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Mónica Costeira, pediatra portuguesa, está a trabalhar no projeto da MSF em Mazar-i-Sharif, na província de Balkh, no Afeganistão, desde setembro de 2023. Escreveu-nos este relato sobre os desafios que as novas mães enfrentam nos hospitais, devido a um sistema de saúde com falta de profissionais e financiamento
“Quando parti de Portugal no fim de setembro para trabalhar como pediatra no mais recente projeto da Médicos Sem Fronteiras (MSF) no Afeganistão, estava preocupada com as condições no terreno e questionava-me como seria a vida neste país montanhoso no Coração da Ásia. Já havia testemunhado em primeira mão o impacto transformador das atividades da MSF, quando trabalhei no Sudão do Sul e no Iémen. As histórias e experiências que esperavam por mim no Afeganistão reacenderam uma paixão no meu coração, lembrando-me da profunda alegria e do propósito que encontrei como pediatra na MSF.
No Hospital Regional Mazar-i-Sharif, situado na província de Balkh, no Norte do Afeganistão, testemunhei a incrível força e resiliência das famílias e crianças que passam pelas nossas portas. Uma das histórias que mais me marcou foi a de Shekiba*, com 22 anos, e da filha, Atoosa*.
Shekiba, uma mãe orgulhosa oriunda do distrito de Chimtal – que fica a uma hora de carro de Mazar-i-Sharif – embarcou numa difícil jornada quando deu à luz uma bebé prematura com apenas 28 semanas na maternidade do Mazar-i-Sharif, gerido pelo Ministério de Saúde Pública. A chegada de Atoosa, a sua filha preciosa com apenas 1,2 quilos marcou o início de uma longa e árdua batalha de sobrevivência. Devido ao peso diminuto da bebé, teve de ser encaminhada para internamento na Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais, que a MSF apoia no hospital.
Os recém-nascidos prematuros têm de passar por longos períodos de internamento, que podem ser extremamente duros para as famílias. Como o Mazar-i-Sharif é um hospital regional, recebemos bebés prematuros e doentes de vários distritos e cidades do Norte do Afeganistão. Há imensas mães que passam semanas sozinhas com os bebés no hospital, longe de casa e das famílias. Internamos bebés que nasceram dentro da maternidade do Mazar-i-Sharif, bem como aqueles que nos são encaminhados de outras instalações de saúde das províncias do Norte do Afeganistão.
Aquilo que me atraiu à Shekiba foi que ela estava entre as primeiras mães cujo bebé foi internado na UCI neonatal e passava imenso tempo no hospital, o que nos deu uma abertura para criar laços. Durante mais de dois meses, a Shekiba passou quase todos os momentos acordada a olhar para a filha. A aflição de ver uma criança nossa em suporte de vida, sem certezas de sobrevivência, pode ser um peso enorme: Shekiba sentia-se, por vezes, desesperançada e não conseguia conter as lágrimas. Nesses momentos de desespero, as mães, enfermeiras e médicos davam-lhe apoio emocional.
Com a ajuda de um tradutor médico que me apoia no trabalho, tentava falar com a Shekiba durante as minhas pausas e tive a oportunidade de conhecê-la melhor. Falou-me das alegrias da vida dela, mas também das lutas que teve de enfrentar, e como foi crescer numa casa com nove irmãos em Chimtal. Foi também em Chimtal que ela conheceu o marido e decidiu começar uma família. Formámos um laço que se fortaleceu à medida que ela ficou no hospital. Perguntava-me quando é que a filha seria dispensada da incubadora que partilhava com outro bebé há semanas, mas quase nunca tinha a notícia que ela queria ouvir.
A UCI neonatal é uma área dedicada com equipamentos médicos especializados e uma equipa treinada para prestar cuidados a bebés muito doentes e prematuros. Os cuidados prestados são adaptados às necessidades únicas dos recém-nascidos, incluindo cuidados específicos para cada bebé prematuro, com baixo peso, problemas neonatais ou anormalidades congénitas.
Esta ala do hospital tem tratado consistentemente pacientes acima da capacidade máxima desde que reabriu as portas no primeiro dia de outubro de 2023, após alguns trabalhos para melhorar as condições da instalação. Hoje, temos aqui mais de 60 crianças, mas só temos espaço para 27. Por causa disso, há muitos bebés que acabam por ter de partilhar camas. Não é uma situação ideal, mas é o que enfrentamos às vezes nestes contextos onde as necessidades são excecionalmente altas. Em Mazar-i-Shariff, internamos cerca de 540 bebés na UCI neonatal por mês.
Shekiba não conseguiu mesmo esconder a alegria no dia em que lhe dei a notícia de que a bebé dela estava suficientemente estável para ser transferida da UCI para a ala de prematuros. Isto foi depois de ficar um mês na UCI neonatal. Pegou no telefone para fazer uma chamada. A voz no outro lado da linha era do marido dela, disse-me o tradutor. “Vamos deixar o hospital em breve!”, anunciou Shekiba.
Ela contou-me que nos momentos de tristeza, segura a filha ao colo e sente-se logo melhor. Encontra uma grande força no amor que tem pela filha e na esperança de um futuro cheio de momentos preciosos e lembranças queridas: “Mal posso esperar por pentear o cabelo dela, fazer-lhe longas tranças, levá-la para a escola e ficar a falar durante horas.”
A força de Shakiba aumentou progressivamente à medida que passava mais tempo no hospital e até lhe sobrava alguma para fornecer apoio e consolo a outras mães que enfrentavam desafios semelhantes, incutindo nelas esperança.
Depois de viver dois meses por entre as paredes desta instalação, Shekiba deixa hoje o hospital para ir para casa. A bebé Atoosa já pesa 2,0 quilos e foi-lhe dada alta. Nós derramámos algumas lágrimas. Mandamo-la para casa, na esperança de não vê-la no hospital em breve, exceto em consultas de rotina para bebés.
A prematuridade é uma das principais causas de morbidade e mortalidade em recém-nascidos no Afeganistão, como em outros países de baixo rendimento. Sou constantemente lembrada da importância crítica de cuidados médicos abrangentes para recém-nascidos prematuros. Estas crianças em situação de vulnerabilidade requerem uma atenção meticulosa e tratamento especializado, o que torna o nosso trabalho em Mazar-i-Sharif crucial para salvar vidas.
O trabalho que fazemos neste hospital não é apenas um dever; está envolvido em compaixão e dedicação. É um compromisso de fornecer o melhor atendimento possível para cada criança, independentemente das circunstâncias ou da origem dela.
É um privilégio testemunhar a determinação das pessoas em prosperar, apesar das probabilidades contra elas. A resiliência dessas crianças e das famílias no meio da turbulência é um marco do espírito humano inquebrável.”
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