Nas duas pontas de uma doação

O administrador Joel Amaral conta como foi ver a aplicação do dinheiro das doações num projeto no Sudão do Sul

Nas duas pontas de uma doação

Trabalho no escritório de MSF-Brasil desde 2013 como coordenador financeiro e ano passado participei do meu primeiro projeto de MSF no terreno. Entre 15 de julho e 15 de setembro, atuei como gerente financeiro em Doro, no Sudão do Sul. O dia a dia era bem puxado; muito trabalho e muito calor. Era comum haver muitos insetos; grilos durante a noite. Eu tinha uma equipe com dois assistentes financeiros que eram profissionais nacionais, muito prestativos e que colaboravam bastante com o trabalho. Tínhamos uma rotina puxada de trabalho, pois eram muitos pagamentos, adiantamentos de salários de funcionários no dia quinze de cada mês e salário no final do mês, além de pagamentos de fornecedores e prestadores de serviço. Lá não existe banco, então o pagamento era manual, em espécie, pessoalmente.  Essa aproximação era bem interessante, pois eram momentos que concretizavam o uso do dinheiro para o resultado final.

Do lado de fora existe uma população que precisa de muita ajuda, e ajuda diária. Poder pagar a uma pequena parte dessa população fazia parte dessa ajuda, pois era o trabalho que eles prestavam a MSF que os ajudava a sobreviver. Os maiores desafios no projeto eram relacionados a simplicidade e precariedade da vida da população.

Já para mim, as maiores dificuldades foram psicológicas. Tive alguns bloqueios e reações que eu não esperava. Por algumas vezes me isolei, me afastei, de tanto cansaço, medo. Era uma série de sentimentos misturados e o trabalho era uma válvula de escape, pois ali eu passava o tempo, me envolvendo com as tarefas do dia a dia e às vezes descontraindo ouvindo alguma história dos profissionais nacionais.

O maior benefício em trabalhar num projeto de MSF é ver como a organização funciona mesmo no meio de tantas dificuldades. É muito gratificante ver e sentir todo o projeto, estar no terreno, mesmo em situações muito básicas, e ver como o trabalho é importante para a população. E levado a sério com respeito de todos.

Profissionalmente, foi um momento de grande realização. Quando comecei em MSF, o nome me soava familiar, mas não sabia ao certo o que faziam. Logo que entrei, me encantei pelo trabalho. Com o passar dos anos, despertou em mim o interesse de conhecer o trabalho no terreno. Tive que me preparar para isso, para conseguir atender aos requisitos necessários.  

Porém, a maior satisfação foi chegar do outro lado. Como coordenador financeiro, sou responsável pelo controle das doações recebidas no Brasil e o envio de remessa para o centro operacional, que direciona e envia esse dinheiro para os projetos. Estar num projeto e receber esse dinheiro para efetuar pagamentos de funcionários, fornecedores, materiais e, assim, fazer o projeto funcionar foi a parte mais emocionante e marcante da minha trajetória.

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