Viver com diabetes: a história de Moussa

Moussa é criança de 10 anos que vive com diabetes
© Carmen Yahchouchi/MSF

Moussa tem 10 anos e gosta das mesmas coisas que muitos outros miúdos de 10 anos, em todo o mundo, gostam. Passa o tempo livre a construir blocos de Lego com os irmãos, a colorir banda desenhada e a jogar futebol com os colegas da escola. Estas atividades, apesar de aparentemente ‘normais’, representam um triunfo face aos desafios que enfrenta diariamente. Moussa vive com diabetes e enfrenta difíceis condições de vida na cidade a que se viu obrigado a chamar de casa.

Em 2013, Moussa e a família tiveram de fugir da casa na Síria, e esta viagem levou-os a Arsal, uma cidade remota situada no Nordeste do Líbano. De acordo com os líderes da comunidade local, cerca de 77 000 pessoas refugiadas da Síria vivem atualmente na cidade e procuram desesperadamente bens de primeira necessidade, como comida, abrigo, água potável e cuidados médicos.

Moussa foi diagnosticado com diabetes tipo 1 aos 3 anos de idade e toma insulina todos os dias para controlar os níveis de açúcar no sangue. Para ele e a família, a precariedade das condições de vida em Arsal aumenta os desafios do tratamento desta doença crónica que dura toda a vida.

A família – Moussa, a mãe, o pai e quatro irmãos – vivem todos juntos num único quarto. No início do tratamento, a insulina de Moussa era fornecida num frasco de vidro, que era depois injetado, pela mãe, com uma seringa. Cada vez que tirava a insulina do frasco, preocupava-se com a exatidão da dose que estava a injetar no filho. Se errasse dosagem, Moussa poderia ter complicações como a hipoglicemia, uma condição em que o nível de açúcar no sangue desce abaixo dos níveis saudáveis, o que por vezes pode ser fatal.

Moussa, que vive com diabetes, senta-se com o seu irmão no chão da sua casa em Arsal, no Líbano.
Moussa senta-se com o seu irmão no chão da sua casa em Arsal, no Líbano. © Carmen Yahchouchi/MSF

 

As injeções tinham de ser administradas em casa, o que tornava alguns destes desafios mais fáceis de gerir para a mãe de Moussa. Mas, como resultado, ele tinha por vezes de faltar à escola à tarde para voltar a casa para receber as injeções. Isto reduzia a sua independência e afetava a confiança na escola.

A mudança para as canetas de insulina

Moussa recebe sua insulina na clínica da Médicos Sem Fronteiras na cidade. Desde julho de 2022, todas as crianças e adolescentes em tratamento na clínica da MSF para diabetes têm recebido canetas de insulina para ajudar a controlar a doença. No passado, muitos delas, como Moussa, usavam frascos de vidro e seringas. Os adultos que vivem com diabetes tipo 1 também começaram a receber canetas de insulina recentemente.

A mãe de Moussa explica como estão a lidar com a doença de Moussa no meio destes desafios:

 

No início, tivemos de o internar no hospital porque eu não sabia muito sobre diabetes, insulina e tratamento. As equipas da MSF ajudaram-me muito e orientaram-me para lidar melhor com a situação, sobre como lhe dar a injeção, qual deveria ser o estilo de vida dele, o que lhe dar de comer e o que ele deveria fazer. Já estamos habituados, mas mesmo depois de mais de cinco anos continua a ser um desafio.”

 

A utilização dos frascos e seringas de insulina também era problemática para a família por outras razões. Por exemplo, Moussa achava as injeções com a agulha da seringa muito dolorosas e, como precisava de injeções várias vezes por dia, isso criava stress tanto para a mãe como para o filho, com Moussa muitas vezes relutante em tomar as injeções.

Desde que mudou para as canetas de insulina no ano passado, muitos destes desafios são muito mais fáceis para Moussa e para a sua família. A utilização de canetas permitiu a Moussa assumir o controlo do seu tratamento. Ele pode injetar-se a si próprio, o que lhe deu mais mobilidade, autonomia e confiança quando vai à escola. A mãe também aprecia a simplicidade das injeções com as canetas.

Ao contrário das seringas, as canetas vêm pré-carregadas com insulina, eliminando a necessidade de retirar dos frascos e simplificando todo o processo. Com um prático mecanismo de botão de pressão que permite ajustes precisos da dose, as canetas de insulina garantem uma administração precisa da insulina, o que torna possível que as crianças a administrem nelas próprias. Em contrapartida, as seringas tradicionais requerem a medição manual e a extração da insulina dos frascos, tornando o processo de dosagem mais complexo e potencialmente menos preciso. A natureza compacta e portátil das canetas de insulina também faz delas a escolha ideal para pessoas em movimento, promovendo uma melhor adesão aos planos de tratamento.

 

Moussa, que vive com diabetes, acena do autocarro a caminho da escola em Arsal, no Líbano.
Moussa acena do autocarro a caminho da escola em Arsal, no Líbano. © Carmen Yahchouchi/MSF

A médica Beverley Prater, que trabalha na clínica da MSF em Arsal para apoiar as pessoas que vivem com diabetes e outras doenças crónicas não transmissíveis, explica que as crianças – todas as crianças – querem sentir-se ‘normais’. Isto é especialmente importante em situações em que muitas crianças e as famílias em Arsal se encontram como refugiados. O aumento da retórica anti-refugiados e as restrições à liberdade de circulação das pessoas refugiadas vieram aumentar as dificuldades da vida em Arsal para famílias como a de Moussa.

“A vida com diabetes é um desafio inicial para qualquer um de nós. Mas para as pessoas que não têm um espaço seguro ou uma habitação adequada, segurança alimentar, refrigeração ou acesso à eletricidade, as canetas de insulina facilitam a vida diária e a saúde a longo prazo”, avança a médica Beverley Prater.

 

Numa situação de vida instável, isto também permite ter esperança, uma visão a longo prazo de como crescer e envelhecer com diabetes.”  

 

Tanto para Moussa como para a família, a introdução das canetas de insulina fez uma grande diferença, dando garantias à mãe de que é menos provável que ele sofra de hipoglicemia, e dando a Moussa a independência que ele deseja para andar por aí, brincar com os amigos, ir à escola, viver algo próximo de uma vida ‘normal’ nestas circunstâncias difíceis. Com as canetas, Moussa fica também habilitado a reagir à sua condição médica e a lidar com ela sem depender de outra pessoa para o ajudar nas atividades diárias.

Eis o que diz o próprio Moussa sobre a forma como as canetas o ajudaram a adaptar-se à vida com diabetes tipo 1:

 

Tenho estado a usar canetas de insulina desde há um ano. Quando não as tomo, o meu nível de açúcar aumenta e fico com dores de cabeça. Tomo-a em casa ou na escola, e mesmo quando há uma festa. Agora já estou habituado.”

 

Moussa é criança de 10 anos que vive com diabetes
Moussa, um refugiado sírio de dez anos com diabetes de tipo 1, segura nos seus livros escolares enquanto espera pelo autocarro numa manhã cedo em Arsal. © Carmen Yahchouchi/MSF

 

Durante a última década, a MSF tem trabalhado para apoiar tanto as pessoas refugiadas quanto a comunidade libanesa local em Arsal. A equipa médica fornece tratamento a pacientes com uma vasta gama de doenças crónicas que requerem tratamento durante um longo período de tempo, tais como hipertensão, epilepsia e diabetes. Recentemente, foi tomada a decisão de oferecer canetas de insulina a todos os pacientes com diabetes tipo 1, e não apenas às crianças.

 

 

O que é uma caneta de insulina?

Ao contrário das seringas, as canetas de insulina vêm pré-carregadas com insulina, eliminando a necessidade de retirar dos frascos e simplificando todo o processo. Com um prático mecanismo de marcação ou botão de pressão que permite ajustes precisos da dose, as canetas de insulina garantem uma administração precisa do medicamento, o que permite que as crianças a administrem elas próprias. Em contrapartida, as seringas tradicionais requerem a medição manual e a extração da insulina dos frascos, tornando o processo de dosagem mais complexo e potencialmente menos preciso. A natureza compacta e portátil das canetas de insulina torna-as também uma escolha ideal para pessoas em movimento, promovendo uma melhor adesão aos planos de tratamento.

 

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