Caxemira: Violência e saúde mental

Pesquisa realizada por Médicos Sem Fronteiras indica urgência de atendimento psicossocial na parte indiana da região

Durante a última década, a população da Caxemira indiana se tornou vítima e testemunha da violência, o que teve graves conseqüências

Invasões, buscas, capturas, destruição de propriedades e incêndio de casas criaram uma atmosfera de insegurança. Humilhações, ameaças, abusos físicos e psicológicos contribuíram para um profundo sentimento de falta de segurança entre a população da Caxemira indiana. Muitas pessoas perderam familiares como resultado da violência.

Esses são algumas das descobertas resultante de uma pesquisa quantitativa realizada por Médicos Sem Fronteiras (MSF) para examinar o impacto da violência na saúde psicossocial e física geral da população da Caxemira.

Violência (ou a ameaça física ou de violência sexual) parece ter um maior impacto na saúde psicológica da população. Isso leva à ansiedade, medo, exaustão e pensamentos suicidas.

Os problemas de saúde mental na Caxemira devem ser abordados urgentemente. Nos locais nos quais MSF está trabalhando, suas equipes oferecem assistência de saúde mental. No entanto, no resto da Caxemira não há unidades que ofereçam esse tipo de ajuda. MSF faz um apelo às autoridades para que priorizem a oferta de assistência de cuidados mentais em toda a região da Caxemira.

Conclusão do estudo

Os acontecimentos relacionados ao conflito atual provocaram muito sofrimento entre a população da Caxemira. Houve tempos que a Caxemira era chamada de 'Paraíso na Terra' – nosso estudo indicou claramente que para vários moradores a região se tornou um pesadelo devido à constante tensão em que vivem.

O impacto na saúde física e mental e no funcionamento da estrutura socioeconômica é alarmante. Nosso dados mostram um nível de desespero e falta de perspectiva de futuro que prejudica o bem-estar a longo prazo de muitas pessoas (ou algo pior, uma vez que muitos que participaram do estudo revelaram ter intenções suicidas). As atividades educacionais e econômicas sofreram. Apesar da detente política, violações dos direitos humanos e infrações de direitos civis por todas as partes em conflito continuam.

A trégua das hostilidades, com uma redução do medo e intimidação vão resultar em uma melhora imediata da condição física da população. No entanto, os efeitos do conflito nem sempre têm fim quando o acordo de paz é assinado. Muitas pessoas vão precisar de apoio para reduzir sua dependência de ajuda. Usando uma ferramenta válida de triagem, nós observamos que um grande número de pessoas sofrem de sério estresse psicológico. Mecanismos de sobrevivência físicos e mentais estão exauridos e o sistema de saúde precisa de uma ajuda extra.

A grande necessidade de apoio psicológico e psiquiátrico que identificamos em nossa pesquisa pode ser atendida apenas através de um forte sistema comunitário baseado em saúde mental. Esse tipo de serviço é defendido na Polícia de Saúde Mental da Índia, mas na comunidade da Caxemira, serviços comunitários psicossociais estão em falta e serviços psiquiátricos fora de Srinagar continuam inexistentes.

A falha do Ministério de Saúde em implementar sua própria política de saúde mental na Caxemira e em muitas outras partes da Índia contribuem para o aumento desnecessário do sofrimento. Devido à falta de serviços e/ou medicamentos, pessoas gravemente perturbadas ou doentes precisam viajar por longas distâncias em busca de assistência. O hospital psiquiátrico em Srinagar oferece cuidados básicos e o número de pacientes está aumentando. Outros sofrem em silêncio.

MSF pede às autoridades que implemente suas próprias políticas. Apoio psicossocial (incluindo aconselhamento) nos vilarejos é necessário, com assistência psiquiátrica básica, incluindo medicamentos nos posto de saúde. MSF pede que as autoridades de saúde dêem prioridade máxima à região da Caxemira.

Os resultados de nossa pesquisa mostram uma grave situação mental que provavelmente pode piorar devido ao recente terremoto que devastou alguns distritos da Caxemira. Deve ser dada maior atenção à saúde mental das pessoas.

Partilhar