A despedida do Centro de Tratamento de Ebola de Guéckédou

Logístico conta sobre sua primeira participação em projeto de Ebola

Um dos significados da palavra “despedir” é “dizer adeus”, e existem muitos tipos de despedida. As despedidas podem ser curtas, longas e até definitivas. Podem ser fáceis ou difíceis, alegres ou tristes, esperadas ou imprevistas.

Entre fevereiro e abril deste ano, estive em Guéckédou, local onde teve início esse surto de Ebola na África Ocidental que ainda não se acabou. As despedidas foram, de certa forma, uma constante durante toda a minha participação nesse projeto.

Uma das primeiras constatações que fiz ao chegar a Guéckédou e começar meu trabalho foi o nível de qualificação da equipe de profissionais nacionais. É um prazer trabalhar com pessoas tão dedicadas, competentes e motivadas. Com o tempo, passei a conhecer um pouco mais algumas dessas pessoas e, além de colegas, ganhei amigos. Era difícil acreditar que por trás daqueles rostos sorridentes havia todas aquelas histórias: histórias de perda, de amor e de despedidas.

A estigmatização das pessoas que trabalham na luta contra o Ebola motivou muitas despedidas. Alguns foram excluídos e obrigados a sair de suas comunidades, deixando parentes e amigos para trás, após começarem a trabalhar no Centro de Tratamento de Ebola (CTE). Um ano após o início das atividades do CTE em Guéckédou ainda havia muita falta de conhecimento, medo e desconfiança em alguns lugares.

Para mim, um dos momentos mais difíceis nesse projeto foi quando tivemos de nos despedir de Christophe, que trabalhava na equipe logística do CTE… Havíamos trabalhado o dia todo juntos no CTE. Na manhã seguinte, Christophe começou a passar mal e fui informado por seus colegas que ele não viria trabalhar. Por volta do meio dia, a situação se agravou e Christophe precisou ir ao hospital para receber tratamento, mas não pôde. Teve que ser levado ao CTE para fazer um teste comprovando que não estava com Ebola, pois o hospital, e mesmo os taxistas, não quiseram atendê-lo por estarem com medo de ele estar com Ebola. Ele teve, então, que esperar muito tempo. Quando o resultando do teste provou que não era Ebola e ele poderia ser levado ao hospital para receber o tratamento necessário já era tarde demais, e Christophe faleceu ainda no CTE. O poder destruidor do Ebola vai além das mortes de pessoas contaminadas pelo Ebola. Doenças e problemas de saúde comuns levam à morte nesse contexto onde muitos pacientes não recebem o tratamento necessário devido ao medo do Ebola e à redução no número de profissionais de saúde disponíveis, já que muitos estão trabalhando na luta contra o vírus.

A despedida também marcou o momento em que o CTE foi fechado. Graças ao trabalho e dedicação de todos ali, já não havia mais casos de Ebola naquela região. Talvez essa tenha sido a despedida mais feliz, uma vez que representou a vitória contra o Ebola.

Mas com o fechamento do projeto tivemos que nos despedir de todo o pessoal que trabalhava conosco. Em Guéckédou, vários projetos surgiram, o que permitiu que muitos fizessem carreira em MSF. Alguns já trabalhavam na organização há mais de dez anos. De forma geral, essa não foi uma despedida fácil para a equipe. Os momentos nos quais o término das atividades era comunicado foram muito marcantes. O que me impressionava era observar o conflito interno das pessoas, pois a perda do emprego era a consequência imediata da vitória contra o Ebola. Como, então, entristecer com a perda do emprego se isso acontecia graças ao fim de um pesadelo que afligia e destruía a região, ameaçando o que restava das famílias e comunidades?

Pouco a pouco, a equipe foi diminuindo até que finalmente chegou também a nossa hora de ir também. Partimos nos despedindo de Guéckédou e de todos ali, mas levando conosco, em nossas memórias, todas aquelas experiências. A confrontação com despedidas nos relembra da importância de aproveitar cada oportunidade que temos de fazer algo por alguém, pois não sabemos o momento em que teremos de dizer adeus.

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