Atividades da MSF sob ameaça após incidentes de segurança em Port au Prince

Um paciente descansa numa enfermaria do hospital da Médicos Sem Fronteiras em Tabarre. Port au Prince, Haiti, novembro de 2022.
© MSF/Alexandre Marcou

Os incidentes recentes que envolveram as equipas e atividades da Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Port au Prince, bem como as ameaças graves que circulam nas redes sociais, estão a comprometer a segurança dos profissionais da organização médico-humanitária, os pacientes tratados nas instalações da MSF e a capacidade de serem providenciados cuidados no Haiti.

Na noite de 23 de fevereiro, pessoas armadas e encapuzadas tentaram invadir o hospital da Médicos Sem Fronteiras em Tabarre. “Pessoas não identificadas apontaram armas à equipa e bateram com força na porta antes de tentarem trepar a parede para entrar no complexo hospitalar”, refere o coordenador da MSF no Haiti, Mahaman Bachard Iro, o qual acrescenta que depois estas pessoas partiram do localy. “Pedimos a todas as partes que respeitem as nossas atividades médicas, mesmo que a MSF seja uma das útimas organizações internacionais que ainda providencia cuidados na capital do Haiti.”

Antes daquele incidente, na manhã de 22 de fevereiro, as entradas e saídas do centro de emergências da MSF em Turgeau foram bloqueadas e uma ambulância revistada. Recusando-se a largar as armas, a polícia depois entrou nas instalações para verificar a identidade de todos pacientes registados.

Há algumas semanas, a 7 de fevereiro, ocorreu um outro incidente quando uma ambulância claramente identificada como sendo da MSF foi parada e revistada. Foram apontadas armas aos passageiros do veículo para verificar as identidades deles, ficando a ambulância parada mais de 45 minutos antes de ser autorizada a prosseguir.

Além disso, ocorreram dois incidentes de confrontos violentos entre grupos armados desde o início do ano a apenas alguns metros do hospital em Cité Soleil, o que resultou no fecho temporário das consultas e na retirada temporária de parte da equipa. Perante estes confrontos repetidos e perturbadores, e o facto de a linha da frente entre os grupos armados estar a ficar próxima do hospital, a MSF teme não ter já capacidade de trabalhar em segurança para providenciar cuidados médicos à população.

“Está a ficar cada vez mais difícil trabalhar nestas condições e a recorrência com que estes incidentes acontecem põe em risco a segurança da equipa médica e dos pacientes”, frisa Mahaman Bachard Iro. “Estes obstáculos constantes que se colocam às nossas equipas a deslocarem-se em Port au Prince para transferir pacientes de um hospital para o outro, estas intrusões violentas nas nossas instalações médicas e o fogo-cruzado à porta das nossas estruturas de saúde ameaçam gravemente a continuação das nossas atividades”.

É importante lembrar que a MSF encerrou temporariamente o hospital de Drouillard em abril de 2022, fechou permanentemente as portas do centro de emergências em Martissant em junho de 2021 e suspendeu o apoio prestado ao hospital de Raoul Pierre Louis em Carrefour, em janeiro de 2023, por razões de segurança.

As equipas da MSF têm vindo a trabalhar no Haiti durante 30 anos, tratando de forma imparcial todos os pacientes com necessidade de cuidados. Instamos todas as partes a respeitar as nossas atividades médicas, incluindo pacientes, pessoas cuidadoras, hospitais e as ambulâncias que transportam estas pessoas. Neste contexto difícil, todo o sistema de saúde no Haiti está à beira do colapso, dado que muitas infraestruturas de saúde já não podem funcionar adequadamente. A MSF reitera o seu compromisso para com as pessoas no Haiti, as primeiras vítimas da violência que dilacera o país há anos.

Em 2022, as equipas da MSF, em colaboração com o Ministério da Saúde, fizeram mais de 4 600 cirurgias, prestaram 34 200 consultas de urgência, trataram 2 600 casos de ferimentos por armas de fogo, 370 vítimas de queimaduras e levaram a cabo 17 800 consultas em clínicas móveis, providenciaram apoio a 2 300 sobreviventes de violência sexual e assistência em 700 partos. Desde o aparecimento do primeiro caso de cólera no fim de setembro de 2022 que as nossas equipas trataram mais de 19 000 pessoas.

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