Okachatou foi operado

Parte 10 – Guidam Roumdji, 12 de fevereiro de 2012.
 
De volta ao lar. Voltei a Guidam Roumdji na terça-feira. Tive a sorte de vir de carro, eles cancelaram o avião e organizaram nossa vinda de carro. Quase 800 quilômetros, 10 horas de estrada, mas foi muito legal poder conhecer um pouco mais do Niger. Uma paisagem muito interessante e um povo sempre sorridente. Em todos os vilarejos que passamos as pessoas sempre nos acenavam. Vou sentir falta disto.
 
Assim que cheguei, por volta de 15 horas, tive a notícia de que todos os médicos pediram demissão. Eles passaram no concurso público no início do ano passado e foram todos chamados de uma única vez para começar o mais rápido possível.
 
Na semana em que eu estava de férias, MSF conversou com o Ministério e conseguimos que eles fiquem até o fim do mês, mas o problema é que eles têm que se apresentar na cidade onde foram chamados para confirmar o interesse. Então, metade foi na semana passada e metade nesta semana.
 
Ao receber a notícia fui ao hospital e quem fez as consultas das crianças na Pediatria, na Fase 1, na Transição e na Fase 2 foram os enfermeiros. Ainda bem que eles deram conta do recado. Meu substituto estava lá, mas ainda perdido. Coitado, primeira missão não é fácil.
 
Enfim, estou tendo trabalho dobrado em fim de missão.
Esta semana cheguei em casa todos os dias depois das 20 horas, super cansada. É comer, banho e dormir. O bom é que nem tenho tempo para pensar.
 
Na quinta-feira, Stéfano e Irene foram embora. Foi super triste, eu e Irene choramos muito, mas estou feliz por eles. Dia 10 de março eles se casarão na Itália.
 
A nova chefe de missão e o novo responsável médico parecem se entender bem. Eles terão muito trabalho. Temos menos de um mês para selecionar novos médicos, senão dia 01/03 só teremos expatriados no hospital (e eu não estarei mais aqui).
 
Hoje comecei a arrumar minhas coisas, jogar a papelada fora e ver quantas coisas levarei de volta. Uma parte de mim está contando os dias para chegar em casa (faltam três semanas), mas outra parte está triste de deixar as crianças e o trabalho no hospital. Não consigo me imaginar deixando este trabalho.
 
Okachatou, aquele meu paciente de quatro anos que apareceu no Profissão Repórter e sobre o qual eu falei em um dos meus diários anteriores, foi operado e ainda está internado em Maradi. Nosso enfermeiro responsável por levar as crianças pra lá, me disse que ele está bem. Ontem ele me mandou uma colher como presente e disse ao enfermeiro pra me mandar um grande beijo. Espero que ele tenha alta de Maradi antes da minha partida, vai ser muito difícil me despedir dele, por outro lado, será horrível partir sem me despedir.
 
Ai, ai não quero pensar nisso por enquanto, ainda bem que tenho muito trabalho pra fazer.
 
Boa semana.

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