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Histórias de sobreviventes de violência sexual em Tegucigalpa, em Honduras
Para Gloria, pensar que ela pode falar sobre isso é um grande passo. Quando ela diz “isso”, refere-se ao que ela dirá muitas vezes mais tarde: “isso, o que aconteceu comigo”, mas, de fato, o que ela quer dizer é o que foi feito com ela. “Isso” que ela não pode dar um nome sem se abalar novamente.
Conversar na frente de um gravador, na frente de outra pessoa além da psicóloga Mayner Rodríguez, que ela visitou quatro vezes no mês passado, é um ato de bravura que vai superar, mas significa ter passado por muita dor. Gloria não quer se matar. O tratamento psicológico concedido por Médicos Sem Fronteiras (MSF) neste centro de atenção para sobreviventes de violência sexual em Tegucigalpa está funcionando.
“Algumas semanas antes”, diz Gloria, “eu não sabia o que fazer”. Ela não sabia se “isso” tinha sido culpa dela, ou por que isso aconteceu, ou se ela poderia ter evitado. “É inacreditável que isso aconteça com alguém, certo? Parece mentira, como uma novela”, ela diz, segurando com as duas mãos um lenço que tirou da carteira.
Para as mulheres hondurenhas, as novelas são mais do que entretenimento matutino; para Gloria, elas são o espelho de suas próprias tragédias. “Não acredito no que aconteceu comigo. Eu me sinto dentro de um pesadelo. Eu queria morrer, me matar, porque não sabia o que fazer, não sei. Eu quero sentir como costumava sentir”, diz. Trinta segundos depois, sem dar detalhes do que aconteceu, Gloria tenta, sem sucesso, conter as lágrimas. Ela diz que não entende como isso pode estar acontecendo todos os dias com muitas mulheres e meninas.
Os números são difíceis de contextualizar. Em Tegucigalpa, em 2018, MSF prestou cuidados abrangentes a 878 sobreviventes de violência, 76% eram mulheres. 592 eram sobreviventes de violência sexual. 420 desses casos foram estupros. Números que podem significar várias situações de violência sexual por dia, em uma cidade com mais de 400 denúncias por ano. Falamos sobre as sobreviventes que ousaram e chegaram a verbalizar que sofreram violência desse tipo, apesar das possíveis represálias de seus autores.
“Ainda penso no que eles fizeram comigo. Não sei se voltarei a me sentir normal, é difícil”, diz Gloria. No plural. Homens. Gloria. Sozinha. “Eu não conseguia pensar nisso. Não conseguia dormir. Eu não podia fazer minhas atividades normais. Eu não conseguia dormir, comer. Eu não poderia estar com as pessoas que amo porque estava pensando naquele momento”.
Embora não existam dados exatos sobre a quantidade de atos de violência sexual no país, de acordo com o registro da Medicina Legal Hondurenha, as queixas nos últimos 10 anos mais do que dobraram: em 2008 havia 1.241 casos de estupro de mulheres, enquanto em 2017 foram 2.761.
Essas estatísticas de violência sexual contra mulheres em Honduras ocorrem em um contexto em que não existe um protocolo abrangente de atendimento a sobreviventes de violência sexual e a pílula anticoncepcional de emergência é proibida há 10 anos.
Honduras também é um país com altas taxas de feminicídios. De acordo com o Observatório de Direitos Humanos da Mulher, um total de 4.742 mulheres e meninas morreram violentamente nos últimos 10 anos em Honduras, principalmente mulheres entre 20 e 29 anos. No Comissariado Nacional dos Direitos Humanos em Honduras (CONADEH), apenas em 2018, foram recebidas 2.200 queixas de mulheres sobreviventes de violência doméstica que, na maioria das vezes, vão a essa instância porque não receberam uma resposta das outras autoridades.
Segundo um relatório do Centro de Estudos da Mulher, apenas 10% das sobreviventes de estupro denunciam. Quem não denuncia é porque “a mesma sociedade por meio de suas instituições reforça e reproduz a ideia de que a vítima é responsável pelo que acontece com ela, gerando estigma e culpa”, afirma o relatório.
Não existe um protocolo de atendimento abrangente para casos de violência sexual no sistema de saúde pública. Gloria estaria sozinha se não fosse pelos serviços de assistência abrangente que MSF oferece em Tegucigalpa.
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