Burkina Faso: prestando cuidados de saúde em uma região devastada pela violência

Mais de 100 mil deslocados internos vivem em aldeias na região Norte do país, onde o acesso a cuidados básicos é extremamente limitado

Burkina Faso: prestando cuidados de saúde em uma região devastada pela violência Burkina Faso: prestando cuidados de saúde em uma região devastada pela violência

“Não temos mais nada desde que fugimos do conflito. Não temos nem dinheiro para pagar o tratamento”, diz Zallé Ramata, uma deslocada que vive na aldeia de Sirfou. Neste dia, Zallé trouxe dois filhos para receber assistência médica gratuita de Médicos Sem Fronteiras (MSF), cujas equipes têm visitado regularmente esta aldeia desde janeiro de 2021.“Eles não estavam se sentindo bem. Passaram a noite passada vomitando até de manhã”, diz ela.

As clínicas móveis foram implantadas como um complemento aos serviços médicos de MSF na cidade de Titao, para fornecer assistência médica gratuita em uma área onde milhares de deslocados se estabeleceram, fugindo de um ciclo de violência que durante anos opôs grupos armados contra os militares, bem como confrontos entre comunidades.

Dos 23 centros de saúde do distrito de Titao, 15 não estão operando em plena capacidade e outros três estão fechados devido ao conflito. Isso se soma à dificuldade de locomoção devido às longas distâncias, à insegurança e à falta de meios de transporte, tornando quase impossível o acesso a serviços básicos de saúde no distrito de Titao. Equipes móveis de MSF visitam regularmente Sirfou e as aldeias vizinhas de Todiame, Rounga e Ouindigui.

“Essas aldeias estão localizadas a vários quilômetros do posto de saúde mais próximo. Em Sirfou, por exemplo, onde estamos hoje, o posto de saúde mais próximo fica a sete quilômetros de distância. A maioria dos deslocados não tem meio de transporte nem dinheiro para chegar lá”, diz Monique Diarra, enfermeira de MSF.
“Nosso principal objetivo é fornecer serviços de saúde para os deslocados e comunidades locais que não têm acesso a eles e já sofreram muito com a violência generalizada.” Toda semana, uma equipe de MSF de cinco pessoas viaja várias dezenas de quilômetros para chegar a essas aldeias, geralmente em estradas muito precárias. A viagem é relativamente mais fácil na estação seca, mas torna-se mais longa e mais difícil quando chove. A insegurança crônica na região aumenta as dificuldades dos deslocamentos; levou meses para que as condições permitissem que as equipes de MSF deixassem a cidade de Titao e chegassem às aldeias da periferia.

“Oferecemos serviços de saúde primária, que incluem tratamento para doenças comuns, como malária, diarreia e infecções respiratórias. Recentemente, passamos a oferecer tratamento para doenças crônicas e apoio à saúde mental”, diz Diarra. Entre janeiro e março de 2021, MSF ofereceu mais de 1.600 consultas médicas para comunidades locais e deslocadas em uma área onde vivem cerca de 15 mil pessoas.
No final de 2020, muitos deslocados que se estabeleceram em Titao decidiram regressar à sua área de origem, mas os centros de saúde locais ainda estão fechados.

Com a chuva e o pico da temporada da malária se aproximando, as equipes de MSF estão preocupadas com o provável aumento das necessidades dessas pessoas em uma área remota com poucos serviços disponíveis. O risco de malária é maior porque os mosquitos se reproduzem na água parada.
 
“Nossa base de trabalho médico em Titao é uma solução de curto prazo que iniciamos este ano para atender às necessidades das pessoas que foram recentemente deslocadas”, disse o dr. Diallo Alpha Amadou, coordenador médico de MSF em Burkina Faso. As equipes de MSF também apoiam cinco unidades de saúde no distrito de Titao para ajudá-las a recuperar sua capacidade total de trabalho, como uma solução de longo prazo. “Quando esses centros de saúde estiverem prontos para admitir pacientes novamente, moveremos nossas clínicas móveis para outras aldeias”, disse o dr. Alpha. As equipes médicas de MSF também apoiam as autoridades de saúde locais com campanhas de vacinação em massa contra doenças comuns entre a população deslocada.

As equipes logísticas de MSF reabilitam poços antigos ou constroem novos para ampliar o acesso à água potável. Com as ondas de deslocamentos, as más condições de vida dos deslocados e a falta de água potável, doenças podem facilmente se propagar.

“Recebemos muitos pacientes que sofrem de doenças que contraíram ao beber água suja ou poluída. Em muitas áreas da região Norte, assim como em outras áreas do país onde os deslocados se estabeleceram, o acesso à água potável continua sendo um desafio para milhares de pessoas. A falta de pontos de acesso à água e sua má qualidade são as razões por trás de diferentes infecções parasitárias e outras doenças transmitidas pela água, como cólera e diarreia”, disse o dr. Alpha.

 

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