Paciente sírio recebe tratamento cirúrgico na Jordânia

Meu nome é Omar Al Balkhu, tenho 29 anos, e sou sírio. Fui ferido na guerra, devido a um bombardeio em Daraa. Por sete dias, recebi tratamento na Síria, em um hospital onde faltam instrumentos cirúrgicos. Consequentemente, fui transferido, depois de um pedido do médico, para a Jordânia.

Durante cinco meses, recebi tratamento no projeto cirúrgico de trauma de guerra que MSF mantém no hospital de Al Ramtha. Fui submetido a múltiplas cirurgias, além das sessões de saúde mental e de fisioterapia. Fui liberado do hospital depois de algum tempo para voltar para casa.

Moro em uma casa alugada com minha família no norte da Jordânia.

Minha rotina diária começa com o café da manhã, um pouco de exercícios físicos e segue com a socialização com minha família e com os amigos que moram por perto.

Depois de um longo período de tratamento no hospital, fui para casa. Lembro de momentos bons e outros nem tanto, como os que eu sentia como se ainda não tivesse perdido minhas pernas. Os bons momentos foram a primeira vez que saí, andei e pude depender unicamente de mim mesmo, coisa que não fazia há sete ou oito meses.

Não resta dúvidas de que houve impacto em meu estado psicológico, principalmente antes do ferimento, quando eu era autossuficiente no que se refere às tarefas domésticas. Eu conseguia até ajudar aos outros com suas necessidades. Depois de ferido, descobri que, às vezes, eu é que preciso de ajuda das pessoas, e isso definitivamente me afetou.

Geralmente, quando estou triste ou um pouco deprimido, tento escrever poesia. Antes da crise na Síria, eu costumava escrever sobre a amizade e o amor. Hoje em dia, escrevo apenas sobre a guerra.

Quando pude utilizar minha prótese e caminhar, decidi visitar diversos hospitais onde havia pessoas como eu: eles tinham ferimentos como os meus e amputações como as minhas. Muitos tinham medo. Encontrei pessoas que chegavam a não sair de seus quartos, pessoas que não se mexiam, que não aceitavam o que as tinha acontecido. Então, quando viam que eu tinha o mesmo ferimento e estava caminhando, a conduta delas mudava completamente. Começavam a sair e se movimentar, passavam a comer, beber e, vez por outra, sorrir. Elas estão aceitando melhor a necessidade de serem tratadas

Antes de ser ferido, e em nível pessoal, eu tinha grandes ambições. Mas, atualmente, sinto que há muita ênfase na questão da prótese. Preciso tentar conseguir um novo par de próteses, porque as que tenho estão em más condições.

Quando voltar para a Síria, espero encontrar trabalho, ter projetos pessoas possíveis de serem implementados ali, considerando meu ferimento.

Quatro anos depois, ainda é difícil ter esperanças de que haverá uma solução para a Síria.

A crise na Síria é de longo prazo por uma razão: é uma crise da consciência global. Não é a crise da Síria, porque, de forma geral, em todo mundo, há a Convenção de Direitos Humanos, mas não há direitos humanos. Enquanto houver uma convenção mas não houver direitos humanos, a crise vai ser difícil e vai continuar.

Omar Al Balkhi é um dos pacientes sírios feridos que recebeu tratamento no projeto de trauma cirúrgico de guerra de MSF no hospital de Al Ramtha. Desde sua inauguração em setembro de 2013, MSF ofereceu sessões de saúde mental a 1.764 feridos de guerra.