, incluindo um novo bebê, e me disse que “a vida voltou ao normal”. Ele agora trabalha como educador de pares, trabalhando com a comunidade e tentando mudar o futuro de outras pessoas.
Ele tinha uma energia incrível; sair de 16 anos de vício em heroína e estar em um lugar positivo, voltar a morar com sua família e ajudar os outros a mudar suas vidas foi realmente algo inspirador de se ouvir. Tive a honra de conhecê-lo e ouvir sua história.
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